ANALIZ - VINTE E DOIS

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Confesso que o grito estridente de Karla quase me deixou surda.

Não sabia do porque de tanta histeria da parte dela. Afinal era só um jantar certo?

Mas enquanto eu contava sobre o convite do meu patrão, ela ia se animando igual torcida de futebol quando o jogador do time se aproxima com a bola do gol.

Ela ficou eufórica, cogitou diversas possibilidades mas eu ignorei todas, nada me tirava da cabeça que esse jantar era só um pretesto para saber mais sobre a minha vida.

- Eu vou pegar o vestido mais bonito que eu tiver no meu guarda roupa para que você possa usar. - Falou pulando na minha cama

Revirei os olhos.

- Besteira Karla! - Falei sem nenhum interesse nisso enquanto colocava meus brincos no lóbulo da minha orelha.

- Besteira? - Parou de pular e se sentou na cama.- Você vai sair com Kayo Brown, o cara mais gato que já conheci.

- Você diz isso de todos. - Peguei meu perfume.

- Não alto lá, o Kayo Brown é exceção, aquele homem sim supera qualquer um dos que já conheci. - Suspirou apaixonada.- Você vai linda, vou te emprestar o meu melhor vestido, MELHOR. - Gritou me assustando.- Eu te dou o tecido e você usa seus dotes com a costura. - Bateu palmas alegres.- Que tal rosa? Não melhor, azul? Não melhor...

Não pude deixar de me recordar dos tempos que costurava, costurei pelos meus dois primeiros anos na faculdade, e foi assim que paguei inúmeros gastos dela e até mesmo os gastos meu e da Jhoane.

Minha primeira peça foi uma blusinha, dei pra Karla e ela fez toda a propaganda pelos corredores da escola, quando dei por mim já tinha inúmeras encomendas, Karla sempre foi uma ótima marketeira, acabei parando por falta de tempo, ou era a faculdade ou era as coisas em casa e o maldito bar do Aroldo.

Me virei encarando a minha amiga enquanto ela tagarelava e eu sorri, eu devia muito a Karla, nunca fui boa com amigos, quando ela pediu, pediu não, implorou que eu a colocasse no trabalho e pediu ajuda com as notas, de primeiro eu fiquei reclusa em aceitar.

Karla não tinha uma boa reputação na faculdade, ela era oque se chamava de "encrenca de aluna", por isso pensei muito em a aceitar no trabalho.

Pelos dois primeiros anos da faculdade, os meninos a chamava de "boca de mel", e prefiro nem explicar a origem desse apelido, e esse foi um dos muitos que ela recebeu, Karla foi muito humilhada, em casa não era flores também.

Karla vivia com o pai, sua mãe a abandonou quando tinha dez anos, e viver com o pai não foi um mar de rosa, antes dele a expulsar definitivamente, já tinha a expulsado antes umas três vezes, a primeira vez que a pós para fora ela tinha apenas doze, e foi na rua que ela conheceu outros tipos de coisa.

Com quinze Karla se prostituiu pela primeira vez, a parti dai ela não parou mais, da rua foi para uma casa noturna, ou oque se chama de cabaré, e fez isso por muito tempo mesmo depois de ter voltado para a casa do pai.

Não parou quando entrou na faculdade, mas não era da forma que ela fazia quando estava na rua, segundo palavras dela, ela só fazia o básico com os meninos, e nisso ela acabou conheceu as drogas, me lembro como hoje quando toda a faculdade ficou sabendo da sua overdose, a primeira e graças a Deus a última.

Karla quase morreu, fui a visitar no hospital mesmo só a conhecendo por um primeiro trabalho, eu sentia que precisava fazer isso e longe de mim a julgar pelo oque ela fazia, e nisso não levou muito tempo pra ela desabar e dizer que queria parar, a incentivei e fiz oque pude para a ajudar a parar, desde então nos tornamos amigas e depois disso não nos separamos mais.

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