"Eu não consigo recuperar o fôlego
Estou caindo no fundo do poço"Deep End - Ruelle
Em meus sentidos doloridos, haviam memórias misturadas rondando meu cérebro. Pessoas gritavam desesperadas, corpos de crianças com os peitos abertos e sem os corações estavam sendo jogados em fornalhas para que virassem cinzas.
Tudo se misturou e se dissipou até o momento em que eu estava procurando Eris entre bifurcações de corredores para lhe dizer que havia conseguido roubar alguns torrões de açúcar da cozinha, que mesmo ele estando castigado aqueles dias, estava levando para ele aqueles doces estranhos e pegajosos que se mexiam sozinhos. Esperava que em troca dos torrões de açúcar, ele mantivesse sua promessa e pudesse me ensinar a fazer os passarinhos que morriam caindo do telhado de minha casa, voltarem a voar de novo assim como ele fez com seus gatos.
Que pensamento inocente. Eu nunca faria o que Eris conseguia fazer, nunca faria nada das coisas maravilhosas e espantosas que todos eles faziam.
Eu parei de correr ao ver a confusão de certa distância. Eris estava irritado demais em um dos corredores, gritava com raiva, os olhos brilhavam furiosos e mostrava os dentes para Circe, sua irmã mais nova, a menina de minha idade provável de oito anos.
Um punhal foi tomado das mãos dele e logo cinco homens de vermelho o seguraram pelos braços e pescoço. Eris começou a ser puxado para longe dela, mas em seguida Eris olhou para os lados em desespero, escorregou das mãos alheias, pegou uma vasilha de ferro quente em uma das paredes e lhe jogou líquido inflamável junto com o fogo que queimava lá dentro. Ela gritou, o grito mais aterrorizante e doloroso que eu já ouvi. Circe caiu, se arrastou pelo chão e pelas paredes quando a pele começou a derreter, e Eris ainda estava irritado sendo segurado por outros homens vestidos de vermelho, porque ainda pretendia ir até ela para lhe danificar mais a pele.
Eris havia queimado Circe quando ela iria ser mostrada para a deusa, iria receber a maior honra, mas disseram que Eris por inveja, queimou e derreteu o corpo da irmã, deformando-a para que sua beleza nunca mais fosse notada.
Eris sempre soube que era horripilantemente bonito, sempre soube que sua beleza estava acima de tudo e de todos, sempre recebeu elogios sobre como seu rosto era medonho porque era intimidador e perfeito. Eris não aceitava que lhe diminuíssem a beleza que sabia ter, o seu tesouro que nunca seria tirado dele e que ele poderia levar para qualquer lugar, o tesouro que poderia levar reinos à ruína. Ao menos era o que Mãe Ravena dizia, ela aumentava o seu ego e ele ficava insuportável por semanas.
Alguém me pegou no colo enquanto eu chorava presenciando a cena, afastou o cabelo do meu rosto. Os olhos claros demais olharam para mim enquanto me levavam para longe, os cabelos platinados estavam caindo sobre os olhos dele. Se parecia com uma versão mais nova de Pai Reiki, mas eu sabia bem que não era ele.
— Não chore por causa do lixo queimado. — Aiden falou.
Um monstro queimou Circe aquele dia, um monstro lhe tirou a oportunidade de se casar e se destacar entre as outras mulheres da família.
Eris me olhou da mesma forma como olhou para Circe, e pela primeira vez, ele me apavorou.
Suspirei e balancei a cabeça sentindo têmpora incomodar. Demorou para que eu conseguisse me restabelecer em questão de tempo e espaço. Não sabia bem onde estava, vozes múltiplas estavam me incomodando a cabeça naquele meio termo entre o desmaio e a lucidez. Cores demais estavam me cegando como fogos de artifício antes mesmo que eu pudesse abrir as minhas pálpebras. Mãos pareciam me segurar a todo momento, pareciam me arrancar a pele, eu estava sofrendo.
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Amélia, Da Cor do Sangue ‐ Livro O1 {CONCLUÍDO}
Fantascienza{OBRA DEVIDAMENTE REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL} - "A sequência desse livro, "A Desolação de Amélia - Livro O2" está disponível aqui na plataforma também. - • Amélia odeia o vermelho, ela odeia sangue, tudo por causa da sua fobia pelo líquido. A...