O resgate

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Talvez fosse o balanço do barco, ou o enjoo, ou a tontura, mas Sakura não estava em seu estado normal depois de quase doze horas à deriva. Entre consciência e inconsciência, não havia como filtrar o que realmente sentia.

— Sasuke? — disse ainda grogue, situando-se. — Eu dormi? — Sakura perguntou observando as garotas amontoadas nos botes ao lado.

— Pouco — respondeu sem olhá-la.

Mesmo com Sasuke confirmando que pouco tempo havia passado, Sakura não conseguia assimilar muito bem. Estava quase adormecendo novamente quando a garota mais velha, com mais porte de enfermeira, chamou-os:

— Tem alguma coisa errada — começou insegura, para não confirmar o que já sabia.

Sasuke aproximou-se mais delas. As quatro mulheres adormecidas, as duas garotas, Sakura e ele estavam no mesmo bote:

— Conferi duas vezes os sinais vitais dela — sua frase terminou ali.

— Ela não vai sobreviver — foi tudo o que Sakura conseguiu dizer. Sasuke tentou reanimá-la, contudo, sabia que era em vão. Sakura estava esgotada emocional e fisicamente para fazer qualquer coisa.

Algumas mulheres do barco adjacente protestaram, mas foram logo repreendidas por Sasuke, que advertiu todas sobre como tanto alarde poderia atrair qualquer animal marinho carnívoro maior do que o bote. Depois de um tempo, começaram a descarregar a responsabilidade para Sakura, que ultrapassara seus limites para salvá-las e protegê-las. Sasuke mais uma vez se viu obrigado a repreendê-las:

— Ela fez o que pôde — o Uchiha defendeu a companheira e tentou convencer as mulheres.

— Não podemos mudar o caminho que a natureza traçou — apoiou a jovem garota que liderava os cuidados de todos no bote com grande bravura.

Ela mesma chorou. Kyowa e Kaname se esforçavam para ser fortes porque Sasuke se mantinha impassível. Remavam e observavam, exibindo o máximo dos atributos que um homem deveria ter em uma situação como aquela. Kaname gostaria de ajudar mais, contudo tinha consciência de que ali ele seria útil somente remando, então não tentou puxar assunto com Sasuke. Kyowa, por sua vez, mantinha uma postura forçada por orgulho. Também queria ser tão heroico quanto o Uchiha, receber o mérito, pois sabia que quando chegassem em terra firme, se chegassem, aplaudiriam Sasuke e Sakura, não ele e Kaname que estavam esgotando os músculos dos braços remando sem cessar.

A pródiga garota enfermeira chamava-se Sayuka, tinha apenas dezessete anos e uma habilidade notável. Enquanto as outras mulheres, muitas mais velhas, tremiam de frio e choravam amedrontadas, Sayuka trabalhava com a sua colega, sem sinais de cansaço ou insatisfação. Observando-a, Sasuke pensou que se Sakura fosse dada a sensei, deveria admitir a garota como sua pupila.

Com a ajuda dele, ela afastou as outras três mulheres que estavam desacordadas daquela última que dava seus suspiros finais, com a justificativa de que se fosse uma infecção que a acometeu, a distância das outras era o melhor a fazer. Depois de uma hora, uma das três que estavam adormecidas acordou, pediu comida e água, queixou-se de dor, e logo dormiu de novo após Sayuka dar-lhe um narcótico.

Mais uma hora se passara. Quase todas as mulheres que antes estavam acordadas, começaram a se entregar ao sono, mesmo com o frio, com o medo do mar, mesmo com a fome. O cansaço era palpável em todos, contudo um punhado era obrigado a resistir; com este punhado esgotado, o cargo ficava nas costas de um homem são.

Sasuke dispensou Kyowa e Kaname por algumas horas e assumiu o remo do barco do meio, que estava interligado com os outros dois. Recorreu a uma força sobre humana para conseguir levar os três botes carregados adiante, vez ou outra lançando labaredas de fogo no ar para chamar a atenção de qualquer alma que pudesse avistá-los à míngua no oceano, morrendo congelados, de frio, de doenças e esgotamento.

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