Capítulo O2. Réu Primário

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"Eu sou uma estrela cadente saltando pelo céu
Como um tigre desafiando as leis da gravidade
Eu sou um carro de corrida passando por aí,"
Dont Stop Me Now - Queens


Chegar em casa foi uma dificuldade, principalmente por subir aquelas escadas intermináveis, parecia que eu estava pagando alguma promessa.
Enfiei as mãos na mochila achando minhas chaves, e quando enfiei na porta, a mulher mais insuportável do mundo começou a falar com sua voz anasalada.

- Chegou tarde em casa hoje, Amélia. – Olhei para trás. Ela tinha o cigarro nas mãos, cabelo ruivo amarrado no alto da cabeça e cinco gatos atrás dela dormiam no sofá de seu apartamento. Ela tinha cheiro de incenso e tabaco. Uma típica velha fofoqueira. – O que aconteceu que te distraiu a esse ponto? Homens, mulheres?

- Como vai, Dona Prudência? – Sorri sem graça. – Boa noite.

Entrei e fechei a porta quando ela começou a fazer mais perguntas. Deslizei pela porta e caí no chão com o cansaço do dia sentindo saudades do meu pet Paçoca.

Comecei a tirar as roupas molhadas e joguei no cesto, entrando em pânico quando não achei meu celular.
Lembrei do homem correndo até a porta do bar com algo nas mãos. Comecei a me recordar do retângulo rosa, o meu celular.

- Ah, aquela porcaria não funciona mesmo. – Reclamei murmurando entrando no chuveiro, tomando o banho mais longo que já tomei em toda a minha vida, e nem notei quando me joguei na cama e peguei no sono.



Acordei me sentindo atropelada por um milhão de elefantes. Cansada como um urso prestes a hibernar  e com o nariz entupido, então como uma boa menina, me restou apenas sentar no sofá e abrir The Wicher para assistir, e claro, baixado de forma pirata, porque é isso que gente pobre faz.

Me estiquei no sofá com uma caixa de panetone, o qual eu pretendia devorar inteiro naquela manhã e jogar meus problemas no fundo do poço.

Já havia se passado um dia desde o encontro com o Burguês Safado do bar, e bem, eu deveria continuar minha vida, mesmo com tudo pegando fogo e explodindo com os pedaços de madeira acertando minha cabeça.

Mas eu ainda estava encucada com o motivo da minha demissão.

Provavelmente eu havia feito a pior bobagem da minha vida que me rendeu uma passagem pela polícia.

De pé ante o prédio da antiga empresa que trabalhava, repensava se valeria a pena a humilhação e escândalo que estava prestes a passar. Eu já estava respirando na força do ódio e rangendo os dentes com tanta força, que não me surpreenderia se um deles quebrasse.

Aqueles saltos doloridos eram os meus piores inimigos, e eu rezava para tudo e todos, torcendo para não quebrar o  tornozelos naquele sapato enquanto subia as escadas e me encaminhava para o elevador.

Na recepção, os funcionários me olharam torto, principalmente quando me apoiei a beira do balcão e olhei para Cecília mascando um chiclete com cheiro forte de morango, tinha os olhos delineados com rímel e seus lábios eram tão vermelhos quanto seu cabelo.

- Olá? – Falei enquanto ela colocava o telefone no gancho. – Eu queria falar com o Cleber. Me deixa subir e ir até a sala dele, please?

- Quem você acha que é? – Ela abria a boca vermelha para mascar o chiclete e fazia bolinhas. – Não pode chegar aqui dando ordens depois do escândalo que fez. O Senhor Cleber, não fica disponível para qualquer uma, e precisamente para você. Envergonhou essa empresa.

Amélia, Da Cor do Sangue ‐ Livro O1 {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora