A substituta

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Não se lembrava exatamente de quando e como havia dormido. Aquilo não era normal, dormir rapidamente e acordar sem pesadelos. Sakura não estava mais deitada ao seu lado. Ao olhar para os lados e perceber que ainda estava escuro, desanimou-se. Sentia como se nunca mais fosse dormir uma noite inteira.

Com sede, Sasuke levantou-se e foi até a cozinha, não ficou surpreso em encontrar Sakura lá também, sentada de um lado da pia com uma caneca fumegante nas mãos.

— Chá? — ela ofereceu. Já estava se habituando ao jeito esquisito dele, tanto que decifrou seu silêncio com um "sim, aceito chá, Sakura. Muito obrigado.". Se ele não quisesse, balançaria a cabeça para os lados ou olharia para a caneca de chá nas mãos de Sakura com desprezo. — Tá em cima do fogão. Joga gelo para ficar como você gosta — Sasuke aproximou-se do fogão para pegar o chá. Iria dispensar o gelo dessa vez. — E os olhos?

— Ruins — respondeu logo depois de tentar colocar o chá na xícara e ter derramado tudo fora. Frustrado e envergonhado por não conseguir fazer uma coisa simples como essa, jogou a xícara e o bule contra a parede. Um ficou despedaçado e o outro amassado em uma das faces. Sakura abaixou calmamente sua caneca e o observou lidar com sua própria ira.

— Cura requer tempo.

Sasuke ouvia a voz branda da garota tentando acalmá-la. Aquela voz... Irritante. Repugnante. Ele não aguentava mais promessas de melhora. Sentia que ela poderia ter feito algo para acelerar o processo de cegueira. Marchou em direção a ela, que sustentava a mesma expressão serena, completamente impassível. Um pouco piedosa, também, ele sentiu. Ela com certeza não o temia. Talvez porque soubesse que, por hora, ele não se atreveria a nada, só que estava a ponto de mudar essa sua conduta para com ela. — Seus olhos não me assustam — falou referindo-se ao sharingan do Uchiha. Era a primeira vez que ele o ativava desde que saiu da prisão. — Vá para cama e descanse, amanhã enxergará melhor e me agradecerá.

Ele se afastou dela ainda com fúria. Em seguida, tudo o que Sakura ouvir foi o baque da porta na sala, indicando que ele havia saído. Não era nem quatro horas da manhã. Suspirou, desceu da pia, lavou a sua caneca e foi dormir deixando a bagunça para o bagunceiro arrumar. Nada mais justo.

— Espera Naruto saber que ele quebrou uma xícara do meu jogo favorito — dizia para si mesma. — Vou esperar o ele voltar para ser plateia, porque a briga será épica.

.o0o.

Nas ruas, apenas ele e gatos sem dono. O que os diferenciava um do outro era a liberdade que ele não tinha. Liberdade. Algo que ele não sabia explicar, mas sabia muito bem o que era.

Chegou num campo público de treinamento e por lá ficou, fazendo flexões, abdominais, escaladas, praticando taijutsu e outras atividades que não requeressem chakra. A raiva de si mesmo que o dava a força que ele não tinha. Culpa. Que motivação maior do que essa? Doía tudo: o abdômen; as pernas; os braços; e os olhos, ardiam como se tivesse brasa sob as pálpebras. Ele estava nas barras quando ouviu seu nome ser chamado. Ergueu seus olhos à procura do dono da voz e no mesmo instante seu corpo o traiu, pendeu num amontoado de folhas sobre um colchão de grama. Não fez questão de levantar-se.

Percebeu que já era dia quando olhou diretamente para o céu e o Sol ofuscou suas vistas. Também percebeu algo que fez seu coração sobressaltar-se. Ele conseguiu distinguir as nuvens no céu. Até um dia antes o céu não passava de um grande colchão azulado, se detalhes. Tudo era escuro em sua visão, num tom acinzentado, morto... Além de ser tudo embaçado. Visualmente, todo dia era nublado a arisco, só sabia que o céu estava aberto pela luz dolorosa do sol e o calor.

— Kakashi — sussurrou ao ver o rosto do ex-sensei bloquear sua vista do céu.

— Muita gente deseja tirar sua vida, Sasuke. Não faça isso você mesmo, pela sanidade de todas essas pessoas.

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