Capítulo 28. O Início de uma Gloriosa Agonia

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"Eu tenho tentado descobrir
De onde você é? Do que você está falando?
É da lua? É da terra?
É de um lugar onde nada vale?"

Where Are You? - Elvis Drew

Naquele momento, Aiden acariciava o topo da minha cabeça enquanto eu estava trêmula em sua sala de escritório.

Meus olhos deveriam estar com olheiras, não tive tempo de finalizar meu cabelo cacheado e o amarrei em um coque mal feito com alguns cachos caindo dos lados da cabeça.

Eu havia me levantado bem cedo naquela manhã mal dormida, fiz um boletim de ocorrência online, — minha mente por algum motivo, dizia que eu estava fazendo algo inútil —  e depois o meu motorista me levou até Chronos depois que liguei para Aiden e disse que deveria falar sobre um assunto urgente.

Ele ficou bem assustado quando me viu desesperada, o casaco amarelo caindo dos ombros e os óculos tortos no rosto, mas me colocou sentada em uma das poltronas e me fez beber um chá de camomila que ele havia pedido a secretaria. A mulher trouxe uma xícara preta na bandeja e depois saiu fechando a porta.

O homem de pé ao meu lado e vestido de preto, estava me olhando com curiosidade, preocupação e cautela enquanto eu falava. Ele parecia estar estressado com algo, mas apenas uma veia saltando nas costas de sua mão repleta de marcas era visível. 

Aiden sorriu com afeto, mas parecia estar pensando em outra coisa, algo que poderia ter acontecido antes de eu ter chegado.

— …e ele me chamou de Lírio Branco. Você disse que era um elogio, mas a pessoa falou em tom de zombaria. — Reclamei engolindo o chá. 

— Não se preocupe tanto.

— Você... 'tá brincando, né? — Estreitei os olhos. 

Aiden suspirou, arrastou uma das poltronas para minha frente e colocou as mechas soltas de meus cabelos para trás da orelha. 

Notei aquela mania de Aiden de nunca gostar muito quando havia algo cobrindo meu rosto, até mesmo a máscara que ele havia arranjado para o baile cobria o mínimo possível de minha pele.

— Ele falou sobre deus Oth. — Murmurou Aiden pensando com a mão sob o queixo, descansando as costas na poltrona. — A voz parecia familiar?

— Era uma voz cavernosa, muito grave. — Suspirou. — Era como um cara forçando mais a própria voz. — Coloquei a xícara na mesinha ao nosso lado e olhei para o rosto de Aiden.  — Eu deveria ir... na delegacia.

— A polícia não vai ajudar em nada. — Aiden levantou e pegou o próprio celular sobre sua mesa para ver algo.

— Como não? A polícia é 'pra isso.

— Não. — Insistiu jogando o aparelho sobre a mesa novamente.  — Há coisas em que a polícia não pode ajudar, e essa é uma delas. Você pode fazer um boletim de ocorrência se quiser, mas não adiantará nada. 

— Eu já fiz o boletim de ocorrência. — Tirei o papel da bolsa e o mostrei para Aiden. — Fiz pelo site. Só queria ir 'pra ter certeza.

Aiden olhou com certo desprezo para o papel, como se eu estivesse segurando um pedaço de roupa suja. Suas pupilas azuis e frias me observavam com pena, como vêem uma criança sendo parabenizada ao estar aprendendo a falar trocando o erre pelo ele.

Seu humor também parecia estar ruim, um pouco azedo, mas fazia o possível para não demonstrar.

— Pietro tomará conta disso. — Falou em tom de raiva, mastigando o nome do irmão entre os dentes.  — Mas preciso do seu celular. 

Amélia, Da Cor do Sangue ‐ Livro O1 {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora