Capítulo XLIV

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         O uivo dos ventos era o único som que quebrava a escuridão profunda. Killian lutava para não se encolher conforme as rajadas fortes e gélidas de ar cortavam sua pele. Sua mandíbula estava cerrada, enquanto seus olhos estavam fixos na densa névoa branca que envolvia a ilha que a cada minuto estava próximo de se tornar seu inferno pessoal.

Aquilo era tudo o que queria evitar.

Mesmo que fosse inútil, implorava mentalmente por soluções para sair daquela situação. Uma volta no tempo. Uma ajuda divina. Um modo de apagar a memória de Emma e levá-la para longe dali.

Qualquer coisa.

Seu coração batia acelerado desde que o navio havia ancorado em águas profundas, como se se recusasse a chegar perto da ilha maldita. O momento que cruzaram a linha que separava os mundos ficou claro, já que tudo caiu no mais perfeito silêncio.

Um silvo ressoou alto, fazendo os pelos de todos se eriçarem. Emma soltou uma exclamação baixinha conforme cabeçorra da serpente do mundo surgia da água, como se tivesse acabado de ser despertada pela intrusão deles. Os olhos amarelados com duas fendas negras estudou o navio e seus tripulantes que estavam no convés, como se analisasse se deveria deixá-los passar ou se com apenas uma bocada mandaria a embarcação para o fundo do mar.

E podia ser o efeito do medo, mas Jones podia jurar que a serpente fixou o olhar em Emma e sorriu em reconhecimento, maneando a cabeça achatada em um cumprimento sutil, enquanto um liquido negro pingava de suas presas. Então, sem maiores perturbações, ela se recolheu para dentro das águas e os quatro sentiram o ar deixar o corpo em apenas uma lufada uníssona.

Ninguém ousou falar.

Emma tentou sorrir para tranquilizar a todos.

Zelena e Landon olharam para ele. A mulher parecendo assustada e seu contramestre em uma reprimenda silenciosa que Killian não conseguiu sustentar.

Ele sabia que se estavam ali, era por culpa dele.

Quando o navio parou com um tranco, eles souberam que tinham chego ao seu destino final. E foi ali, ao ver a névoa branca que dava nome à ilha, que tudo havia se tornado real para o capitão. Até aquele momento não passara de um pesadelo que parecia distante demais quando ele abraçava sua Swan e a ouvia rir.

Mas agora, olhando para o nevoeiro que escondia os horrores daquele lugar, seu cérebro, e principalmente seu coração, começavam a entender que poderia perdê-la. Emma iria entrar e talvez nunca mais fosse sair. Aqueles dias poderia ser tudo o que teria com ela e não era suficiente. Killian queria mais.

Mais tempo para viver aquele amor tão puro e visceral que tinha encontrado ao lado dela. Mais tempo vivendo a felicidade que era estar com ela.

Queria uma vida inteira.

Por que a vida não permitia que ele desfrutasse da dita felicidade? Por que ele não tinha direito àquilo que tantos homens encontravam? Por que quando a tinha em mão, era tirado imediatamente?

E daquela vez, quando a perdesse – se a perdesse – seria por culpa dele. Ele a tinha tirado da segurança de sua casa. Tinha a atraído até seu navio.

Colocara a carta em seu quarto e ajudara a decifrá-la.

—Senti sua falta na cama. – a voz de Emma murmurou sonolenta conforme abraçava o capitão por trás e pressionava o rosto na depressão das costas dele. Jones inspirou profundamente e fechou os olhos ao sentir o calor do corpo dela colado ao seu. O encaixe deles era perfeito. — Está tudo bem? Você quer conversar?

Traiçoeiro (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora