Capítulo O6. Churrascaria Burguesa

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"Sim, meu namorado é muito legal
Mas ele não é tão legal quanto eu
Porque eu sou uma queridinha do Brooklyn
Eu sou uma queridinha do Brooklyn"

Lana Del Rey - Brooklyn Baby

Carmem gritava comigo no telefone, não porque eu havia feito algo de errado, mas justamente por que eu não queria fazer algo de errado. Parecia que ela não tinha o mínimo de consideração comigo, até porque enquanto eu corria debaixo de chuva com uma capa amarela neon segurando cinquenta cópias do meu currículo, quase enfiando-os em meu pulmão com medo de molhar, Carmem queria me convidar para uma festa duvidosa.

— A festa não é sua. Convidados não convidam. – Eu estava ofegante enquanto ela suspirava frustrada do outro lado. Funguei o nariz, agradecendo que a dor de garganta havia desaparecido, mas ainda permaneciam as dores em meu corpo. – Até porque eu estou ocupada. Estou distribuindo meus currículos, depois vou conversar com um amigo e amanhã vou trancar minha matrícula na faculdade.

— Ué, você vai trancar sua matrícula? Por que?

— Porque eu não tenho dinheiro para pagar, e antes que se torne uma bola de neve, vou resolver minha vida financeira primeiro encontrando outro emprego.

— Ah, sim. Me envie depois seus currículos depois ‘pra eu te ajudar. Conheço alguns lugares que estão contratando. – Eu agradeci mentalmente. – Mas me fala, que amigo é esse que você vai conversar?

— É só uma pessoa que está me ajudando a encontrar um emprego e vou conversar com ele sobre os termos. – Respondi enquanto ela ria. Não queria aprofundar o assunto para que ela perguntasse de Aiden.

— Oh, Amélia, por favor, vamos na festa da Sabrina hoje, por favor! – Ela começou a miar do outro lado do celular. Revirei os olhos limpando o nariz. – Você nunca sai comigo, e é até bom que você refresca sua cabeça. Me pergunto quantos caras bonitos vão estar lá, e aposto que serão muitos. Quando foi a última vez que você transou com alguém?

Quase engasguei enquanto corria. Ela continuou a humilhação:

— Ah, já até sei. Deve ter até teia de aranha aí.

— Você sabe o significado da palavra “inconveniente”? – Me abriguei debaixo de uma loja. – Você é exatamente isso.

Ela riu, enquanto eu usava o tempo para limpar meus óculos respingados de água e embaçados.

— Tudo bem, eu vou te passar o endereço e o horário por mensagem. Não precisa trazer presente ‘pra ela, tá?

— Eu não tenho dinheiro ‘pra comprar uma coxinha. – Falei olhando para a vitrine dos salgados. – Não compraria presentes ‘pra ela nem se eu quisesse.

— Você parece uma velha falando. Vou desligar, aproveite esse tempo e se arrume.

Não pude falar mais nada quando escutei o “bip" do telefone desligando. Suspirei descendo a rua comercial, procurando alguma placa de contratação de funcionários nas portas de vidro, encontrando algumas com felicidade.

Parei para pensar sobre meu azar, que era tão grande que se eu comprasse um anão, daqueles engraçados dos filmes de fantasia, ele cresceria e viraria um elfo, e todos sabem que eu odeio elfos.
Enfim, uma buzina de carro me assustou, e derrubei metade dos currículos que segurava. Quase chorei observando as folhas enquanto se afundavam nas poças de lama.

— Amélia? O que você está fazendo tão longe de casa e nessa chuva? Está ensopada até os ossos. – A voz de Aiden saiu de dentro do carro. Ele abaixou o vidro enquanto dava ré, para me olhar. – Você não estava gripada?

Amélia, Da Cor do Sangue ‐ Livro O1 {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora