Capítulo 39. A Oitava Duquesa

652 98 75
                                    

Por favor, mantenha a calma, o fim chegou;
Não podemos salvar você agora, querida;
É o momento que todos estavam esperando;
Não chame isso de aviso, isso é uma guerra;

Parasite Eve - Bring Me the Horizon

Aiden e Pietro ficaram do lado de fora quando entrei — E fui empurrada — pela porta sem entender muita coisa.

"Ela te achou... interessante."

Aquele cômodo era grande demais para um quarto, branco demais, exceto os ladrilhos pretos e brancos do chão que se dispunham ali alinhados como um tabuleiro de xadrez.

Pisquei os olhos por causa da claridade exacerbada, engolindo em seco quando notei a presença da pessoa de véu sentada em uma cadeira em frente à mesa preta de mármore exatamente no meio do lugar. Ela se servia de chá em um bule branco de bolinhas pretas.

— Venha, coisinha insossa, sente-se comigo. — Murmurou numa voz entediada e feminina, talvez até infantil. — Não quer beber chá? Fique tranquila menina, não há nada da substância que meus afilhados bebem, é apenas chá. Chá e açúcar, ou leite se você preferir.

Juntei as sobrancelhas enquanto observava a pessoa baixinha com um chapéu de abas muito longas repletos de cristais transparentes, e na borda delas, escorria o véu branquíssimo em duas camadas.

— Você escuta mal? Achei que só tinha problemas com seu pulmão e estômago. Será que Aiden omitiu sua surdez? — Falou. A mão pequenina pegando a orelha da xícara.

Caminhei com cautela até a mesinha redonda, puxei a cadeira preta estofada de veludo e me sentei em sua frente. A poltrona dela era mais alta do que a minha.

Por algum motivo, eu estava sentindo um enorme peso no peito.

— Não sou surda. — Murmurei desconfortável. — Meu nome é Amélia.

Mesmo que eu não pudesse ver seu rosto, mordi os lábios observando seus movimentos lentos e quietos. As mãos enluvadas de preto se distinguiam de toda a roupa clara, do véu que lhe cobria da cabeça aos joelhos.

Aquela pessoa me inspirava temor apenas pela sua presença.

— Ah, você fala. Isso é bom. — Disse com certa alegria. — Eu sei o seu nome, sei tudo sobre você, aprendi ontem. Bem, contudo talvez você não me conheça. Eu sou a Oitava.

Formei uma ruga entre as sobrancelhas enquanto um vidrado com cabelos pretos dispostos em tranças, entrava e depositava biscoitos em forma de corações sobre a mesa. Virou o bico do bule de chá dentro de minha xícara e depois de encher, começou a adicionar os quadradinhos de açúcar lá dentro, afundando aos poucos.

— Existem oito Imaculadas Brancas, eu sou a Oitava, então este é o meu nome. — Ela pareceu rir da minha confusão mental. — Imagine que há uma monarquia, dentro dela somos as Duquesas, duquesas e sacerdotisas. Somos parte do grande Conselho.

Observei a xícara de chá de gengibre, o Vidrado continuou colocando açúcar até que Oitava lhe fizesse um gesto irritado para que parasse. Ele se curvou, deixou o pote de açúcar na mesa e tomou seu lugar na parede, observando o ambiente com os olhos arregalados foscos e o sorriso robótico..

Observei a montanha de açúcar se molhar e desmanchar no fundo da xícara.

— Oitava tem a audição incrivelmente aguçada, Ofélia. — Disse ela. — Seu coração está batendo como louco, o que teme?

— Não temo nada. — Não corrigi meu nome, as palavras eram escassas na minha garganta.

— Claro que teme. — Falou. — Você teme tudo ao mesmo tempo, mas a mistura de sentimentos a confunde e a faz achar que não teme nada. Você teme tanto tudo, que se autoflagela. — Ela sussurrou apontando para meu estômago. A gastrite nervosa. — Não gostamos de primitivos defeituosos, Oitava detesta primitivos em geral, mas você me chama a atenção, Ofélia. Já vi Diavols apegados a criaturinhas pequenas como você, mas como aquele Verdugo vive sobre você... é novo. Agora seriamente me pergunto se as coisas que Eris disse são verdadeiras.

Amélia, Da Cor do Sangue ‐ Livro O1 {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora