Capítulo 02

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O jeito furioso com que Marta entrou em casa, por pouco não abala as estruturas da casa. Ela bateu a porta da frente com toda a força, cruzando a sala a passos duros. Assustando Maria Clara e Zé Pedro que estavam no local.

— Que isso? — Clara se assustou — Mãe?

Sem nem sequer olhar ou ouvir nenhum deles, Marta subiu as escadas.

— Oque aconteceu? — Zé Pedro perguntou também atônito. 

— Também não sei — deu de ombros, espantada.

João Lucas veio da cozinha, provavelmente querendo saber que barulho foi aquele.

— O que que aconteceu? Que barulho foi esse? 

— Não sei, minha mãe chegou batendo essa porta tão forte que só faltou derrubar a casa — Clara respondeu. 

— Eu hein, e não falou o porquê?

— Claro que não né, Lucas. Ela nem olhou na nossa cara.

Enquanto isso, Zé também chega em casa batendo as portas, assustando os irmãos Medeiros.

— Cadê a mãe de vocês?— Perguntou impaciente, com cara de quem se pudesse acertaria no primeiro que passasse à sua frente.

— Acabou de chegar e subiu— Lucas informou.

— Tá acontecendo alguma coisa, pai? — Clara perguntou.

Zé também não respondeu, apenas subiu as escadas tão rápido que ignorou alguns degraus.

[...]

No andar de cima, Marta entrou no quarto de Zé, jogando sua bolsa na poltrona. Antes, abriu a gaveta da mobília perto da cama e bagunçou tudo à procura de algo que rapidamente encontrou. Uma tesoura! Tento ela em mãos, começou a desarrumar a cama dele com toda a raiva que cabia dentro de si e se colocou a rasgar os travesseiros. Com toda aquela raiva, sangue quente, ela sem querer desviou a tesoura e acidentalmente cortou a própria mão. Mas mesmo assim não parou de descontar sua raiva nos pobres travesseiros. 

Ao chegar na porta e ver a cena, Zé correu para tirá-la de lá.

— Para com isso Marta — Ele agarrou a cintura dela, a arrancando de lá  na força do braço enquanto a mesma se debatia para se soltar.

— Me solta! Ou eu vou rasgar sua cara com essa tesoura. Agradeça que foi a cama a ser destruída — Ela gritou jogando a tesoura no chão. 

— Para com esse show ridículo, Marta — Ele respirava fundo de tanta raiva, em ver sua cama num completo desastre.

— Show? Você me traiu e não quer que eu faça nada? Ridículo é você, Zé, jagunço, desgraçado — Marta partiu pra cima dele com socos precisos.

— PARA COM ISSO, PARA — daquela vez o grito foi bem mais alto. Ele segurou os punhos dela, arregalando os olhos — Para, você tá fazendo esse show todo de graça pra quê Marta? Você sabia muito bem que uma hora ou outra isso ia acontecer, eu não sinto mais nada por você e nem você por mim, isso nunca foi segredo. Qual é a novidade?

— A novidade é que a idiota aqui ainda é apaixonada por você. Ou será que nunca percebeu isso? É claro que você percebeu. Só que a diferença é que eu só servi pra te levar ao topo, pra te fazer quem você é hoje. Eu te ajudei — Ela bateu no peito — Eu te fiz José Alfredo Medeiros! E se esse homem todo poderoso existe hoje, é graças a mim. Esse Império todo só existe graças a mim. Eu fiz de tudo pra te ajudar, tudo. Te dei três filhos, seus herdeiros. Tudo isso pra quê? Pra ser trocada por uma garota? uma fedelha cheirando a leite?

— Para de palhaçada, Marta. Se eu sou o que eu sou hoje é por mérito próprio, meu esforço. 

— Seu esforço? Seu esforço? Você é muito mal agradecido mesmo. Me fala, a sua franguinha foi atrás de você naquele monte te buscar com uma bala no peito? Hein? Foi ela quem enfrentou um inferno pra ir atrás de você? 

Ambos se encararam, cada um com seus níveis de raiva e expressões duras.

— Eu te avisei que não sentia mais nada por você. Que estávamos casados só no papel — Ele tentou falar mais calmo — Nosso casamento já deu, Marta. Acabou. Eu amo Isis. 

Aquela frase fez o estômago de Marta revirar, suas bochechas ficarem vermelhas, os olhos encherem de lágrimas e seu coração foi definitivamente quebrado. Suas entranhas queimavam e ela desejou desaparecer.

— Escuta uma coisa. Essa garota ainda vai te dar uma rasteira tão grande, mas tão grande que você vai se arrepender de ter me deixado pra ir atrás dela. Eu duvido que ela te aguente os anos que eu te aguentei, tendo que ouvir e ver tanta coisa. Quando você perceber que ela não te ama e que só tá afim do seu dinheiro, é em mim que você vai pensar. E outra, ela nunca, mas nunca vai tomar o meu lugar. Nunca! Você quer viver com ela? Que viva, que morram os dois juntos. Mas o meu lugar de Imperatriz, ninguém toma — Ela saiu do quarto batendo a porta.

No corredor, Maria Clara vinha na direção do quarto do pai quando deu de cara com Marta escorada na parede.

— Mãe? Que gritaria foi essa? — Clara tentou encarar os olhos da mãe.

Marta entrou no quarto com a filha atrás. 

— Seu pai...— Ela limpou o rosto.

— Oque tem ele?

— Está me traindo com a Maria Isis, aquela fedelha desgraçada — Ela se sentou na cama.

Maria Clara ficou atônita.

— Como é que é? Você tá brincando, né?

Os olhos molhados de Marta, responderam a pergunta da filha.

— Isso só pode ser brincadeira. Como que ele teve coragem de fazer isso? Não acredito. Como ficou sabendo disso?—Ela segurou as mãos da mãe. 

— Fui atrás dele num restaurante, e ele estava lá com aquela criança, aquela garota ainda deve ser menor de idade. Oque foi que ele viu naquela criatura odiosa?

Maria Clara balançou a cabeça negativamente. Ainda estava sem acreditar naquilo. Ela sabia que o casamento deles já estava pra lá de desgastado, mas trair, ela nunca pensou. Estava indignada. 
Ao contrário da novela, Maria Clara era a mais próxima de Marta. Além de serem mãe e filha, eram amigas também. Sempre contavam uma com a outra.

— Mas isso não vai ficar assim. Eu vou fazer da vida dele um verdadeiro inferno. Escuta uma coisa, essa menina não vai ficar no meu lugar, nem aqui nem na empresa — Ela falou com convicção. 

— Não vai mesmo. Nessa casa ela não fica nem por cima do meu cadáver, que isso? Meu pai ficou maluco? Não mesmo  — Ela voltou a se sentar.

A mulher enxugou as lágrimas que ainda caiam sobre o rosto de Marta. 

— Pra mim você não precisa ser forte, eu sei o quanto isso está te matando por dentro — disse Clara, conseguindo enxergar além da aparência.

Marta nada disse, apenas deitou a cabeça no colo da filha, pondo de lado sua armadura de durona por um breve momento de fragilidade.

Meu Diamante - MALFREDOnde histórias criam vida. Descubra agora