Capítulo O5. Gente Rica

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"Você me faz girar como uma bailarina
Você é o bad boy que eu sempre sonhei
Você é o rei, e, querido
Eu sou a rainha do desastre, um desastre"

Lana Del Rey


Ele tinha o rosto bem humorado, dirigia com apenas uma das mãos ao volante e a outra apoiada na janela aberta.

- Então, que curso você faz? - Ele me perguntou quebrando o gelo do silêncio.

- Eu faço direito.- Falei esperando a surpresa que sempre tinham quando eu contava, mas ele apenas sorriu e levantou as sobrancelhas.

- Uau. Admiro quem goste de assuntos como esses. - Eu ri.

- Não gosto muito não. - Ele parou de sorrir e levantou uma sobrancelha. - Estou fazendo direito porque tenho que cuidar da minha irmã no futuro, e o curso que queria fazer não é muito valorizado. Resumindo: Eu preciso de dinheiro no futuro.

- E que curso queria fazer?
- Eu queria fazer letras. Ser professora de literatura era meu sonho de princesa.

- Então não quer mais ser professora de literatura?

- É um sonho distante. - Respondi apoiando a cabeça na minha janela fechada. - Mas talvez eu faça depois que terminar essa. Já estou no quinto semestre, não vou desperdiçar dinheiro e noites acordada 'pra fazer trabalhos.

Ele assentiu. Bem, parecia não concordar comigo, mas preferiu não discutir e focou na direção.

Imaginei que eu teria em breve que mostrar para ele onde eu morava, o que com toda a certeza não era meu objetivo. Pensei que eu podia parar em uma ou duas quadras depois ou antes para ir correndo por entre os blocos.

- Então, qual o seu hobbie? - Ele perguntou sorrindo.

Pensei em vários, como escrever, pintar, ver documentários criminais, dançar e cantar Bohemian Rhapsody enquanto tomo banho. Se bem que eu havia parado com este último porque acabei queimando o chuveiro respingando água.

- Não, você não pode saber dos meus podres assim de cara. - Comecei a apertar os botões do rádio, tentando ligar sem sucesso.

- Seus podres? - Levantou sua sobrancelha e me olhou por dois segundos antes de voltar a prestar atenção na pista pouco molhada pela chuva recente.

- É porque eu tenho hobbies muito, muito estranhos. Por exemplo, eu gosto de ver vídeos de asiáticos comendo. Não comidas vivas, é claro, tenho muita dó dos bichinhos, mas sei lá, aquelas comidas apimentadas, o macarrão, parece tudo ser tão suculento que eu vejo os vídeos e sinto que eu mesma como. - Ele riu da minha besteira.
- Isso sim foi inesperado.

- E você? Qual seu hobbie? - Perguntei finalmente colocando uma música decente. Lana Del Rey, eu sei que tu me sondas.

- Eu gosto muito de viajar. - Levantei uma sobrancelha e bufei baixinho. - O que?

- Isso nem é um hobbie. Eu falo de coisas normais.

- Gostar de ver vídeos de gente comendo não me parece um hobbie normal. - Ele estava me julgando.

- Eu estou falando de hobbies normais. Você é rico, gente rica viaja todos os dias, por isso viajar é seu hobbie. Diga outra coisa, alguma coisa que eu possa me identificar.

Ele pensou um pouco. Percebi que quando ele pensava bem, comprimia os lábios deixando apenas uma linha, fazia uma ruga entre as sobrancelhas e inclinava a cabeça.

- Eu gosto de sorvete com confetes coloridos. - Juntei as sobrancelhas e olhei para ele, rindo logo depois. - Acho que gosto de tomar sorvete de morango com confetes pela tarde em frente à praia. Faço isso sempre que tenho um tempo livre.

Amélia, Da Cor do Sangue ‐ Livro O1 {CONCLUÍDO}Onde histórias criam vida. Descubra agora