Capítulo 27. Lírios Brancos Pintados de Vermelho

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"Um passo em falso e você é meu.
É melhor você ficar esperto se quiser sobreviver depois de cruzar a linha"

Monsters - Ruelle

Carmem havia pintado seu cabelo com as cores do arco-íris. 

Eu juro que não entendia como diabos os fios dela aguentavam firmes e fortes a quantidade de vezes que ela os descoloria e pintava sozinha.

Naquele momento estávamos sentadas no meu sofá da sala em uma tarde de domingo. Minhas pernas doíam por causa de Aiden a cada dia pegando mais pesado com aqueles treinos de dança todo santo dia de manhã. Ele parecia levar aquela coisa que aconteceria no Canadá muito a sério, porque ele estava muito mais rígido do que no primeiro dia em que nós ensaiamos, e olha que só haviam se passado duas semanas.

Aiden começou a reclamar da minha postura, disse que eu não deveria andar curvada como uma tartaruga.

— Pessoas respeitam aquelas que possuem  imponência na postura. — Falou colocando as mãos em meu tronco e em meu colo, me fazendo ficar reta, depois levando o dedo ao meu queixo o levantando. — Não se curve.

Suspirei tentando esquecer aquela lembrança e também esquecer que teria aulas com Aiden na manhã seguinte de segunda feira. Me espreguicei no sofá, bocejei e lambi os lábios esquecendo da argila branca que Carmem havia me feito passar no rosto.

— Por que diabos você 'tá tão agitada? — Ela perguntou virando para me olhar. O cabelo cheio de cremes hidratantes caros que compramos envolto em uma toalha rosa neon. — Você ainda tá pensando na família incestuosa do gostoso?

— Nossa, Carmem, eu 'tava tentando esquecer isso. — Revirei os olhos e peguei o controle 'pra dar play no episódio da série American horror Story. 

— Desculpa, desculpa. — Ela levantou as mãos em posição de rendição voltando os olhos pretos para a televisão. — Então você 'tava lembrando do fato de que um cara de quarenta e seis anos é virgem?

— Carmem! — Joguei uma almofada com estampas de girassóis dela, que pegou no ar com uma grande maestria. 

— Mas que é estranho é, você sabe. A menos que ele seja secretamente padre ou esteja planejando entrar pra o celibato. — Falou se curvando para pegar um bolinho de queijo que havíamos feito mais cedo da vasilha e enfiando na boca. — Você disse que ele não manda você parar quando começa a fazer qualquer coisa. Será que ele quer que seja você a fazer isso? 

Pisquei os olhos e cocei o pescoço escutando Carmem deduzir.

— E se ele começar a gostar de você pra valer? — Perguntou.

— Eu vou esclarecer 'pra ele que eu não quero relacionamento com ninguém. — Falei bebendo meu café puro. — Além disso, no contrato que nós fizemos, estava lá que não deveriam haver envolvimentos românticos entre nós dois com risco de rescisão. 

— Então ele falhou miseravelmente, já que tá gamadinho em você de qualquer forma. — Carmem riu de boca cheia. — Mas é bom que ele não seja seu namorado, eu não gosto dele.

— Não? — Perguntei. — Você não disse que achava ele um gostoso? 

— Acho, mas eu não gosto dele e nem ele gosta de mim. — Falou. — Ele me vê como um carrapato preso em você, e além disso, sinto uma energia estranha vindo dele. Acho que se ele pudesse, ele me arrancaria de você e me jogaria no fogo.

— Lá vem você de novo com coisas de energias 'pra ter preconceito contra as pessoas. — Revirei os olhos e olhei para a televisão. 

— Tô falando sério, o cara tem uma sombra escura envolvendo ele. Meus instintos de bruxa não falham. — Sussurrou arregalando os olhos. 

Amélia, Da Cor do Sangue ‐ Livro O1 {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora