Elas

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Naruto bateu com os nós dos dedos na estreita porta lustrada de verniz. Ao contrário do que disse ao Shikamaru, não foi direto falar com Hinata, passou em alguns lugares, devaneando, à procura de um pretexto.

Quando finalmente se sentiu íntimo o bastante para visitá-la sem motivos, parou em frente à sua casa e esperou que ela o recebesse. Assim que Hinata o viu, espantou-se, mas conteve-se. Os anos fizeram com que ela se habituasse às inconveniências do Naruto.

— Olá — cumprimento com a voz baixa de sempre, mas firme, sem gagueira. Na verdade, tinha um misto de curiosidade no seu tom.

— Oi — Naruto respondeu envergonhado, reparando nela e atrás de si. Ela estava arrumada e com uma bolsa ao lado do corpo, provavelmente partindo para algum compromisso. — Ahm... Você... está de saída? — perguntou apontando para a bolsa. — Porque se estiver, eu posso voltar outra hora.

— Ah, bem, para falar a verdade, eu estava sim. Mas tudo bem, entre — abriu passagem, reforçando o convite. Ele não pôde recusar.

— Olha, não se sinta embaraçada em me dispensar, eu realmente posso voltar mais tarde — disse enquanto caminhava pela sala, torcendo para que ela não o dispensasse.

— Não se preocupe. Eu só ia fazer umas compras para o fim de semana, nada inadiável. Se fosse esse o caso, pode ter certeza de que eu pediria para você voltar em outro momento. — Naruto sentou-se no sofá revestido com um couro sintético em um tom avermelhado. Estava com um sorriso amarelo, já meio arrependido de estar ali.

— Sua casa continua a mesma — observou o ambiente e comentou, por falta de assunto.

— Sou conservadora em relação às mudanças — falou indo em direção à cozinha. Naruto abaixou a cabeça e refletiu sobre ela, relembrando toda a estrutura de sua personalidade estável, detalhista e simplista.

— Então você se lembrou de mim — ela afirmou sem rodeios, entregando ao Naruto uma xícara de chá gelado. Sentou-se na poltrona à frente do sofá onde ele havia se sentado e o encarou enquanto bebericava seu chá. O louro que estava desconcertado pelas palavras de Hinata, e ela sentia-se vem por tê-las dito. Era realmente uma vergonha ele sumir e reaparecer assim, de repente, sem razão alguma, como se não soubesse da bagunça que deixou para traz quando parou de vê-la.

— Arranjei um tempo e vim te ver — mentiu. — Estava com saudades. Como anda a vida? — mudou de assunto rapidamente tomando um gole do chá, se esforçando para não fazer careta. Estava muito amargo.

— Bom, ando fazendo tudo o que fazia na época em que você costumava vir me ver — respondeu sincera o olhando nos olhos.

— Hinata, pode deixar de lado, só por um instante, que nos afastamos um do outro?

— Que você se afastou — corrigiu com mágoa. — Para falar a verdade, eu acho que não dá, não. Sinto muito, Naruto.

Um silêncio incômodo pairou a sala por um tempo. Hinata imaginou que ele fosse se levantar e ir embora, esperou por isso, até porque estava tirando toda a coragem e força de vontade que tinha para respondê-lo daquele jeito. Temia que a qualquer simples palavra dele, ela pudesse desmoronar. Naruto também pensou em sair dali, mas sabia que em algum momento precisaria encará-la. Adiar o inevitável não resolveria nada.

— Como você está? — Hinata perguntou de volta depois de um tempo em silêncio, tentando amenizar o clima.

— Bem, também — respondeu forçando um sorriso. Não estava nada bem, estava pior do que quando havia entrado.

— E a Sakura? — Naruto ergueu uma sobrancelha surpreso pela pergunta.

— Deve estar bem — respondeu sem muita paciência. Não queria falar da Sakura.

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