País da Água
Quarta-feira
11º dia de jornada
O funeral das mulheres que não resistiram foi no domingo. Garoava e fazia muito frio, como parecia ser de praxe em velórios de tragédias. Sakura não quis comparecer, e Sasuke também não iria caso não fosse convidado pessoalmente por um dos familiares da vítima, grato pela tentativa de resgate. Sentiu-se na obrigação de ir, como parte da missão, embora sua mente tenha entrado em letargia durante toda a cerimônia.
Todos perguntavam pela Sakura, até os que a não conheciam, mas tinham ouvido falar sobre o seu heroísmo. "Ela precisa de um tempo", era o que ele respondia, ainda que não soubesse como aquilo poderia ser interpretado. Era o que ele dizia para si mesmo.
Depois de sábado, quando falou sobre o seu trauma e correlacionou com o que tinha acontecido às mulheres do navio, Sakura não saiu daquele estado. Sasuke achou que ela melhoraria, aliviada por verbalizar o que estava sentindo, assim como ele sentiu que um grande fardo havia deixado seus ombros quando admitiu estar envolvido por ela. Contudo, não foi assim.
Ela dormia o dia todo. Acordava poucas vezes para tomar água ou ir ao banheiro. Se recusava a comer. Sasuke montou uma cesta com a ajuda de uma funcionária do hotel e levou para o quarto, mesmo sendo contra as regras do lugar, e conseguiu convencê-la a comer uma maçã e um oniguiri com atum. Nada mais. Na terça, ela não saiu da cama para nada, nem se erguia para tomar pelo menos água. Sasuke saía todos os dias para acompanhar o processo de aliança com Mei e Chōjūrō, sondar informações sobre Konoha e manter seu treinamento, e sempre que voltava para o quarto, estava tudo como ele havia deixado.
No começo, ele quis dar espaço para ela. Sentia que de alguma forma, por estarem dividindo sempre o mesmo ambiente, ele pudesse ser um estorvo naquele momento de fragilidade emocional. Mas conforme os dias foram passando, ele via que era pior se manter distante. Quando o via, Sakura reagia minimamente para respondê-lo, nem que fosse para negar suas tentativas de fazê-la se recuperar.
Na quarta, ele não pôde mais ignorar a situação ou tentar não se meter. Precisou tomar uma atitude, mesmo correndo o risco de ser mal interpretado ou retroceder a relação de confiança que tinham.
Chegou ao quarto por volta das oito da noite após uma longa reunião sobre a tomada de Konoha pelos anciãos, o que já era de conhecimento de toda a Aliança Shinobi. Sakura estava deitada, imóvel, enrolada com as cobertas até a cabeça. Sasuke não ligou a luz do quarto para não ferir seus olhos, mas ligou os abajures. Foi ao banheiro, começou a encher a banheira e voltou para o quarto.
— Vamos tomar banho — Sakura o olhou sem reação.
Ela não estava levantando nem para a higiene básica. Estava totalmente inerte pela súbita melancolia. Por dormir praticamente o dia todo e acordar em horas variadas, a noção de tempo estava confusa. Para Sasuke, estava claro que há cinco dias ela se fundiu à cama, contudo, para ela, parecia só um dia muito longo e triste que não tinha previsão de acabar.
— Eu não quero, Sasuke.
— Eu não perguntei.
Ele puxou os cobertores e lençóis que a envolviam como um casulo impenetrável. Era visível o quanto ela tinha emagrecido naqueles dias só num primeiro olhar. Com cuidado e muita insistência, Sasuke a ajudou a se sentar para que as camadas de roupas de frio fossem retiradas.
— Estou tentando te ajudar — dizia enquanto ela silenciosamente chorava, pedindo para ser deixada em paz. — Vai se sentir melhor depois do banho — garantia, como se negociasse com uma criança.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Strokes
FanfictionSasuke ficou três anos na cadeia cumprindo pena pelos crimes que cometeu enquanto era um foragido de Konoha. Ao sair em liberdade condicional, passa a morar o Naruto e a realizar trabalhos para a vila. Sakura detesta a ideia do Uchiha rebelde morand...