A gruta

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— Pelo vale será mais rápido — Sakura sugeriu para Sasuke após observar a ameaça mais perto e voraz. — Se não quiser buscar um abrigo, precisamos correr agora. Ir pelas montanhas é o pior caminho.

Sasuke ponderou. O abrigo seria o mais seguro, ao mesmo tempo que poderia atrasá-los por um tempo indeterminado.

— Vamos — pulou para baixo, descendo a parte íngreme da montanha que já tinha escalado. Tentaria arriscar e ganhar tempo.

Sabiam que estavam seguros enquanto o vento machucava seus rostos e não as costas; enquanto os cabelos amarrados flutuavam rebeldes no ar como uma rastro; enquanto seus corpos conseguiam facilmente alcançar aquele nível exaustivo de velocidade sem sentir muita resistência na atmosfera.

Contudo, a natureza era implacável, fosse o fenômeno, fosse o homem que manipulava aquilo. Enormes e grossas nuvens escuras já pairavam sobre suas cabeças, tampando toda a luz do sol durante o dia, como se puxasse uma cortina negra sobre a terra amanhecida, forçando uma escuridão sobrenatural, fria e tempestuosa. Os picos das montanhas eram engolidos e desapareciam, a neve ganhou um tom cinzento e mórbido, o vale entre as cordilheiras foi mergulhado em sombra, como o presságio do fim dos tempos.

— Não vamos conseguir — Sakura gritou para Sasuke, que em nenhum momento diminuiu a velocidade, mesmo sabendo que não havia chances de escaparem a tempo da nuvem.

Quando a velocidade do vento aumentou bruscamente, ricocheteando os fios dos cabelos, desfazendo a trança de Sakura, quase arrancando suas roupas à força, o Uchiha percebeu que não teriam saída além de buscar abrigo.

A distância que os separava do País dos Pântanos e do alívio de não terem sido rastreados estava muito longe, tentar encurta-la só gastou energia dos dois. Continuavam presos nas cordilheiras, cercados de montanhas de milhares de metros de altitude, sem abrigo e sem muitas provisões.

— Enxerga alguma coisa? — era uma pergunta séria, mas Sakura interpretou como uma retórica ou até cínica insinuação. A tempestade já tinha os alcançado e transformado tudo em neve, vento e neblina. Praticamente não tinham mais visão de nada.

— Impossível não haver uma fenda, uma caverna, um mísero buraco de urso nessas montanhas para servir de teto — Sakura reclamou, sem nunca para de correr e olhar para os lados, lutando contra todo o caos, barulho, frio e densidade para encontrar um lugar no qual pudessem se proteger. — Vamos por ali — gritou em meio aos estrondos da tormenta, apontando para um desfiladeiro e garantindo que Sasuke a acompanharia. Contudo, não encontrou nada além de mais perigo, pois a neve se acumulava no solo e as pedras escorregavam do topo das montanhas, rolando para baixo como armadilhas mortais. — Vamos ter que ir por outro lugar — disse trêmula, possessa de raiva e frustração. Seus lábios racharam, seu nariz congelava, seus cílios acumulavam gelo e as pontas dos dedos já não tinham nenhuma sensibilidade.

— Por ali — Sasuke a agarrou pelo braço e guiou em uma direção oposta, ainda no meio do desfiladeiro, seguindo à direita para fendas cada vez mais estreitas de montanhas instáveis.

Sakura mal enxergava, tudo não passava de borrões brancos, dor do frio e a sensação do Sasuke a puxando pelo caminho, pois não havia calor. De repente, todo aquele turbilhão dissipou-se em uma pequena fração de tempo, e Sakura conseguiu manter os olhos abertos por mais segundos. Sasuke a guiava pela fenda, chegando a um ponto dela em que as duas montanhas se uniam, fazendo uma ponte acima de suas cabeças, muito estreita e alta para servir de abrigo, porém, o bastante para dar o respiro que precisavam para decidir o que fazer.

A garota abraçou a si mesma. Sentia seu corpo colapsar de tanto frio. Se não tivesse corrido tanto, usado tanto chakra para conseguir velocidade, talvez pudesse usar o Byakugou para controlar os sentidos do seu corpo sem correr nenhum risco real por isso. Os olhos pesavam com o gelo acumulado nas linhas d'água e nos cílios. Abrir e fechar era como erguer um alçapão de pedra. Aos poucos perdia a sensibilidade.

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