Capítulo 45. Garras Humanas

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"O mundo é uma maldição, ele vai te matar se você permitir
Sei que existem pílulas que podem te ajudar a esquecer
Eles as engarrafam e chamam isso de remédio
Mas eu não preciso de drogas
Porque eu já estou chapada o suficiente"

High Enough - K. Flay

Naquele momento eu me senti vazia, pesada como se uma bigorna daqueles desenhos animados tivesse atingido minhas costas.

Alguém que pode reanimar mortos, alguma ilha secreta onde vivem pessoas que não são humanas, uma espécie diferente e superior observando meus passos por algum motivo até o momento desconhecido. Que coisa mais ridícula!

Mordi o lábio e apertei as minhas pálpebras com força, respirando de forma controlada até que eu pudesse ser puxada para o chão novamente, até que a sensação da minha cabeça chacoalhando acabasse de uma vez. Duas Amélias estavam brigando entre si, e a cada vez que uma tentava calar a outra, ambas se feriam no processo.

Apertei as unhas falsas contra as palmas das mãos com mais força do que pretendia.

O estado de negação acabou quando a dor começou.

Em meio a minha agonia, algumas mulheres e homens bonitos demais com véus no rosto, entraram no ambiente levantando as cortinas e rebolando com quitutes em bandejas nas mãos. Formei uma ruga entre as sobrancelhas enquanto Eris os observava dos pés à cabeça com uma grande malícia.

— Não acho que ela queira vocês agora. — Eris segurou o tecido transparente do vestido de uma mulher que caminhava para perto de mim, e ainda sorrindo ele me observou inclinando a cabeça. — Você os quer, Sunshine?

Eu fiz uma careta confusa.

— Você prefere homens ou mulheres? — Perguntou um homem de cabelos longos e amarelos queimados. Mordi a bochecha interna desviando os olhos da pessoa completamente nua e coberta por panos transparentes alaranjados tão perto de mim. — Ou talvez goste de ambos?

— Prefere que sejamos ambos juntos? — Perguntou outra mulher de cabelos acobreados presos em uma trança. — Você quer? Podemos ser seus agora mesmo se pedir.

Se eu dissesse que não estava tentada bem lá no fundo do meu coração, seria uma grande mentira. Eu nunca havia visto duas pessoas tão bonitas, com cabelos tão sedosos e cheiros tão doces. Era como se eu estivesse no paraíso e ao mesmo tempo debaixo da terra.

Me virei para Eris.

— Você é um pervertido nojento. — Murmurei.

Eu? — Perguntou levantando as sobrancelhas e piscou levemente indignado. — Eles querem você e estão perguntando se é recíproco. Basta dizer sim ou não. A noite é longa, o dia também. Se quiser permanecer aqui eu não vou me opor, aliás seria ótimo porque facilitaria minha vida.

Olhei para a mulher de cabelos acobreados quando ela pegou uma mecha de meus cabelos e esfregou contra seu indicador e polegar. As bochechas dela começaram a enrubescer, umedeceu os lábios e sorriu novamente ao se curvar para mim com sua altura não tão exorbitante quanto a de Eris.

— Eu gosto do seu cheiro. — Ela falou. — Ele está me chamando. Você gosta de fêmeas e de machos, me deseja assim como também deseja Abner.

Levantei as sobrancelhas tão alto que acho que tive câimbra.

Eris deitou a cabeça no encosto do sofá e começou a gargalhar enquanto batia palmas se divertindo com a minha cara.

Sunshine, meu amor, acabe logo com a agonia deles, diga que os quer, diga que continuará aqui pelo resto das noites os fazendo felizes com beijos e carícias. — Eris me olhou zombando. — Eles gostaram de você, seja gentil. Fique com eles.

Amélia, Da Cor do Sangue ‐ Livro O1 {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora