"Preciso de alguém que me olhe nos olhos e me diga 'garota
Você precisa ficar de olho na sua saúde'"
Oblivion - GrimesEu estava há mais de duas horas agachada em frente às prateleiras do mercado, indecisa sobre levar os salgadinhos ou os amendoins.
Na verdade, eu estava olhando para os saquinhos coloridos enquanto minha mente navegava em outro lugar, os barulhos de tiros preenchendo meus ouvidos junto com o baque surdo daquele homem sendo arremessado ao chão em minha frente.
Depois que Aiden me deixou sozinha, Carmem me ligou por vontade própria, e quando eu disse que tinha uma fofoca para contar, ela foi até meu apartamento esbaforida como se tivesse corrido uma maratona.
Eu estava carente de atenção e companhia, por isso disse que contaria o que aconteceu comigo apenas depois de irmos até um mercadinho comprar besteiras e estarmos sentadinhas no meu sofá.
Na verdade eu só queria me livrar daquele sentimento autodestrutivo da imensa curiosidade que estava comendo minha mente.
A sensação de uma bomba prestes a explodir que Aiden pudesse estar carregando e a emoção de desarmá-la causava em meu peito a mesma sensação de pequenos insetos andando sobre meu estômago, vermes deslizando dentro de minhas veias e formigamentos em meu coração. Minha palpitação estava acelerada enquanto minha imaginação trabalhava naqueles sons realistas dos tiros e depois daquele velho de novo sendo arremessado.
Eu não estava mais naquele mercado por um momento, e sim ainda agachada, observando o velho que estava sendo jogado da sacada em minha frente. Minha cabeça repetindo aquele movimento, me fazendo olhar para aquele homem brutamontes que o arremessou, raciocinando como se eu tivesse perdendo alguma coisa.
Havia algo estranho, algo de errado que me obrigava a rever aquilo até encontrar o que era.
De novo. De novo. De novo. De novo. De novo. De no…
— Amélia, o velho te deu um cartão platinum, se você quisesse podia levar o mercado inteiro. – Me assustando um pouco e forçando minha cabeça voltar à realidade, me virei para Carmem. Ela estava irritada, segurando sua cesta cheia de chocolates e latas de refrigerantes. – Além disso, aqueles dois estão me irritando.
Suspirando e piscando os olhos, me levantei segurando os dois sacos de salgadinhos e olhei para onde ela apontava.
— Você... 'tá bem? – Ela perguntou inclinando a cabeça.
— Mas é claro. – Respondi emburrada. — Você está falando dos seguranças?
Carlos e Mabel estavam longe de nós, vestidos à paisana, sem aquelas roupas pretas como eu havia pedido, e fingindo discutir algo enquanto nos observavam discretamente no início do corredor repleto de doces e salgados.
— Eles nem estão tão perto de nós, Carmem. – Falei colocando os dois salgadinhos dentro da cesta. – Eles estão indo bem, desde que não sejam invasivos.
— Amélia, tem dois iguais a eles na entrada do mercado, dois deles na entrada no shopping e dois nas filas ao nosso lado! – Carmem colocou a boca entre os produtos da prateleira e gritou para que ouvissem. — Sem falar nos que estão disfarçados!
— Carmem, para com isso! – Segurei seu braço enquanto as pessoas do mercado olhavam para nós de cara feia, e um bebê começou a chorar. Sorri amarelo para a mulher que o carregava no colo. – Calma que eu vou te explicar, tá? Espera a gente voltar.
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Amélia, Da Cor do Sangue ‐ Livro O1 {CONCLUÍDO}
Science Fiction{OBRA DEVIDAMENTE REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL} - "A sequência desse livro, "A Desolação de Amélia - Livro O2" está disponível aqui na plataforma também. - • Amélia odeia o vermelho, ela odeia sangue, tudo por causa da sua fobia pelo líquido. A...