Capitulo 19

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Nem em seus pensamentos mais fantasiosos,  Clara imaginou ouvir tal coisa tão sentimental do pai. Zé, que era um homem aparentemente desprovido de qualquer sentimento amoroso e mais íntimos por Marta, estava ali admitindo que sua força vinha dela. Obviamente aquilo deu um nó na cabeça de Clara.

— Por que o espanto, Clara?

— Por que o espanto? Por que o espanto? Você só pode estar brincando comigo ou sei lá oque! Pai, você e minha mãe brigam feito gato e rato desde que eu e meus irmãos nos entendemos por gente, vivem em pé de guerra por conta do dinheiro e da presidência da império. Agora como se não bastasse, a gente descobre uma traição de dois anos na qual ela e todos nós estávamos servindo de palhaços, para agora você chegar com esse seu sentimentalismo de beira de esquina para me dizer que sua suposta  força nunca veio daquela pedra e sim da minha mãe? Ah, por favor, né?!— Ela demonstrou toda indignação em sua fala.

Zé ficou em silêncio. Em seu interior, ele sabia que ninguém iria entender assim fácil,  também, ele tinha dado razões o suficiente para estar sem crédito algum diante de sua família.

— Eu sei de tudo isso, ok?! Só que eu também sei reconhecer quando estou errando em alguma coisa — admitiu.

— Olha, tá aí outra coisa que eu não sabia!— Ela ironizou.

— Chega, Maria Clara. Eu estou falando sério — pediu, mais sem alterar a voz — minha força vem da sua mãe sim — admitiu novamente, mais sem encarar Clara nos olhos — sempre veio! Eu não sei continuar sem ela — ele olhou para o rosto apagado de Marta — ela estava lá no começo de tudo, mandando em mim e enfim. Como diz João Lucas em um desses joguinhos: "eu não sei passar dessa fase" "eu não sei passar dessa fase sem ela" — ele reformulou a frase.

— Você ainda ama a minha mãe?— Clara foi objetiva e sem rodeios.

Ainda atônita, Clara perguntou.

Zé titubeou. Quando a resposta vinha, seu celular tocou, ele se apressou em desligar, pois não podia ter barulho naquele ambiente. Assim que tirou o aparelho do bolso, na tela aparecia o nome a foto de Isis. Clara ao ver, o lançou um olhar ameaçador. Dado ao momento nada propício, ele desligou.

— Com licença, o tempo acabou!— o médico avisou ao aparecer na porta.

Antes de sair, mais um ato surpresa vindo de Zé que impressionou Clara. Ele se aproximou devagar de Marta e deixou um beijo em sua testa, depois encostou a sua na dela, fechou os olhos e respirou fundo, parecendo absorver dela alguma força.

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No dia seguinte...

Naquele período da tarde, todos estavam em reunião na império. Menos Marta, que lógicamente ainda estava no hospital. Assuntos importantes estavam sendo debatidos, porém com uma certa dificuldade, pois todos ali não pensavam em outra coisa que não fosse o estado de Marta.

Até que Valquíria entrou na sala de reuniões com o telefone na mão.

— Com licença, seu comendador...

— Seja breve Valquíria,  hoje eu não estou com tempo para perder. Espero que seja importante —  Ele respondeu sem nem sequer olhar para a secretária.

— É importante sim. É que ligaram do hospital, dona Marta acordou!

Aquilo sim fez Valquíria ganhar a atenção de todos os presentes.

Clara olhou sorrindo para o pai.

— Oque a gente tá esperando? Vamos pro hospital agora — Clara deu a iniciativa.

— Isso é ótimo, vamos — Zé Pedro disse.

E todos saíram.

— Valquíria, cancele tudo para hoje — Zé ordenou sendo o último a sair.

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— Você levou um tiro, mãe!—  Clara explicou, segurando a mão da mãe.

— É, agora eu estou me lembrando — Marta respondeu um pouco devagar e arrastado.

A imperatriz ainda estava sobre efeitos dos anestésicos. Por isso a fala um pouco arrastada. Mais ganhou permissão para ficar sentada e com a condição de não se emocionar e nem retirar a máscara de oxigênio do rosto.

— Foi horrível, ninguém viu de onde veio a bala, nada! Quando vi, você já estava pálida, quase desmaiando e o meu pai segurando você —  Clara disse com a voz embargada.

Marta deu um sorriso fraco e segurou firme a mão da filha.

— Eu só me lembro daquela dor insuportável e de ver seu pai...e cadê o Zé? Ele está bem? —  Sem nem sequer perceber, ela cuidava dele em seu subconsciente.

— Meu pai esta ótimo, mãe! Comendador velho de guerra de sempre.— Zé Pedro respondeu.

— Verdade!—  João Lucas afirmou.

— Velho está o seu passado!—  a voz de Zé na porta atraiu a atenção dos demais.

— Clara, vamos deixar os coroas aí. Depois a gente volta —  Lucas sugeriu.

Antes de sair, o filho mais novo da imperatriz foi até ela e lhe deu um beijo na testa e um abraço bem fraco por conta dos pontos frescos que ela tinha e saíram.

Marta realmente ainda estava muito fraca, sem forças até para fazer uma de suas piadinhas de lei.

Mais a conexão do olhar deles foi tão forte que não precisou de palavra nenhuma.

Zé se sentou à beira da cama e segurou a mão dela, sentindo ela retribuir.

— Você deve estar adorando me ver aqui, não é?— Ela soltou a mão dele.

— Em outros tempos eu até poderia dizer que sim...

— E agora?

— Agora, não.

Ele olhou bem para ela, segurou novamente sua mão, entrelaçando seus dedos nos dela. Levou a outra mão dela a máscara de oxigênio que ela usava, retirou devagar e, vencido por uma vontade que já já sentia fazia tempo, ele a beijou devagar, sentindo ela começar a chorar, mais retribuir. Marta levou sua mão cheias de fios ligados até o rosto dele fez um carinho.




Meu Diamante - MALFREDOnde histórias criam vida. Descubra agora