O jogo

3.2K 229 78
                                    

Os dois ficaram calados durante todo o caminho até o centro. Eram uns quinze minutos andando que pareceram horas. Estavam tensos. Em seu particular, cada um sabia o porquê.

"Vocês precisam convencer", a voz de Kakashi ecoava em suas mentes. Para convencer a todos de que estavam apaixonados, teriam que descartar toda a discrição que tinham tido até então, mesmo nas farsas. Teriam que ultrapassar alguns limites de intimidade e não demonstrar incômodo por isso. Para Sasuke, já era muito escandaloso e sugestivo Sakura entrar de madrugada no seu quarto e sair só à tarde, mas para Kakashi, não era o bastante.

Quando estavam a passos do aglomerado de tendas, as pessoas já os encaravam com espanto, Sakura não aguentou a ansiedade e perguntou:

— O que faremos? — apertou levemente seu braço.

Sasuke não teve uma resposta. Ele também não tinha pensado muito no que fazer. Chegar a um festival lotado, trajado e acompanhado, não era algo ao qual ele estava habituado a fazer, sequer sabia como demonstrar naturalidade só de pisar ali.

— Precisamos encontrar os outros — foi tudo o que conseguiu dizer para ajudá-la a continuar andando entre as pessoas, evitando olhar para qualquer um ou se demorar muito em algum lugar.

Para Sakura, estava óbvia a farsa que tinham construído. Sentia-se como um boneco de madeira andando de tão tensa. Embora não desse brecha, sentia cada vez mais olhares voltados para si. Um sentimento de ansiedade e de nudez tomava conta das batidas do seu coração, o que não passou despercebido para o seu acompanhante:

— Fica calma — chamou olhando-a nos olhos, acrescentando um singelo afago em sua bochecha. — Vamos procurar dango para você— e a puxou para um caminho alternativo entre as barracas que evitasse a alameda principal.

— Não sei como consegue ficar tão sereno com tanta gente descaradamente te encarando — dizia abaixando levemente para a cabeça e olhando para os lados com desconfiança. Tinha acabado de descobrir que Sasuke sabia dar carinho para um ser humano.

— As pessoas sempre estão olhando — respondeu buscando um ponto mais vazio da festa.

O comentário não soou de forma nenhuma prepotente, embora Sakura tenha se indignado no primeiro minuto. Pensando bem, era uma realidade para o Sasuke. As pessoas sempre o olhavam, em todas as idades, em todas as fases da vida, seja por ser um Uchiha, seja por ser talentoso, seja por ser um criminoso, seja por ser dono de uma beleza ímpar. Ele não sabia o que era ser despercebido.

— Com quem viria hoje? — Sasuke buscou distraí-la enquanto andavam pelas barracas. Já tinham encontrado o dango e Sakura já tinha comido.

— Pensei em chamar o Lee.

— Rock Lee? O do taijutsu? — Sasuke estranhou a resposta.

— Esse mesmo — afirmou rolando os olhos pelas tendas. — Lee sempre foi muito legal comigo. Esbarrei com ele esses dias no mercado. Decidi não chamá-lo porque ele estava com a Tenten. Acho que eles estão tendo alguma coisa, não sei.

— Ino me contou algo assim.

— Com certeza ela te contou — Sakura riu da previsibilidade da amiga fofoqueira, mas ainda parecia muito nervosa ao notar que cada centímetro deles estava sendo fixamente observado. — E essa roupa?

— O quê que tem?

— Onde arranjou algo assim de última hora? — perguntou interessada, não só pela beleza da yukata, mas por notar que um bordado trabalhado ornava a parte das costas com o orgulho leque do clã praticamente extinto. Não era algo que se comprava em qualquer lojinha do centro.

StrokesOnde histórias criam vida. Descubra agora