A prisioneira

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País do Relâmpago

Kumogakure

Sexta-feira à noite

34º dia de jornada

Sakura entendeu a pressa dos shinobi que a escoltavam em chegar logo à Kumogakure por conta do que eles encararam na entrada na cidade, uma multidão de gente esperando.

No caminho, evitaram estradas muito movimentadas, pegando atalhos e afastando curiosos para longe do comboio. Ela achou que fosse precaução, afinal, sua cabeça tinha um preço alto, pelo o que ela viu no cartaz que Aiko escondeu na hospedaria, era possível que fossem interceptados e houvesse uma competição pela entrega dela ao Raikage.

- Vamos dar a volta - um dos shinobi mascarados falou.

- Não adianta. Já viram ela - apontou com a cabeça para os cabelos rosas de Sakura. Realmente, difíceis de confundir.

- Melhor irmos de uma vez - avançou a traidora manca que prendeu seus braços. Ela evitava olhar em seus olhos, pois sabia que teria seu karma cobrado, embora não pela Haruno.

Ao se aproximarem da entrada, ouviam cada vez mais os gritos, flashes de luz, cartazes, panfletos e jornais. As pessoas tentavam se aproximar e ver, algumas penduradas em telhados, sacadas e janelas. Sakura ficou sem graça, tímida com tantos rostos virados para si, sem conseguir identificar o que falavam, mesmo com a leve impressão de que não era tão hostil quanto esperava.

Ela se lembrava do que ouviu quando Sasuke saiu da prisão em Konoha, de como parte da população o esperou abaixo da escadaria do QG com pedras, frutas e objetos em mãos, prontas para lançarem nele, o último Uchiha que carregava a culpa da vingança de todos os outros. Chegou a sua vez de desfilar como uma marginal num país estranho. Humilhada, com as mãos presas na lombar, o chakra reduzido a quase nada, seu Selo Yin opaco na testa como uma estrela morta. Ela já tinha sido maior, mais promissora.

Sakura poderia se rebelar e acabar com aquela patifaria. Os shinobi que a escoltavam não eram bons, para não dizer extremamente despreparados. Ela aceitou ir com eles porque era o que daria menos trabalho, menos mortes. Embora ela custasse a admitir, as mortes que testemunhou nas últimas semanas mexeram com o seu psicológico.

Haruka foi explodido na sua frente há dois dias e Sakura ainda tentava se convencer de que foi um sonho ruim. As pilhas de corpos na floresta, nos corredores da hospedaria, no esconderijo em Suna, na clareira no País do Rio... Corpos derrubados por ela: por suas mãos ou por outras. Ela sabia que iriam para sua conta todas aquelas mortes, e desconfiava que não seriam as últimas. Aiko ainda era um mistério até que tivesse notícia.

Seguiu para Kumogakure seguindo os patetas, ouvindo todo tipo de conversa torta e fofocas sobre a vila oculta do País do Relâmpago, enquanto fingia que dormia e se concentrava para acumular a maior quantidade de chakra que conseguisse para a sua reserva.

Aparentemente, o Raikage estava com uma crise de grandeza, como uma criança se rebelando depois que descobre que terá um irmão mais novo: enciumada, amedrontada, carente, suplicando atenção e aprovação. A insistência na busca pelo Sasuke e Sakura estava saindo cara, e parecia ser só um dos surtos dele. Ela ouviu sobre mudanças drásticas nas leis da vila, como aumento de impostos, invasão de privacidade e interferência em processos de seleção da Academia Shinobi local. Ele andava recrutando uma equipe particular, quase como Danzo fez em Konoha com a Anbu Ne, e os instruindo a seguir somente e incondicionalmente às ordens dele, mesmo após a seleção de um novo kage.

Sakura escutou com atenção essa parte, entendo que o Raikage não estava tão à favor ou convencido assim a deixar o cargo de maneira "pacífica". Queria que seu irmão assumisse, mas não o achava tão competente para o papel - o que os shinobi que fofocavam pareciam concordar. Se irritava com o crescimento exponencial de Konoha e inveja a quantidade de lendários shinobi que estão concentrados no País do Fogo. Esses eram um dos pontos que mais levantaram para sua ira. Sasuke estava sendo apenas o eixo de uma crise.

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