ANALIZ - CINQUENTA

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Suspirei lentamente, tentando absorver toda a situação. Era muita informação em um curto espaço de tempo. Eu não sabia se ficava mais surpresa com o fato de Kayo saber sobre o paradeiro da filha do seu Gustavo e da Daniela ou se ficava perplexa com ela me pedindo ajuda.

Até porque, com a queixa que abri contra Daniela, ela não deveria nunca aparecer por aqui.

Observei Kayo, que mantinha as mãos enfiadas nos bolsos da calça, os olhos fixos em um ponto no chão. A tensão no ambiente era palpável, mas ele parecia estranhamente calmo, uma calma que me incomodava profundamente.

- Kayo? - chamei-o suavemente, tentando não quebrar o frágil equilíbrio do momento.

Devagar, ele ergueu os olhos e me encarou com uma intensidade que quase me fez recuar. Naquele instante, percebi que, independentemente do que fosse ou do quanto ele quisesse, ele não diria nada.

- Você sabe da filha dela? - perguntei, minha voz saindo mais trêmula do que eu esperava.

Ele assentiu silenciosamente.

- Pode falar para ela onde a filha está?

Seus olhos se encheram de pesar, um olhar tão profundo que me fez sentir um arrepio na espinha. Ele suspirou levemente e balançou a cabeça, negando sem emitir som algum.

Fiquei o observando por um tempo, tentando entender o que via em seus olhos. Havia algo ali, algo que me causava um leve incômodo, um frio que percorria meu corpo. Parecia que ele queria falar, mas a luta interna era para não revelar a verdade. Isso apenas aumentava minha curiosidade.

- Pode me dizer o porquê? - insisti, agora mais determinada a entender.

Ele trocou o peso das pernas, suspirando novamente antes de responder.

- Prometemos que somente Gustavo diria.

Franzi o cenho, confusa.

- Prometemos? Não é você o único que sabe?

Ele negou com a cabeça.

- Há mais pessoas sabendo?

Assentiu.

- Poppy, Agatha, Aaron e Guilherme - revelou, com a voz quase em um sussurro.

Respirei fundo, tentando processar a informação. Se eles, que eram mais próximos, não haviam revelado, não seria Kayo a fazê-lo.

Suspirei novamente, compreendendo a gravidade da situação, e me virei para Daniela.

- Sinto muito, não há muito o que eu possa fazer - disse, com um tom de voz firme.

- Como não? Insista, você nem insistiu! - Sua voz começou a se elevar, cheia de frustração.

Maneei a cabeça para os lados, tentando manter a calma.

- Ele não vai falar.

- Ameaça ele, deixa de ser frouxa, Gonzalez! - A encarei, começando a ficar com uma expressão dura.

- Eu não vou insistir, muito menos ameaçar. Ele não vai falar, e não há nada que eu possa fazer em relação a isso. Lamento, senhora, agora por favor saia da minha casa.

Daniela me olhou incrédula, sua expressão se tornando furiosa.

- Você não vale nada! - começou, sua voz cheia de veneno. - Merece toda desgraça que vier a acontecer.

Deu dois passos até mim, seu rosto a poucos centímetros do meu.

- Vá pro inferno.

E então, sem dizer mais nada, saiu batendo a porta.

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