Capítulo 18. Afronésia

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"Horas claras nesta doce manhã;
Estranhos momentos nesta praia artificial;
O plástico aqui rapidamente se torna obsidiana;

Hey Kids- Molina

Surpreendentemente, depois que tomei coragem e saí do meu quarto identificado com a letra "B" na porta, percebi que não havia ninguém naquele corredor além de quadros medonhos e estranhos pendurados na parede.

Quase encostando o nariz nos vidros das telas, percebi todas as pessoas pintadas de olhos coloridos com os rostos idênticos aos de Pietro e Aiden, estavam parados dentro daquelas molduras douradas, a escuridão cobrindo suas expressões sérias demais e roupas de séculos passados, o que pareciam ser gerações.

Ainda com as pernas trêmulas e uma estranha tontura ameaçando me derrubar naquele lugar silencioso, parei e me sustentei com a mão esticada em frente a uma pintura realista de Pietro sentado em uma grande poltrona vermelha, segurando um medalhão vermelho em forma de pupila sobre o joelho. Aiden estava de pé atrás da poltrona do irmão, segurando sobre o encosto do estofado com a mão enluvada.

Antes dele, havia a pintura de Ravena com o rosto diferente de quando a conheci. Estava mais séria e cortante, de braços cruzados segurando o colar em forma de olho e sentada na mesma poltrona que Pietro em seu quadro. Atrás dela, havia um homem de olhos azuis claríssimos, com a face de forma perturbadora tão parecida com a de Ravena e de Aiden. 

Na base da pintura, havia a frase: " Reiki, amado, eterno marido e pai junto à sua esposa Ravena Grigorescu."

O homem tinha o rosto perfeitamente pintado, assim como as imagens dos sites de fofoca que Carmem havia procurado. Era branco como osso, olhos azuis e cabelos pretos, tão alto quanto Pietro e parecidíssimo com o filho mais novo.

Esfreguei os olhos e os braços pelo frio crescente, piscando e voltando ao mundo real onde eu estava sendo o cachorro de um cara maluco.

Na verdade eu comecei a entrar em pânico naquele momento, de pé no meio do corredor não fazendo ideia de onde ficava o quarto da mãe daquele homem, e eu só decidi fazer aquilo depois de trinta minutos absorvendo o terror psicológico que ele plantou na minha mente observando a janela da qual ele havia pulado, e depois da pulseira me assustar fazendo um sonoro "bip".

Quando aquele barulhinho foi emitido, coloquei o braço longe do corpo e quase vomitei as tripas com o susto. Fiquei nessa pose por uns vinte minutos, mas nada aconteceu.

Enfim, resumindo tudo, eu estava agindo no piloto automático enquanto apertava aquela esfera na minha mão esquerda e suspirava voltando a prender o braço ao lado do corpo.

Os calafrios subiram em minha espinha quando comecei a andar, e meu abdome começou a doer por estar tão nervosa. Sabia que a qualquer momento poderia vomitar, cair no chão de tremedeira ou minhas pernas simplesmente pararem de funcionar.

Em uma bifurcação, segurei meus ombros à parede vermelha para não cair, encostando levemente os pés no chão gelado, sentindo minha espinha tremer, imaginando se a senhora Ravena não iria ter uma crise novamente quando me visse.

— Se ele está tão determinado a me fazer dar isso 'pra ela, significa que ela não vai me bater de novo. — Murmurei sentindo minha língua grossa demais dentro da boca.  — Não é?

Depois essa ideia foi por água abaixo quando me lembrei que ele havia colocado uma bomba minúscula no meu pulso.

 O suor acumulou em meu pescoço quando comecei a me perguntar se Eris não estava fazendo aquilo de propósito só porque Aiden me pediu para ficar longe da mãe dele, talvez Eris quisesse que eu fizesse um escândalo no meio da madrugada com uma senhora doente, e quando me vissem segurando aquela esfera  de resina com a flor azul eternizada mostrando a cor que parecia proibida naquele lugar, provavelmente o irmão assustador de Aiden me transformaria em churrasco ou Eris me explodiria antes disso.

Amélia, Da Cor do Sangue ‐ Livro O1 {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora