Capítulo 01

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[ Marta ]

— Impressionante, Marta — Zé se manifestou fechando uma das pastas a sua frente quando a reunião acabou e todos saíram, restando apenas nós dois na sala.

— Oque? A minha beleza? Minha inteligência ou serão os meus lindos olhos azuis? — Debochei sabendo que o irritaria.

— Não! A sua capacidade infinita de me irritar. Isso é impressionante! — Ele me encarou tentando fazer aquela típica cara de "cabra macho", mas eu era a única que conseguia enxergar além.

— Ah, para!  Você deveria me agradecer, sem mim você não teria chegado nem na esquina, tá?! — Me levantei passando por trás dele e me  inclinei perto de seu ouvido — Sem mim você não seria o comendador. 

— Patética. Isso que você é — Ele semicerrou os olhos e encarou os meus.

— Patética, eu? Porque?

— Porque você é Marta. Se conforma que você nunca vai sentar nessa cadeira — Ele se levantou passando por mim,  fechando um dos botões de seu paletó. 

Me sentei no lugar dele, na cadeira da presidência, cruzei minhas pernas e o encarei com um sorriso de lado.

— Se você soubesse como fica ridícula nessa cadeira — Novamente ele me alfinetou ajeitando o bigode — Você nunca vai comandar a Império, se conforme.

Me levantei e fui até ele, ficando a uma distância considerável, me encarando na mesa atrás de mim.

— Eu já comandei você, o dono,  a empresa eu tiro de letra — dei uma piscadinha pra ele que o fez semicerrar novamente os olhos contra mim.— agora eu já vou porque meu tempo é muito precioso para ser gasto com você — passei por ele dando uma batidinha em seu ombro.

— Ah, graças a Deus vai me dar um descanso — Ele ergueu as mãos pro céu em agradecimento. 

— Depois a patética sou eu né, bode velho?— Implique sabendo que ele odiava quando o  chamava assim.

— Marta, Marta. Você não me tira do sério. 

— Ah, não gente. Vocês já estão brigando de novo? — Maria Clara entrou na sala.

— Seu pai que é um chucro ignorante.— fiz um drama vendo ele me olhar com cara de quem se pudesse voaria em mim.

— Gente, a essa hora do dia? Por favor.

— Ignorante aqui é você — ele revidou me  olhando e vindo na minha direção com raiva.

Maria Clara entrou no meio de nós dois.

— Chega! — Ela deu um grito e nos aquietamos — Será que vocês não conseguem ficar no mesmo lugar por cinco minutos sem brigar? Que coisa chata isso.

Zé voltou pra de trás da mesa dele, pondo os óculos e se sentando. 

— Pai, mandaram te entregar isso — Maria Clara colocou um envelope volumoso sobre a mesa do pai.

Tinha um papel branco colado com provavelmente o nome do remetente, mas não consegui ler. Zé abriu e puxou pra cima o conteúdo, mas logo pôs de volta no envelope, me pareceu surpreso com oque viu.

— Posso saber oque é isso aí?— Perguntei na "cara de pau".

— O nome que tá escrito aqui é o meu, não seu. E outra, você já não estava indo embora. Então...— Ele apontou a porta.

— Tá vendo? Grosso! — Dei as costas e saí da sala.

— Precisava falar assim com ela, pai?— Maria Clara o repreendeu cruzando os braços. 

— Precisava. Não fico perguntando nada da vida dela. Isso já virou mania de sua mãe — Respondeu encarando os outros papéis em sua mesa.

— E oque que era esse envelope aí?

— Você também?

— Ué, perguntar não ofende.

— É, mas a curiosidade matou o gato.

— Já vi que hoje nem sua filha preferida vai conseguir reverter esse seu mau humor diário. — Ela ia saindo.

— Maria Clara, espere. Desculpe — Ele tirou os óculos e se levantou indo em direção a filha — É que hoje estou de cabeça cheia e sua mãe me tira do sério — Ele deu beijo na testa dela — Te amo.

— Eu também! 

Só Maria Clara para derreter o coração cangaceiro do comendador. 

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— Só essa sua voz pra melhorar o meu dia — Zé falava ao telefone enquanto caminhava até sua sala.

— Hum, tô morrendo de saudades — Isis respondeu em tom manhoso.

— Eu sei. Eu também. Assim que der eu vou te ver. 

— Gostou do presente?

— Adorei. Você sabe do que eu gosto. Vou guardar todas pra lembrar de você. 

— Hum, tá bom. Tenho que ir. Beijinho. Te amo — Ela declarou.

— Tchau. 

Desligaram.

A explicação de tudo era a seguinte: Zé estava tendo um caso com Maria Isis, uma mulher muito mais nova que ele. Estavam juntos a quase um ano, e no  meio disso tudo ele já não sentia mais atração por Marta, pois mesmo casados, ambos encaravam o casamento como de "fachada''. Sendo assim, tal traição não seria um problema. Contudo, Marta ainda não sabia dos desvios dele. Mesmo ela dizendo que não sente nada por ele, mesmo vivendo em pé de guerra com toda hora, lá no fundo ela ainda era completamente apaixonada por ele, rendida como no primeiro dia. O amor por ele ainda ardia no peito dela, só não demonstrava por não querer parecer fraca aos olhos dele, uma dependente de seus carinhos do marido. A verdade é que esse nunca foi o forte de Marta, sua personalidade exigia firmeza, soberba, decisão sobre oque fazer e como agir. Porém, uma traição confirmada e escancara assim, poderia mexer com as estruturas da Imperatriz. Sua cabeça daria um nó ao descobrir que está perdendo Zé de vez. 
Já à noite, fim do expediente. Só restavam Marta, Valquíria e Zé na Império. Aquele envelope e principalmente o conteúdo desconhecido dele, estavam aguçando a curiosidade dela. Queria saber oque o marido andava aprontando. Pois então, esperou que ele saísse para ir atrás.
Durante o caminho, enquanto o seguia em seu carro, Marta sentia algo diferente começar a acontecer dentro dela, algo que parecia um pressentimento ruim, talvez em forma de aviso. Mas com sua imensa teimosia, insistiu em seguir em frente.

Um pouco afastada para não dar na vista, ela parou o carro. Vendo o carro de Zé estacionar mais na frente, na estrada de um dos restaurantes mais caros do Rio. A princípio,  ela não estava entendendo nada. Seria um jantar de negócios?
Logo atrás ela viu uma figura conhecida entrar no restaurante. No mesmo momento, ela saiu do carro e cruzou a rua, chegou até a frente do estabelecimento, sentindo seu coração acelerar de uma hora pra outra. Quando finalmente entrou, uma mesa reservada e específica lhe chamou atenção. Do jeito extasiado que ela estava, assim se aproximou deles. Zé e Isis estavam em um clima completamente romântico aos beijos. 
Marta parou frente a mesa e esperou até que sua presença fosse notada. Quando aconteceu, Zé a olhou espantado junto a sua acompanhante. Os olhos azuis de Marta se encheram de lágrimas e sua feição expressava raiva e incredulidade. 

— Marta… o que está fazendo aqui? Não vai fazer escândalo, vamos conversar em outro lugar — Zé esboçou a maior calma do mundo.

Os olhos dela estavam fixos em Ísis, a imperatriz desejou esmagá-la como a um inseto naquele momento,  mas sua postura não permitiu. Ela o olhou sem nem saber oque dizer. Apenas observou o rosto dele, sentindo as lágrimas escorrerem por seu rosto. Foi com aquele olhar de raiva e desorientação que ela saiu sem dizer nada.

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Muito obrigada por ler. Até o próximo. ❤❤

Meu Diamante - MALFREDOnde histórias criam vida. Descubra agora