Capítulo 38. A Criança de Cabelos Brancos

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"Eu tive um sonho em que eu tinha sete anos
Escalando uma árvore
Eu vi um pedaço do paraíso
Esperando impaciente por mim, lá embaixo"

Aurora - Runaway

— Lili! — Uma voz infantil e insistente gritava por um buraco na parede, ecoando no resto do local. — Lili!

Aquela criança estava desesperada, acordou com a cabeça apoiada na mesinha de plástico. Ela não sabia como havia parado naquele lugar, mas ao menos tinha certeza de que sua irmã mais velha estava lá também, tinha ouvido a voz dela e das pessoas que falaram seu nome. Aquela criancinha boba não imaginava que eles estavam falando em russo, e também não imaginava que tinha aprendido a língua naqueles poucos dias só de ouvir alguns homens de jaleco branco conversando.

Ela tinha a mente muito boa para entender os outros, mas era péssima de memória e números. A menina era muito diferente da irmã, que era perfeita em tudo que fizesse.

— Lili! — Sussurrou novamente com sua voz infantil. — Lili, cadê você?

— Estou aqui. Pare de gritar. — Ela falou de volta, seus sussurros ecoando. — Nós não deveríamos estar falando. Fique quieta.

— Por que têm tantos fios ligados aos seus braços e aos meus? — Perguntou a menina com um desespero evidente ao observá-la pelo cano por um dos olhos. — Estamos doentes?

— Você é muito criança para entender. Fique quieta. Aiden vai nos buscar daqui a pouco, você sabe. — Suspirou a irmã mais velha com impaciência. — Achei que você já estivesse acostumada. Fazemos isso todo mês.

A criança engoliu o choro e se sentou na cadeira colorida, olhou os desenhos bobos que fez e os lápis de cera que estavam sobre a mesinha. Sua cabeça se levantou e observou o quarto de paredes amarelas e o céu pintado de azul com nuvens de mentira que pairava sobre sua cabeça.

Ah, ela lembrava sim. Estavam fazendo exames como sempre. Aconteceu algo antes disso, não aconteceu? Por que ela não se recordava de tudo?

Nos seus flashes de memória, havia pessoas gritando em uma sala, havia sangue, havia muito sangue, a menininha chorona e frágil não conseguia lembrar do que tinha acontecido naquela sala, mas ela sabia que havia feito mal para aquelas crianças.

— Lilian? — A irmã mais velha suspirou e se virou para olhá-la da outra sala germinada. Seus cabelos eram tão bonitos como seda, cacheados e brancos como neve, assim como suas sobrancelhas e cílios que contrastavam com a pele escura. Sua irmã era a mulher mais bonita que já havia visto. — Lilian, eu não me lembro do que aconteceu antes de virmos. O que houve? Será que eu quem está doente?

Lilian suspirou, a máquina ligada aos braços da criança começou a apitar indicando o coração acelerado.

— Não Amélia, você não está doente. Sua memória é muito ruim, então aprenda logo a escrever e faça um diário para lembrar das coisas que deve fazer. — Lilian sorriu sem vontade. — Está tudo bem. Se você não se lembra, é porque não deve se lembrar. Descanse, quando eu me casar com Aiden, você não vai mais vir aqui.

Amélia?

Oh, eu era aquela criança.

Aiden?

Não... não podia ser.

Uma lembrança?

Olhei para meus pequenos desenhos na mesinha. Do outro lado, alguém entrou na sala de Lilian.







Amélia, Da Cor do Sangue ‐ Livro O1 {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora