O hóspede

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— Naruto! — Sakura gritou à sua porta, mas logo percebeu que o loiro não estava dormindo como normalmente estaria àquela hora. Bateu na porta, como todas as pessoas comuns fazem primeiramente e esperou ele abrir. Quando alguns segundos se passaram e nada aconteceu, ela preferiu entrar pela janela do quarto mesmo. Ela não tinha tanta paciência, afinal. Ele podia ter caído no banheiro de novo e estar lá desmaiado, ou esquecido o gás do fogão ligado, e nesse caso, estar morto.

Ao saltar no quarto, a primeira coisa que reparou foi na cama com os lençóis ainda sobre ela, embora não estivesse arrumada. Naruto se mexia igual a uma criança à noite, encontrar a cama naquele estado era um milagre.

— Naruto — chamou mais uma vez indo para a sala. Estranhou encontrar o pijama dele no tapete, um travesseiro e um lençol no sofá. — Mas que diabos... — Isso não chamou mais sua atenção do que o silêncio no apartamento. A pia estava com algumas louças e a mesa ainda estava posta com um café da manhã para dois, confirmando o que Sakura já imaginava: mais alguém havia dormido ali.

Só gostaria de saber com quem Naruto estava saindo. Lembrar-se-ia de brigar com ele por não a ter dito que estava de caso com alguém, afinal, eles não tinham segredos um com o outro. Também perguntaria o porquê de aparentemente terem dormido separados.

Arrumou a cozinha enquanto o esperava voltar de sabe-se lá onde. Sempre que podia, o ajudava com as coisas da casa. Gostava de fazer isso e sabia que ele era carente da atenção que ela dava.

Os anos e vivência fizeram os laços que os uniam se atarem mais. Naruto e Sakura se viam praticamente todos os dias e sempre se ajudavam, não importava o que fosse. Era meio que um ritual Sakura arrumar toda a casa dele, os dois almoçarem e em seguida ele treiná-la como pagamento. De longe, quem tirava mais vantagens desse acordo era o Naruto. Ela sabia disso, mas não se importava em cuidar dele e de sua casa. De certa forma, estar com o Naruto a fazia sentir-se segura e ao mesmo tempo confiável, pois em qualquer situação, um sempre tinha ao outro para recorrer.

Deixou uns legumes cozinhando, depois iria congelar. Se não fosse por ela, ele viveria de instantâneos e comida de restaurantes. Voltou mais uma vez para o quarto para arrumá-lo e acabou reparando que ele finalmente havia trocado os lençóis pelos novos que ela comprou. Alguns fios longos e negros estavam no travesseiro. Só pode ser ela, pensou.

Depois de preparar a comida, decidiu tomar um banho. Era verão em Konoha. O sol já era severo às oito da manhã e perdurava até o entardecer, uma tormenta para quem gostava do tempo moderado da primavera. Pegou uma das camisetas de Naruto no armário e foi tomar banho. Quando chegou ao banheiro, suas pernas vacilaram e num reflexo instintivo levou a mão ao peito, se apoiando na porta já fechada.

No chão, roupas familiares estavam jogadas, e ela as conhecia sem precisar ver muitos detalhes. No lavatório havia alguns fios negros grudados na superfície de louça, no lixo havia cabelos aos montes. Ela já sabia a quem pertenciam e não eram da Hinata.

Sentou-se sobre a tampa do vaso, desolada, pensativa, inconformada, ponderando porque Naruto havia trazido Sasuke para sua casa. Ele devia ter falado, tê-la avisado para que ela não fosse pega de surpresa. Mas não adiantava, a culpa era dela, não importava o quanto ela tentasse colocá-la no Naruto. Foi ela quem pediu para ele não falar do Sasuke na sua presença, ele só estava atendendo ao pedido que ela fez, sendo fiel até mesmo para omitir o fato de que Sasuke ficaria em sua casa. Ainda assim, não conseguia manter a linha de raciocínio em equilíbrio enquanto estava furiosa. de forma racional.

Despiu-se rapidamente indo para o box na ponta dos pés, desviando das roupas do sujeito. Nem a água fresca moldando seu corpo aliviava a sua tensão, seus pensamentos e mortificações. Por muito tempo, ela só se preocupou com a volta dele para a vila, com a promessa do Naruto sendo cumprida, mas nunca figurou exatamente o impacto disso, como as coisas mudariam depois de tantas reviravoltas que ocorreram na vida de cada um. Não sabia colocar em magnitude o medo que sentira quando ele se foi ou agora que ele estava de fato voltando para vila como um aldeão. Talvez visse a fuga de Sasuke com mais intensidade do que via qualquer coisa agora com quase vinte anos, porém conseguia ponderar muito melhor as decorrências da volta dele do que quando era apenas uma garotinha apaixonada.

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