Todos os meus amigos são tóxicos, todos sem ambição,
Tão rudes e sempre negativos;
Eu preciso de novos amigos, mas não é tão rápido e fácil;
Ai estou me afogando, deixe-me respirar!Toxic - Boy With Uke
Aquela noite foi repleta de pesadelos desconexos.
Dentro do meu sonho de imagens coloridas e ondulantes cobriam meus olhos como se eu estivesse navegando em um mar de águas turvas. Um sol quente entrou pelas janelas e queimou meus olhos. Fui chamada atenção, uma senhora bateu a vara de madeira sobre minha mesa. Eu não conseguia mais ler as letras que aquela mulher velha que cheirava a mofo me fazia ler, estava tudo embaçado e meus olhos doíam.
"Os olhos dela estão estragados de novo!" Alguém gritou. "Inútil! Inútil! Faça com que ela volte a enxergar novamente!"
"Ela é estragada por dentro, ela bebe muito remédio!" Gritou outra velha: "Ao menos não é seca! Ao menos não nasceu deformada!"
Alguém me deu um tapa no rosto, alguém puxou minha orelha, alguém me derrubou no chão, alguém me olhou com desprezo porque eu não conseguia fazer nada direito, alguém puxou minhas tranças, alguém me chamou de doente, alguém me chamou de fraca, alguém quebrou meus óculos novos, alguém riu de mim suja de lama.
"Ela não pode ficar marcada!"
"Mas ela não aprende nada"
"Não bata nela! Reiki e Ravena não vão gostar!"
"Ela não sabe repetir as fórmulas! Ela não se lembra dos nomes das formas geométricas mesmo que eu repita todos os dias! Que tipo de criança é essa? Inútil!"
Inútil! Inútil! Inútil! Inútil! Inútil! Inútil!
Uma voz oleosa e arrastada conhecida estava gritando ao longe como um eco. Ele estava gritando com um homem mais velho de cabelos louros claros como os de Ravena.
Oh, era o Pai Reiki. Ele não era nosso pai, Eris disse que ele só era pai de Pietro e Aiden, mas as crianças o chamavam assim, elas sempre os chamavam assim. Pai Reiki disse que eu também deveria chamá-lo assim porque era como se eu fosse parte dele também. Mas Eris não o chamava de pai, Eris sempre apanhava por isso, Eris sempre estava marcado porque Reiki não gostava do tom de voz dele, porque Eris sempre fazia coisas erradas.
Alguém me pegou no colo, suspirou enquanto olhava para mim. Tudo que eu conseguia ver pelas minhas vistas turvas, era a juba branca e cacheada como uma grande nuvem e um sorriso bonito naquele rosto.
●
Acordei de madrugada com insônia. Levantei tropeçando nas cobertas e fiz um café forte demais naquela cafeteira com vários botões complicados. Estava tão desesperada que não coloquei açúcar, bebi direto da jarra de vidro e com as mãos trêmulas.
Eu estava com falta de ar, levei as mãos geladas ao rosto e então percebi as lágrimas molhando minhas bochechas. Eu chorei enquanto dormia?
O que diabos foi aquilo? Eu não entendi nada, mas não deveria me incomodar, foi apenas um sonho sem nexo porque eu dormi estressada.
Eu não conseguia distinguir muito das paredes e da mesa porque havia ido para a cozinha tão desesperada que esqueci meus óculos, mas não havia esquecido do objeto preto que havia passado a maior parte do tempo dentro de minha palma.
Observei o pendrive suado entre meus dedos duros e doloridos, a tampa aberta que poderia ser tirada e colocada ao meu bel prazer, mas ainda assim eu deveria ter cuidado. Algo me dizia que eu não deveria colocar aquilo em qualquer computador.
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Amélia, Da Cor do Sangue ‐ Livro O1 {CONCLUÍDO}
Science Fiction{OBRA DEVIDAMENTE REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL} - "A sequência desse livro, "A Desolação de Amélia - Livro O2" está disponível aqui na plataforma também. - • Amélia odeia o vermelho, ela odeia sangue, tudo por causa da sua fobia pelo líquido. A...