Capítulo 31. A Colheita dos Lírios Vermelhos

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"Eu vi que você construiu uma casa de cartas, mas ela vai cair logo;
Acha mesmo que eu não sei sobre seus segredos e mentiras?"

Ruelle- Secrets and Lies

Eu não me lembrava se eram três ou quatro da manhã, mas eu já estava suada e com raiva da vida.

Aquela mulher me empurrou com brusquidão para onde todos estavam entrando, e mesmo que eu tentasse dizer algo, ela apenas sorria e dizia para eu continuar andando.

No final todos entraram em uma sala ampla de paredes brancas, iluminada e cheia de decorações com pinturas e cristais coloridos sobre as luzes, deixando a sala com um aspecto como as igrejas católicas Europeias. 

Engoli em seco coçando a nuca, o chão estava gelado demais para os meus pés descalços, mas os outros que passavam correndo e rindo de um lado para o outro, animados como se estivéssemos no carnaval, não se preocupavam com isso. Suas roupas já estavam trocadas e pareciam formais demais para o que estava prestes a acontecer.

Apertei os dedos em meu pijama e mordi a língua sentindo o ódio e irritação corroer minhas entranhas quando alguém quase me derrubou correndo e segurando algumas esferas de metal.

— Você deveria agir rápido, sabe? — Uma voz feminina soou fresca atrás de mim. — Todos estão correndo e pegando os melhores itens. Ainda bem que eu gosto de você.

Era Circe falando, os braços estavam segurando uma montanha de coisas metálicas. Não sabia como ela conseguia segurar tudo aquilo, mas parecia muito pesado.

— Para que isso serve? — Perguntei sentindo o desespero, me curvando para ver o que ela segurava. — O que vamos fazer nessa caçada? 

Circe riu. Um homem discretamente tentou pegar alguma coisa da pilha de ferro que ela segurava, mas antes que ele pudesse colocar as mãos ali, a mulher lhe deu um chute doloroso nos joelhos que o fez sair resmungando.

— Não se preocupe, é mais ou menos como uma brincadeira primitiva chamada pique-pega. Já brincamos muito disso. — Ela mostrou os dentes, os olhos azuis enormes brilhavam como os do irmão. Ela parou de sorrir vendo minha expressão confusa, fechou os olhos e balançou a cabeça. — Eu e Eris. Eu e Éris brincávamos disso quando éramos crianças. 

Ela nos afastou para um lugar menos cheio enquanto ainda falava.

— É apenas uma brincadeira, mas é bom nos prevenir de possíveis ferimentos. Alguns aqui são um pouco brutos e levam o esporte a sério. — Ela colocou a pilha de ferro sobre uma mesa de madeira, mostrando uma grande quantidade de esferas de ferro, mochilas, botas e luvas… de aço. — Enfim, você está aqui como uma Esmerada. Eu diria que você pode ficar tranquila se não quiser caçar ninguém, mas na outra sala, os Primitivos estão sendo orientados a lutar e nos caçar do mesmo modo. Então as regras para nós são basicamente não quebrar ossos, não rasgar a pele de ninguém, não danificar os Primitivos que formos pegar e… — Ela colocou o dedo no queixo para pensar. — ...e caçar pessoas da mesma família é considerada uma pequena trapaça. Não é bem visto, mas também é contado como ponto.

Pisquei enquanto Circe desfazia nas mãos uma coisa de ferro que pareciam escamas, mas na verdade era uma ombreira transpassada. Ela colocou aquilo em si mesma e apertou a fivela.

Pisquei olhando Circe enquanto ela se sentava no chão e colocava as botas de couro com sola alta. Suspirei sem saber o que estava fazendo da minha vida e comecei a imitar. 

— Você sabe o meu número de sapato. — Olhei para o funda bota e revirei os olhos. — O mais bizarro é que eu não tô surpresa. 

Ela me ignorou e começou a amarrar o cadarço, peguei um par de esferas de metal com uma pedra vermelha na frente de cada uma e apertei a gema. As esferas se desfizeram e esparramaram em minhas mãos em vários quadradinhos pequeninos e prateados ligados por pequenas correntes pretas. Era como uma pequena peça de roupa escamada de ferro.

Amélia, Da Cor do Sangue ‐ Livro O1 {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora