O refúgio

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País do Relâmpago

Terça-feira

Quando Aiko acordou, horas depois, já estava sendo carregada por uma densa floresta de freixos, pinheiros e arbustos silvestres.

Estava no colo dele, coberta por uma manta de pele de carneiro para protegê-la da temperatura quase negativa. À princípio, ela só pensou em como Sasuke a carregou nos braços como um príncipe dos contos que lia, exatamente como ela o via, mesmo que ele se encaixasse mais no perfil de uma antagonista muito ruim. Ela lembrou-se dos olhos carmesim e da sensação de perigo iminente antes de desmaiar. Mas ali em seus braços, ela só sentiu um estranho calor que não vinha do cobertor de carneiro.

Seu raptor não demorou a notá-la de olhos semi abertos, tentando disfarçar que estava desperta:

- Mostre o caminho - sem aviso, Sasuke a colocou no chão e jogou a manta para ela se agasalhar, pois suas roupas ainda estava molhadas da sessão de tortura que Sakura armou.

Ainda se equilibrando no chão, Aiko ponderou sobre isso enquanto se cobria e abraçava o próprio corpo, notando, temerosa, a carranca de Sakura alguns metros à frente. Estava corada como um tomate pelo contato mais íntimo que teve com um homem na vida.

- Anda logo - Sasuke a cobrou, chamando a atenção de volta para si, e não hesitou em usar os olhos vermelhos para intimidá-la.

Sakura suspirou à distância, irritada por Sasuke insistir em usar o doujutsu de maneira tão leviana. Não sabia o quanto ele tinha forçado o sharingan, só sabia que não queria lidar com nenhum tratamento nas próximas horas. Com o humor que estava, era capaz de deixá-lo cego.

Aiko não teve escolha senão reconhecer o lugar e guiá-los para a casa do seu pai, dois quilômetros ao norte do ponto em que estavam. Sakura ia na frente com seus cabelos molhados cobertos pelo capuz branco, deixando um rastro do seu cheiro no caminho. Abria passagens pela vegetação densa do bosque que escondia a chácara do pai de Aiko, evitando assim a trilha comum. Os três só trocaram palavras sobre as direções e mais nada. Embora mais recomposta, sem aquela instabilidade de antes, Sakura parecia na mesma medida ainda mais apática.

Ao chegarem, Aiko não precisou avisar, pois era o único lugar habitável possível no meio de uma floresta tão abandonada. O que parecia uma clareira, era um chão de terra batido em alguns pontos, forrado com folhas e galhos secos da estação antecessora; tocos de troncos cortados, tomados por musgo ou feridos por lâminas, ao lado de rochas brilhantes e escorregadias, grandes demais para serem movidas. Era uma pintura mais taciturna do que idílica. Um lugar de triste beleza e evidente abandono. Ecos da memória de um lar. Para eles, um refúgio.

Por estarem próximos do litoral, não nevava naquele ponto, apenas chovia ou caía granizos em temperaturas extremas. O cheiro de terra molhada não embrulhou o estômago de Sakura, curiosamente abriu o seu apetite insaciável desde que amanheceu o dia. O café da manhã apologético de Sasuke fazia falta para sua barriga vazia.

Desceram uma pequena ribanceira e dali puderam reparar em mais detalhes, como uma discreta cascata colada num paredão de pedra que escondia uma cabana de tamanho médio, achatada em dois andares. Estava protegida por pinheiros e freixos inclinados há metros do seu teto frágil, adornado por trepadeiras selvagens que ameaçavam tomar o lugar inteiro para si.

Mais afastado da cabana principal e da cascata vizinha, havia uma cabana menor, como um pequeno galpão anexo. Lembrava o chalé que Sasuke e Sakura ficaram na primeira parada que fizeram no País das Fontes Termais, sem levar em conta décadas de depredação. Ela riu sozinha com a lembrança.

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