ANALIZ - CINQUENTA E DOIS

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- Aqui! - Agatha me estendeu a touca e a máscara. - Coloque também.

Assenti enquanto ela amarrava as cordas do avental. Eu me ajustei com a touca e a máscara, tentando absorver cada segundo do que estava prestes a acontecer.

- Tudo bem! - disse Agatha, após garantir que eu estava devidamente equipada. - Tente não deixar ele falar muito, tá bom? E diga a ele para não se agitar.

- Irei dizer! - Respirei fundo, a tensão evidente na minha voz.

- Vai lá. - Ela me deu um sorriso encorajador, e eu me afastei da sala.

Cada passo pelo corredor silencioso do hospital parecia pesar mais, amplificando o medo que me consumia. O avental verde, a máscara e a touca eram uma lembrança constante da gravidade da situação que me envolvia.

Finalmente, alcancei a entrada do quarto reservado exclusivamente para Gustavo. A enfermeira, com um olhar compreensivo, fez um gesto para que eu entrasse. O quarto era um refúgio de solidão e seriedade, com apenas Gustavo, um leito e uma série de equipamentos de monitoramento. O cheiro de antisséptico estava no ar, quase abafando a minha respiração.

Gustavo estava deitado na cama, com o rosto pálido e os olhos fechados, cercado por tubos e fios que pareciam conectá-lo a uma luta silenciosa pela vida. A visão dele assim, tão vulnerável, foi um golpe direto no meu coração. Eu me sentei ao lado da cama, tentando manter a calma, mas a dor era esmagadora.

Puxei uma cadeira e me aproximei da cama, segurando a mão de Gustavo com suavidade. A mão dele estava fria e leve, e eu me senti profundamente triste por ver alguém que sempre foi uma âncora em minha vida em uma situação tão crítica. As lágrimas estavam à beira dos meus olhos, e eu lutava para não deixá-las cair.

- Seu Gustavo - sussurrei, tentando manter a voz firme. - Eu estou aqui. Não importa o que aconteça, eu estou aqui com o senhor.

A mão dele, apesar de frágil, me trouxe um pouco de conforto. O toque era um lembrete do quanto ele significava para mim. A conexão que sentia com ele era profunda, quase como um vínculo de sangue, apesar de ele não ser meu pai.

- Eu não consigo acreditar que estamos aqui - continuei, minha voz tremendo. - Sempre te vi como um segundo pai. Você esteve ao meu lado quando eu mais precisei, e agora, eu só espero que você consiga superar isso.

Gustavo sempre foi um farol de sabedoria e gentileza para mim, e o ver em tal estado de fragilidade era como uma facada no peito. Eu me lembrava dos momentos em que ele me ajudou, do apoio incondicional que ele me deu. Agora, eu desejava desesperadamente poder retribuir de alguma forma, mas sentia-me impotente.

O monitor ao lado da cama continuava a emitir bipes regulares, uma sinfonia de esperança e desespero. Cada som parecia ecoar meus próprios sentimentos, e eu me agarrei à esperança de que ele pudesse ouvir minha voz, sentir a minha presença.

- Eu entubei o senhor - sussurrei, com um misto de orgulho e preocupação. - Fiz o que podia para te manter aqui. Por favor, não me deixe. Não me deixe lidar com a ideia de te perder.

O quarto estava imerso em um silêncio opressor, e eu me permiti chorar um pouco, enquanto mantinha a mão de Gustavo firmemente segurada. As lágrimas que eu tentava conter rolavam pelo meu rosto, misturando-se com a sensação de desespero e tristeza que me dominava.

Embora Gustavo não fosse meu pai biológico, a sensação de perda e a dor que sentia eram intensas. Ele era a figura paterna que eu sempre procurei, a pessoa que me ofereceu apoio e amor quando eu mais precisava. A ideia de que ele pudesse estar se despedindo era insuportável.

O tempo parecia se arrastar, cada segundo uma eternidade. Finalmente, Gustavo começou a se mover, seus olhos se abrindo lentamente. A visão dele despertando me trouxe um alívio imediato.

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