Capítulo 26. Livro do Olho Dourado

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"Amor, embora eu tenha fechado meus olhos,
Eu sei quem você finge que sou."

Mitski - Washing Machine Heart

Naquele dia, a minha sensação de dor por Aiden acabou amargando um pouco a manhã nublada de Nebulosa.

Eu estava sentindo aquilo justamente porque tinha uma mesa enorme e preta que cobria uma sala inteira, e nela estávamos sentados apenas nós dois tomando o café da manhã. Atrás de Aiden, estava Perseu com as mãos atrás do corpo me olhando com tanto nojo, que eu me senti um pedaço de catarro escarrado no chão da calçada, nem desviar os olhos foi o suficiente porque eu ainda sentia os olhos dele queimando minha pessoa.

Acho que Aiden percebeu e fez um sinal com os dedos dispensando o mordomo, logo depois Perseu se curvou e saiu da sala.

Eu enrolei fatias de presunto e queijo e enfiei na boca enquanto fingia escutar o que Aiden estava falando.

Eu estava pensando na nossa conversa estranha de ontem enquanto mastigava e bebericava uma xícara de chá vermelho de hibisco, o que eu não estava acostumada a beber, geralmente tomava café puro.

Eu estava com os olhos focados nos desenhos sem forma de minha xícara vermelha enquanto umedecia os lábios me desvencilhando daquele assunto da conversa de ontem ainda fresco em minha mente. Eu não iria perguntar "Então cara, você tem que ter castidade por causa da sua religião? Por que eu sinto que isso não faz sentido? Eu sou uma Maria fofoqueira curiosa, você não pode soltar uma coisa assim sem explicar direito!"

Mas eu ainda tinha dignidade, não iria dizer nada disso, ao menos não com essas palavras.

Eu estava enrolando uma mecha do meu cabelo no dedo quando balancei a cabeça tentando me esquecer daquilo e comecei a focar meu pensamento no significado daquelas malditas cores que todos usavam. Aiden usava vermelho, Eris usava azul... poderiam ser talvez as cores primárias ou apenas cores que significavam algo sobre seus deuses? Haveria então uma família de verde e uma de amarelo? Bem, eu não sabia.

Me lembrei de Madinson, de suas vestes azuis e vermelhas, de sua mão delicada e bonita que sempre estava sobre o coração mesmo que não percebesse, de suas palavras me dizendo para perguntar sobre a mulher antes de mim, a mulher que havia morrido. Aiden não fez questão de me contar sobre isso, nem mesmo esclareceu sobre o que estava alfinetando minha cabeça naquele momento: Aquele garoto por quem ele estava chorando na primeira vez que o vi.

Aiden não me falou sobre aquele garoto e nem o motivo de ele ter morrido além do que dizem na internet.

Umedeci os lábios me perguntando quando é que eu entenderia aquela história toda de uma vez. Cocei a cabeça tentada a perguntar sobre isso, sobre a mulher que supostamente veio antes de mim e que morreu, sobre o menino mais novo pelo qual ele estava debulhando em lágrimas quando o conheci.

Estava pensando tanto que meu corpo reagiu no automático quando notei termos acabado o café e Aiden ter mandado Perseu trazer minhas roupas de academia, eu apenas me troquei e o segui para o salão sem móveis além de caixas de som recém instaladas no alto das paredes.

Ele estava virado mexendo em seu celular escolhendo a música que iríamos treinar a dança principal. Completamente vestido de preto com sua eterna gola alta, mas sem mangas, mostrando os braços fortes cheios de marcas vermelhas e fundas.

Engoli em seco umedecendo os lábios e ajustando as alças do meu top amarelo, amarrando os cabelos soltos em um rabo de cavalo no alto da minha cabeça e arrumando os óculos, depois mordendo uma das unhas com a mão na cintura e fixando os olhos no chão.

Amélia, Da Cor do Sangue ‐ Livro O1 {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora