Capítulo 4O. Paranoia

679 92 65
                                    

"Quando eu acordo, eu sinto medo
que alguém tenha tomado meu lugar"

The Neighbourhood - Afraid

Uma semana.

Havia se passado uma semana desde que voltei para o Brasil completamente sozinha a não ser com Mabel calada e branca como uma estátua do meu lado.

Ainda naquele dia, antes de entrar no jatinho, uma mulher de olhos verdes e pele amadeirada olhou para Mabel com surpresa por ela estar do meu lado sem pertences e nem nada, apenas de camisola branca, o cabelo espalhado e sapatos de couro marrom.

- Senhorita Mabel, o Verdugo Aiden ordenou o rebaixamento de seu nome e seu cargo por absurda incompetência pela segunda vez. Você a partir de hoje passa a deixar de ser segurança de Amélia Cristina e agora se encontra demitida de seu cargo, podendo correr o risco de expulsão da família Diavol junto com toda a sua linhagem, e assim, também corre o risco de Ablação. - A mulher sorriu docemente e com um pouco de pena enquanto observava o rosto corado de Mabel se tornar cada vez mais branco depois da última palavra. Eu sabia que a ablação era, em termos médicos, retirar por exemplo, um órgão ou partes dele, porém naquele contexto ficou difícil entender o que significava.

Mabel virou o rosto para mim, as mãos trêmulas e os olhos frios arregalados. O vento batendo contra seu rosto deixando -o vermelho, fazia aquela mulher rejuvenescer vários anos e se tornar uma criança.

- A senhora teria compaixão da minha alma? - Perguntou Mabel com dificuldade. Suas mãos tremiam tanto que achei que ela fosse ter um troço ou começar a chorar a qualquer momento. - A senhora Amélia poderia reclamar apenas a minha companhia ao seu lado, eu poderia ser sua assistente ou conselheira, eu poderia fazer qualquer coisa. Deixe-me ficar ao seu lado como uma serva, então tome partido ao meu favor para que eu possa voltar com a senhora e evitar que meu irmão seja vítima de minha incapacidade.

Naquele momento eu a olhei com dúvida, eu estava prestes a dizer que não queria uma serva, que estávamos no século XXI e que aquele tipo de nomenclatura não mais existia daquela forma, mas Mabel se virou para mim, tomou minhas mãos entre as suas e se ajoelhou ainda permanecendo alta mesmo com as pernas dobradas.

- Amélia, tome partido ao meu favor agora, chame o senhor Aiden e peça para que ele me deixe ficar com a senhora. - Mabel estava falando baixo e entredentes para que a mulher não ouvisse. Vi que ela estava esperando Mabel com uma prancheta e uma caneta. Eu estava mais do que confusa. - Por favor, eu já não tenho nada, eu estou dependendo de sua misericórdia.

Formei uma ruga entre as sobrancelhas, e sem saber bem qual ação tomar, me virei para a mulher que olhava para Mabel como desprezo e pena.

- Você pode chamar Aiden? - A mulher virou os olhos para mim. - Eu tenho um... carinho especial por Mabel. Isso não poderia ser reconsiderado?

A mulher abriu a boca com surpresa, depois crispou os lábios e folheou as folhas da prancheta procurando algo. Eu estava tentando fazer Mabel se levantar, mas ela não se movia.

- Senhor Verdugo Aiden está ocupadíssimo agora. - A mulher falou. - Mas bem, já que é a senhora quem a reclama e pede responsabilidade por Mabel, ela se tornará sua. A nomeie como quiser, ordene que ela faça o que quiser, ela não pertence mais à corte Diavol, rebaixada para a ralé da família. - A mulher tirou um broche vermelho metálico que lembrei de estar segurando a capa de Mabel, e assim o recolheu novamente. - Assim que senhor Aiden se desocupar de suas obrigações, dará uma conclusão adequada sobre o seu pedido. Por ora, é assim que será. Salve o Olho.

Ele nos deu as costas na pista de decolagem, deixou Mabel sozinha comigo, ainda murmurando coisas enquanto segurava meus dedos nos seus.

Eu puxei aquela mulher grande do chão, mas ela não se levantou, até que percebi que ela mantinha o rosto escondido pelos cabelos porque estava chorando e não queria que eu visse.

Amélia, Da Cor do Sangue ‐ Livro O1 {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora