As montanhas

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Ele abriu os olhos, só para confirmar se ela havia mesmo saído dali: sim, ela havia saído. Ele até sentiu o peso sobre seu corpo sumindo, mas estava tão cansado que continuou aproveitando o sono.

Pegou as roupas de baixo e as vestiu, não fez questão de fechar o zíper nem nada, a linha tênue de respeito que separava-os daquelas intimidades havia sido cortada. Naruto a encontrou apoiada na pia, vestida com sua camiseta, os cabelos bagunçados e um olhar cansado. Assim que Sakura o notou, corou e abaixou a caneca de chá na altura do colo, evitando olhá-lo nos olhos.

— Acorda sempre de madrugada para tomar chá? — perguntou por perguntar, já sabia a resposta, só não sabia o motivo. Escorou na parede oposta a qual ela estava, ficando assim frente a frente.

— Costume — O olhou e sorriu, ainda tímida, bebericando o chá em sua mão. Seu olhar dizia muitas coisas — Tem mais no bule, se quiser.

— Não precisa — negou imediatamente. Sentiu o cheiro inconfundível do limão e soube que se tomasse só para agradar Sakura, mais tarde seu estômago reviraria.

O silêncio era constrangedor. Naruto estava se sentindo super bem em relação ao ocorrido há algumas horas, mas Sakura se mostrava acanhada e pensativa, como se revisse repetidas vezes o que havia feito.

— Sei que é meio estranho falar disso, talvez muito cedo, só queria ter uma ideia de como ficamos agora — começou como quem não queria nada.

— Hã? — Sakura estava tão dispersa e recolhida em seus pensamentos que mal havia escutado, após ouvir a mesma pergunta, ergueu rapidamente as sobrancelhas e deixou a caneca na pia para se concentrar no amigo. — Bom, nós dois temos pessoas em nossas vidas... — Sakura não se referiu a ela, afinal, ela não tinha ninguém. Falando do Naruto, a história era outra, e ele jamais colocaria isso na conta em uma conversa franca com ela.

— Você tá com o Sasuke?

— Lógico que não!

— Como assim "lógico que não"? — gesticulava. — Você sempre gostou dele, e do nada faz questão de mostrar que o detesta. Eu não consigo te entender ou levar muito à sério o que você me fala. Vocês se beijaram! E isso é só o que eu sei... — Ela revirou os olhos. — Assume de uma vez que é tudo fachada!

— E se for? — indagou sincera, pegando o Naruto de surpresa.

— O beijo — começou depois de alguns segundos. — O beijo era para me fazer ciúmes, não? — Não esperou ela responder. — Eu morro de ciúmes e fico louco só de imaginar você com ele ou qualquer outro cara. Viu? — Forçou um sorriso e ela suspirou, buscando as palavras certas para dizer.

— Isso foi muito egocêntrico. — comentou com um sorriso contido. Ele deu os ombros e garantiu.

— Mas é verdade.

— É gostoso te ouvir admitir, mas não era isso que eu queria de você, Naruto. Que você tem ciúmes de mim, eu sempre soube, você não se dá ao trabalho de disfarçar. O que eu queria era que percebesse que o mundo não gira ao seu redor. Eu estive aqui por você esses anos, mas eu posso não estar mais a qualquer momento.

Abaixou a cabeça, olhou os próprios pés descalços. Estava se despindo de corpo e alma para ele.

— Depois que você salvou a vila e tudo mais... Sua vida mudou. Nós mudamos. Aquelas migalhas que alimentaram meu amor pelo Sasuke durante toda a minha adolescência hoje não tapam o buraco do meu dente. Não me tornei a mulher que sou hoje para ter as coisas pela metade.

— Você não é — Aproximou-se dela, que impediu delicadamente que ele continuasse.

— Eu sei que não. Você me fodeu só porque eu quis, não fui conquistada. Nada mudou entre a gente, Naruto.

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