A embarcação

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- Tá tudo bem? - Kaname perguntou quando a viu subir ao convés com os olhos avermelhados. Sakura limpou as lágrimas acumuladas com as costas das mãos e afirmou com a cabeça. - Você está chorando... Está com algum problema com aquele cara?

- Só tenho problemas com aquele cara - rindo do infortúnio, encarando as ondas morrerem, uma a uma, nas pedras e areias da praia.

- Não vou deixá-lo embarcar.

- Está tudo bem. Mesmo - garantiu olhando para o rapaz. - Nós temos assuntos pendentes no País da Água. Precisamos resolver isso juntos.

- Detesto homens que maltratam mulheres - falou com rancor, olhando para um homem específico, alto e gordo que parecia ser o capitão do navio pela forma como se vestia e gritava com os outros tripulantes.

- Ele só... Ele é só um pouco mal educado.

- Um pouco? - ela riu, sendo acompanhada por ele.

- Acho que o litoral não faz muito bem para o humor dele - fitou o Uchiha subir a rampa encarando os dois com o pior olhar possível.

Sakura preferiu ser sucinta. Tinha acabado de conhecer Kaname e não sabia se ele era confiável para qualquer tipo de desabafo, embora demonstrasse ser muito gentil e atencioso.

- Me avise se precisar de ajuda - disse, afagando os ombros dela. Sakura achou estranho, mas não repeliu o toque.

- Depois, se quiser me mostrar onde fica a enfermaria, eu já começo a tratar os doentes.

- Não temos enfermaria - disse desviando o olhar. Parecia estranhamente incomodado e desconfiado, olhando para os lados, como se tivesse cautela.

- Tem algum problema?

- Consegue falar depois? - a olhou com seus grandes olhos cor de âmbar.

- Pode ser - respondeu simplesmente, sem pensar muito no assunto, seguindo apenas a sua curiosidade.

- Vamos zarpar daqui trinta minutos, preciso ir.

- Tudo bem.

- Te procuro mais tarde.

Sakura observou todas as pessoas subirem a rampa, todos muito agasalhados e cobertos como se também estivessem escondendo segredos. As mulheres andavam juntas, pareciam ser as mais doentes. Aos poucos o convés lotado se esvaziava com cada um indo para suas respectivas cabines. O vento tornava o frio mais cortante no litoral, obrigando todos a encontrarem um abrigo.

Sasuke estava em um canto afastado, emburrado, fitando a serra do litoral do País das Águas Termais. Não voltariam para aquela parte do continente tão cedo. Sakura pensou em se aproximar dele, o único rosto conhecido que teria por perto pelos próximos dias, mas ela ainda estava chateada. Aqueles dias seriam apenas de travessia. A missão só continuaria quando estivessem em terra firme, rumo à Kirigakure. Não tinha a mínima necessidade de forçarem uma relação amigável.

.o0o.

Sasuke e ela foram alocados em uma estreita cabine no penúltimo deck do navio, tão pequena que se os dois entrassem juntos, ficariam afastados um do outro por trinta ou no máximo quarenta centímetros.

Era um cubículo com uma beliche do lado direito e esquerdo deixando o meio do quarto com o único espaço livre. Sob a janela suja janela arredondada, típica de embarcações antigas, havia um minúsculo aparador com um castiçal parafusado e velas consumidas até a metade. Desconfiada, Sakura checou as camas e ficou satisfeita por parecerem limpas, embora muito pequenas. Deixaram suas mochilas sobre a parte de cima da beliche para que pudessem descansar na cama debaixo.

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