Capítulo O3. Montecchio e Capuleto

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"Se você for, eu ficarei tão solitário
Se você estiver partindo, querida, então tenha compaixão e me decepcione aos poucos"
Let me Down Slowly - Alec Benjamin and Alessia Cara
 


 
Bem, aquela briga havia acontecido pela manhã, e eu consegui voltar para casa apenas a noite, ou seja, não aproveitei nada do meu sábado.
Eu deveria ser eternamente grata ao Burguês Safado que se chamava Aiden.

Ele passou horas trancado com Cleber em seu carro, e o convenceu a não fazer o boletim de ocorrência contra mim, e acredito que tenha sido bem convincente, porque ele apenas foi embora da delegacia soltando fogo pelas ventas e me encarando com raiva quando atravessava a porta de vidro.

— Eu posso levá-la para casa. Parece cansada. – Se agachou em minha frente analisando as ataduras em meus braços com os olhos azuis.

Amarrei meu cabelo volumoso atrás da cabeça, imaginando o quão decadente estava meu rosto e deixei os saltos que haviam de quebrado abaixo da cadeira, esfregando meus pés no chão gelado e sentindo a coriza descer.

— Você está sendo muito gentil. Não gosto de pessoas assim. – Sussurrou me arrependendo logo depois. – Bem, não é que eu não goste de gentileza, mas é que quando alguém é assim comigo, geralmente querem alguma coisa que não posso dar em troca.

— Eu só quero que você vá para casa. Está frio. – Sorriu. – Vamos, se não quiser que eu lhe leve e nem meu motorista, posso chamar um táxi. Tudo bem?

Ele não me tocava, manteve-se perfeitamente afastado de mim, de forma confortável ainda olhando em meus olhos de forma que me senti imaginando que ele podia descobrir todos os podres que eu tinha ao longo dos meus dezenove anos.

— Tudo bem. – Me levantei pegando os sapatos nas mãos, ainda espirrando como uma louca. Um policial sujou o rosto com meu espirro porque não tive tempo de tampar o nariz. Aiden me empurrou pelos ombros para o lado oposto de onde estava o policial com os olhos fechados e uma horrenda careta de nojo.

Andamos para um ponto de táxi, onde ele me deu seu sobretudo. Aquela peça de roupa era cara, tinha a absoluta certeza que aquilo custava cinco mensalidades da minha faculdade mais o meu aluguel.

— Amélia – Falou meu nome abaixando a cabeça para me olhar. – Resolvemos temporariamente essa questão de Cleber, mas dando um conselho a você, acho que deveria tentar controlar seus impulsos. Ele mereceu completamente, adorei vê-lo naquele estado, mas-

— Você fala isso porque não foi você que ele tentou tirar a roupa, nem te beijar a força. – Levantei uma sobrancelha. – Ele tentou fazer isso comigo porque, quando aconteceu com os outros funcionários, ninguém ligou, e eu fui uma dessas pessoas que não se importou. Não vou mais ficar calada quando uma coisa dessas acontecer novamente, comigo ou com outras pessoas.

Ele suspirou e juntou as sobrancelhas.

— Desculpe. Acho que fui indelicado. – Abaixou a cabeça em um pedido de desculpas.

— Foi mesmo. – Falei cruzando os braços, mas ainda pisando em ovos porque o seu sobretudo estava tão confortável que não queria chateá-lo e correr o risco de ele levar minha fonte de calor.

— Eu quis dizer que você poderia resolver isso por outros meios. – Mexeu algo em seu celular, e ao vê-lo, lembrei que me esqueci de algo importante. – Você arranjou um novo problema além de seu desemprego.

— Cleber? – Ri com vontade. – Ele não me assusta.

Ele olhou para mim com um meio sorriso e não respondeu.

Amélia, Da Cor do Sangue ‐ Livro O1 {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora