GUSTAVO - TRINTA E DOIS

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Eu nunca poderia esquecer o primeiro choro da Aurora, o quanto foi grandioso para mim, não só porque era minha filha, mas porque foi gerada por ela, pela mulher que amei tanto.

Segurar ela me fez voltar a anos atrás quando segurei Alysson pela primeira vez, a sensação sempre variava, eu me tornava um pai novo cada vez que uma delas nascia, me tornei um novo pai com a Mirela, com a Kristini e com a Aurora.

Sempre fui um pai solícito e presente, sempre tentei estar com as duas, e quando a Aurora sumiu tudo mudou.

A Daniella mudou, minha casa mudou, tudo mudou.

Eu vi minha esposa reviver esse luto dia após dia, eu lhe dei com isso dia após dia, eu estive com todos que precisou viver esse luto, mas esqueci do meu.

Demorei demais para reconhecer meu luto, para o finalmente viver, e quando me dei conta já era tarde demais.

O meu casamento havia virado um nada, a Daniella se afundou num abismo escuro e parece que nunca iria sair de lá.

Eu tive que ser pai e mãe das meninas durante esses vinte e um anos. Fiz todo o papel, estive lá quando Allyson e Belinha foram embora, quando Mirela e Kristini formou, quando Caitlin saiu da faculdade e se tornou professora, eu estive lá, mas a Daniella não.

Há anos não nós tocávamos, a anos deixamos de ser marido e mulher, por mais que o divórcio me deixasse dores, foi o melhor.

Eu já estava ciente e certo de aceitar o fim do meu casamento, e pior que isso era aceitar que minha filha não voltaria nunca mais.

Pelo menos era o que eu achava.

Quando vi a Analiz pela primeira vez, senti algo que não dava para explicar. A sensação de a conhecer, de se familiarizar com ela, de a querer proteger, eu não entendia.

Daniella sustentou tanto a história de que éramos amantes que por um breve tempo eu comecei a pensar que nutria sentimentos de homem por ela, mas a verdade era que não era isso, a verdade é que era só meu coração de pai querendo cuidar dela.

A dor no peito era intensa, era árdua, queimava e palpitava, mas isso não passava nem perto do tamanho da emoção que eu sentia em saber que a minha filha estava viva, que ela estava ali, e morava do outro lado do corredor.

- Droga Agatha! Eu odeio sua teimosia. - Guilherme resmungou se aproximando e começando a desabotoar a minha camisa.

- Não vem não Guilherme - Ela disse correndo pela casa.

Provavelmente atrás dos instrumentais.

- Eu avisei que não aguentava mais esse peso.

- Não era o peso que estava em jogo Agatha, era a vida do Gustavo.- Guilherme resmungou checando meus pulsos.

Como se a discussão dos dois não bastasse, um furacão chamado Poppy abriu a porta com força adentrando minha casa.

- Fala pra mim que...- Ela parou quando se deu conta que eu estava no sofá ofegante e Guilherme já começa os primeiros socorros. - Agatha eu não acredito que você fez isso. - Jogou sua bolsa no chão fechando a porta e correu até Guilherme o ajudando.

E como se isso não bastasse eles começaram uma discussão generalizada, enquanto Poppy e Guilherme repreendia Agatha, ela revidava batendo de frente com os dois.

Parece errado dizer, mas eu definitivamente não estava nem um pouco preocupado para o bate boca deles, eu só conseguia pensar no quanto Deus era maravilhoso.

Aurora estava viva, e ela era linda, doce, terna, humilde, batalhadora e com muita força, minha filha era uma mulher incrível.

Mas quando me dei conta, estava começando a perde os sentidos, pois quanto mais feliz ficava, mais dor sentia.

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