— Quem vai fazer o relatório? — Sakura perguntou aos dois, logo se arrependendo ao perceber que dali a mais apta para o trabalho seria a mesma – um era cego e o outro preguiçoso.
Acabavam de voltar do QG de Konoha, foram direto para lá assim que chegaram à vila. Ouviram discretos elogios por parte de Tsunade e Kakashi, que aproveitaram a presença dos três para designar mais missões.
A de Naruto, já seria dali três horas: montar guarda na divisa do País do Fogo enquanto trabalhadores realizavam um pequeno reparo de rotina nos portões. Ele teria um tempo curto para descansar da viagem e fazer suas coisas. Depois ele imaginou que pudesse ser até uma punição da Tsunade pelo valor alto da última hospedagem.
Sakura entrou em devaneios no caminho de casa que. Imaginava, com um sorriso torno no rosto, como o destino agraciou suas palavras de muitos anos antes. A menina que sempre andava a quatro passos atrás agora andava a quatro passos à frente deles, liderando missões, relatórios e até mesmo a carreira como kunoichi e médica. O mundo precisou dar muitas voltas, voltas demais para que isso acontecesse, mas aconteceu.
Assim que abriu a porta do apartamento, os três se espelharam cada qual para um canto: Naruto para a cozinha, Sakura para o banheiro e Sasuke ajeitou-se na sala, tirou a camisa e deixou em cima do colo. Estava exausto, precisava dormir, precisava de um banho gelado e se não fosse pedir muito, um chá.
— Guardamos pizza para você — Naruto entregou a pizza requentada para ele, depois voltou para buscar um suco. Sasuke não estava com fome. Experimentou a pizza por consideração, já que Naruto tinha se lembrado dele para guardar. — Não sei se vai estar tão gostoso quanto estava antes de ontem, mas é muito boa.
— Não coma — ouviram Sakura dizer. Nem notaram quando a garota saiu do banheiro, de roupão e com o cabelo molhado. — Já deve estar estragada, joguem fora. — Sasuke só pensou em como seu banho havia sido rápido. Mulheres costumavam demorar mais. Essa era uma das poucas coisas que ele sabia sobre mulheres pela convivência infernal que tinha tido com a Karin.
— Tá legal, doutora — Naruto tirou o prato das mãos do Sasuke e levou para a cozinha, cabisbaixo, porém agradecido por Sakura estar evitando uma intoxicação alimentar nos dois. — Vai voltar quando? — perguntou ao Naruto enquanto secava os cabelos rosados com a toalha. Notou os olhos de Sasuke sobre ela por alguns segundos, mas ele virou o rosto e ela o ignorou, como fazia a maior parte do tempo.
— Amanhã, eu acho. Quando eles terminarem os reparos lá. Depende dos pedreiros e marceneiros. Não tem como saber.
Sakura detestou a resposta. Isso significaria que Sasuke e ela passariam mais horas juntos do que o conveniente. Ela não sabia se conseguiria colaborar até o Naruto voltar. Provavelmente o moreno faria algo que a tiraria do sério.
Se ela pudesse, o destruía e o moldaria de novo. Com o mesmo rosto, o mesmo cabelo, o mesmo corpo e o olhar penetrante. Praticamente igual ao homem que já era. Mais em forma, com certeza. Na verdade, a solução não era reconstruí-lo, ele só estava incompleto. Ela gostaria de acrescentar ali um sorriso que raras vezes viu no rosto pálido, gostaria de pendurar o sorriso ali e deixá-lo vinte e quatro horas por dia no lugar das expressões inexpressivas e impassíveis que ele sustentava. Também o faria falar mais, se soltar mais e dormir mais. Não gostava dele com insônia.
Mesmo com todas essas mudanças, ainda o via incompleto, como se algo visivelmente faltasse para ele ser simplesmente alguém normal para ela, não um enigma. Depois pensou no que realmente lhe faltando: simpatia e empatia. Ele parecia não ter um coração, não se importar com ninguém, inclusive com ele mesmo. Isso era algo que o desumanizava e tirava Sakura, que era o extremo do emocional, dos eixos que a mantinham equilibrada e firme em relação às pessoas.
Todo mundo tem sentimentos, bons e ruins, todo mundo erra e se arrepende, não? Não. Sasuke não. A dinâmica dele era diferente de todas as relações que ela teve na vida, e isso a desafiava.
— Vai tomar banho, Naruto — Sakura cobrou assim que saiu dos devaneios sobre estar tantas horas sozinha com o Sasuke.
— Agora não— ele meio gemeu, meio resmungou, escancarado no sofá com preguiça e manha.
Ele nunca teve alguém para cobrá-lo essas coisas básicas como ir tomar banho, escovar os dentes, comer ou não se esquecer de levar um agasalho quando sair. Ele gostava da sensação e abusava disso quando podia com o humor da Sakura. Não entendia por que seus amigos que tiveram pais durante a infância e adolescência reclamavam disso. Ele adorava ser cuidado, principalmente por ela.
— Depois vai ficar fazendo as coisas correndo igual um louco — avisou.
— Não precisa ser tão maternal, me faz ter vontade de ficar aqui para sempre.
— Anda — jogou uma toalha limpa nele. — Você tem menos de três horas para se dar as caras na divisa.
Enquanto Naruto estava no banho, ela colocou uma roupa fresca e começou a fazer os serviços de casa. Percebeu as roupas de Sasuke contadas para uso em uma mala de mão no chão do quarto, a maior parte suja. Isso era preocupante, já que ele não sabia lavar roupas, sempre pagou as pessoas para fazer isso por ele.
Naruto também tinha percebido, e antes de ir embora, pediu em particular para Sakura acompanhar o amigo nessas compras. Ela não teve como recusar. Claro que ela relutou e bronqueou o amigo, mas no fim aceitou, chegara até confessar que tinha pensado nisso também, só não imaginava que iria sobrar para ela resolver.
Logo em seguida ele partiu, reforçando o pedido de colaboração aos dois. Depositou um beijo terno no topo da cabeça de Sakura e atravessou a porta. Depois disso, uma quietude incomum reinou. Tanto para Sasuke, quanto para Sakura, era como se não houvesse uma segunda pessoa na casa.
Ele ficava no quarto bagunçado folheando livros que lhe interessavam. A estante não estava montada ainda, tudo estava espalhado em pilhas no chão ou dentro de caixas. Sakura terminava de organizar seu guarda-roupa, os armários da cozinha e objetos de decoração da sala. Só pensava em como seria fácil colaborar caso Sasuke permanecesse daquele jeito, quase invisível.
— Hey — chamou-o encostada no batente da porta com duas xícaras na mão. Estendeu uma para ele e continuou a fitá-lo. — Algo te interessou aí? — ele negou com a cabeça. — Imaginei. A maioria dos livros são sobre medicina.
— Não enxergo as letras. Estou folhando pelas imagens — ela riu pelo nariz. Mal se lembrava desse pequeno detalhe. — O chá está gelado — comentou.
— Pensei que gostasse assim.
— Gosto — bebericou mais. Ela sorriu e lhe deu as costas dizendo:
— Largue isso aí. Vamos comprar suas coisas enquanto tem sol.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Strokes
FanfictionSasuke ficou três anos na cadeia cumprindo pena pelos crimes que cometeu enquanto era um foragido de Konoha. Ao sair em liberdade condicional, passa a morar o Naruto e a realizar trabalhos para a vila. Sakura detesta a ideia do Uchiha rebelde morand...