A captura

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País do Som

Madrugada de quinta-feira

- Eu sabia - Orochimaru disse satisfeito, sentado em sua sala de experimentos com os lábios brilhantes de saliva.

Segurava um pequeno pergaminho de fita vermelha. Mensagem urgente. Tinha o chakra da Tsunade, como bem conhecia. Sua antiga colega de time de um humor intragável e habilidades estupendas. Formidável e mordaz.

- O que ela poderia querer com você, Orochimaru-sama? - Suigetsu contestou, desconfiado e curioso com a mensagem inesperada. - Quando fomos falar com ela, ela queria dar conta de tudo sozinha - cruzou os braços, chateado.

- Tsunade não tem cuidado nem dela - fechou o pergaminho após ler a mensagem. - Aceitou de bom grado a minha oferta. Esperta. Para não dizer desesperada.

- O que diz a mensagem?

- Preparem os quartos. Receberemos visitas em breve.


País do Relâmpago

Quinta-feira

33º dia de jornada

Seus olhos ficaram sensíveis quando os primeiros raios do sol cruzaram a vidraça da cabana. Sua mente, muito distante dali, jurava que tinham se passado apenas alguns minutos, mas o dia amanheceu e parecia que ela mal tinha piscado desde o momento em que ele saiu.

Ela acompanhou cada floco de neve esconder as pegadas, permaneceu na janela, estática, sentada e escorada no peitoril, incapaz de se deitar ou fazer qualquer coisa senão olhar e esperar. Sentia as intensas cólicas no baixo ventre, mas a dor que rasgava seu interior vinha de outro lugar.

Acreditava que Sasuke voltaria para ela. Deixaria a impressão dos seus passos no tapete branco sobre a relva, empurraria a porta mofada sem fecho, subiria cada degrau ao sótão com a sutileza de um gato e a surpreenderia com um abraço caloroso que ele aprendeu com ela como dar.

Quando estavam juntos, e tudo acabava, ele gostava de abraçá-la por trás e ficar em silêncio na cama. Parecia gostar também de brincar com as pontas dos seus cabelos, como se desfiasse um carretel de lã, desatando nós e segredos, puxando cada fio das vestes de aço que a protegiam até despi-la. Com ele, Sakura sempre se sentia nua.

Seus lábios estavam estourados, ressecados pelo frio, secos da ausência dele. Quando se beijaram pela última vez? Até a lembrança ele tinha levado. O cabelo desgrenhado estava colado no rosto pelo sal das lágrimas que secaram ao longo da madrugada, a garganta era um tubo de metal que só diminuía, engasgando suas ansiedades, congelando a cada inspiração em busca de um pouco de alívio.

Ela já devia estar acostumada. Até disse a ele que estava e descobriu que não. Por isso, Sakura acreditava que ele voltaria. Não por qualquer sentimento utópico, mas por ego. Ele sabia que a deixaria devastada. Devia ser prazeroso ver com os próprios olhos que foi capaz de subjugá-la mais uma vez. A miséria que ele disse sentir era toda dela. Um veneno com sabor de néctar consumido até a última gota. Sakura que agonizava, e o motivo, não era só aquela partida.

Tudo ficou evidente quando ele passou por aquela porta, assim como por todos os caminhos que cruzou para longe dela. Por anos, Sakura construiu a imagem que queria. Queria ser forte, mas não apenas isso: queria ser maior e melhor em tudo. Conquistou a segurança que não tinha, a força que não tinha, a independência que não tinha, e só aquela droga de sentimento que não era conquistado. Sakura sentia que se tivesse poder pelas próprias emoções, poderia ser feliz ou simplesmente fingir.

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