Capítulo 16. Diavol Vermelho

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"E quando ele colocou os olhos nela,
Sentiu como se já tivessem se encontrado antes"

Babooshka- Kate Bush

Aiden estava calado desde que me fez sair de dentro daquele lugar. Os olhos dele estavam frios e mais claros, tive a impressão de que se ele olhasse para mim, eu seria perfurada com uma estalactite de gelo ou queimada em um mar de lava.

Senti o ardor de seus olhos azuis sobre as marcas causadas pelos dedos de sua mãe em meus ombros, depois ele levantou as pupilas para meu rosto. Suspirei e rapidamente olhei para uma estátua grega sem braços repleta de trepadeiras e flores amarelas.

Um clima esquisito começou a surgir.

— Não fique andando sozinha. — Falou rouco. — Assim evita de coisas inconvenientes como essas acontecerem.

— Desculpe. — Respondi mordendo os lábios. — Você está irritado?

— Não com você. — Passou os dedos pela testa, colocando os cabelos crescidos e alinhados para trás. — Ravena… não está bem de saúde, ela diz essas coisas mesmo que Eris não seja filho dela. Minha mãe está doente, então evite contato com ela.

Me mantive calada por alguns minutos. Andamos pelo jardim e saímos de trás da mansão, acabando por seguir um caminho de pedras vermelhas até o portão que nos levava a um lago artificial.

Aiden parou de pé observando o horizonte, o sol já estava desmanchando sob o céu, formando uma mistura de azul, amarelo e rosa refletidos na água.

Virei o rosto para ele, suas habituais luvas vermelhas mergulhadas nos bolsos brincando com algo que lá estava guardado. O formato quadrado me fez ter certeza de que era uma caixa de cigarros, os quais ele estava ansioso por acender e tragar. 

— Cleber já está contido, ele ficou atordoado porque vai morar na Romênia com o pai. — Falou. — Sinto muito por ter visto aquilo, compreendo que tenha corrido. 

— Ah, fiquei com medo de levar uma bala perdida. — Sorri quando surgiu a oportunidade de desfazer o clima estranho. Minha pulseira de moedas tilintando quando cocei a nuca.  — No meio da minha fuga, encontrei um menino sofrendo bullying de outras crianças e tive que cuidar da situação. Não foi tudo ruim, pelo menos consegui salvá-lo.  

Aiden virou a cabeça para mim e finalmente sorriu, desviando os olhos para os próprios pés. Alguns fios de cabelo preto caíram em seus olhos.

— São só crianças, deixe que elas resolvam os próprios problemas.

— Só crianças uma vírgula. — Falei. — Eu lembro de quando eu sofria bullying na escola quando era menor. Todos os meus dentes de leite foram perdidos por causa de lutas entre valentões.

— Oh, você era uma lutadora? — Perguntou levantando uma sobrancelha.

— Não, eu apanhava mesmo. Quem cuidava de mim era Carmem. — Me lembrei sorrindo. — Ela tem punhos muito fortes, massacrava todos que me enfrentavam. Por isso acho que deveriam haver mais Carmens no mundo.

Aiden começou a andar em volta do lago e eu o segui. Meus pés estavam doloridos por causa dos saltos grandes demais que eu carregava nas mãos, porém aquelas pedras pontudas no chão machucavam mais. Reprimi os gemidos e continuei a caminhar.

— Sua vida escolar deve ter sido muito emocionante. — Murmurou. A brisa gelada batendo em seu rosto e me fazendo sentir seu perfume cítrico. 

— Mas foi mesmo. Na época foi horrível, porém hoje eu me lembro disso rindo com Carmem. — Suspirei. — Mas e você, qual é a sua história?

Amélia, Da Cor do Sangue ‐ Livro O1 {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora