A velha senhora sorria para ele com carinho. Um sorriso que Killian tinha certeza que não merecia. Ele olhou ao redor, não reconhecendo onde estavam ou como havia chegado até ali.
Ou pior: se era mais uma peça causada pelo Caos.
Vovó Libélula soltou uma risadinha que fez com que suas rugas se tornassem mais profundas e estendeu a mão para o capitão.
—Você é um tolo, Killian Jones. — falou assim que o capitão aceitou sua mão de dedos gelados e nodoso. — Eu o adverti de que isso aconteceria.
O homem aquiesceu, enquanto sentava-se com esforço. Uma careta repuxou suas feições enquanto sentia fisgadas por todo o seu corpo e sentia dificuldades para respirar. A velha senhora aguardou enquanto Killian tentava colocar os pensamentos em ordem e parecia querer despertar. Quando os minutos se tornaram longos demais, ele voltou a olhar em volta, havia árvores e um rio corria ao longe, mas a paisagem não se parecia em nada com a Ilha dos Mouros. Seus olhos se fixaram em Vovó, que mantinha sua serenidade de sempre.
—Onde estamos?
Ela sorriu e moveu a cabeça de um lado para o outro, como se estivesse apreciando à vista.
—Onde o seu destino o espera, oras. — riu, como se a pergunta dele fosse absurda. — Você precisava de minha ajuda. Eu vim. — ergueu um dos ombros.
Jones balançou a cabeça de um lado para o outro e umedeceu os lábios.
—Eu não sei o que aconteceu. — confessou, baixinho. — Eu.... Eu não fiz a troca, Libélula. Eu não a esqueci. Eu me lembro muito bem do sentimento.... — Killian fez uma pausa. Ele se lembrava muito bem de todos os momentos. De todos os toques. Do cheiro e do sabor de Emma. Da sensação do sorriso se abrindo contra a pele dele. —Me lembro muito bem dela.
Libélula aquiesceu e fez um afago na bochecha do rapaz. Ela sentia seu medo. Sentia a angústia crescente que envolvia seu coração. Nunca tinha sido assim. Aquela era a primeira vez que ele se lembrava enquanto ainda havia tempo. Era a primeira vez que Siegfried não tinha se esquecido de Brunhilde.
A primeira vez em que ele escolhia o Amor em vez de glórias e poder.
Era a primeira vez que ele reconhecia que o sentimento era tudo o que precisa e agora estava desesperado sem saber o que fazer, porque se não agisse rápido o suficiente tudo estaria perdido para sempre.
A salvação. Uma nova chance. A alma deles.
O coração do herói havia escolhido o Amor e isso seria o suficiente.
Vovó se sentiu grata por poder presenciar aquele momento. Estivera com eles em todas suas diferentes vidas, tentando guiá-los ao caminho certo, ao caminho que salvariam. Agora sabia que não seria exatamente como esperava, era impossível manter um mundo tão corrompido pela ganância quando seus próprios deuses que os governavam haviam sido seduzidos pela sede de poder.
De uma forma ou de outra eles precisariam cair para que o Novo Mundo começassem. Para que novos deuses ascendessem. Não era isso que o Pai de Todos mais temia? O seu fim?
Não era por isso que sempre trabalhava para que o ouro continuassem sendo protegido por suas Donzelas-cisnes, mas nunca devolvido ao seu lugar que poria fim a todo o sofrimento? Porque Ele sabia que quando isso acontecesse seu fim estaria próximo. Hel se levantaria com seu exército de mortos, o deus da trapaça conseguiria se soltar de suas amarras e o Pai de Todos seria derrubado.
—Eu não sei o que fazer, Vovó.
A velha senhora suspirou e enganchou seu braço ao do jovem capitão e começou a andar em direção ao rio. Estava nublado e úmido, e as árvores densas deixavam o ambiente ainda mais lúgubre. Um arrepio percorreu seu corpo e Killian se encolheu. Queria acreditar que aquele momento era real, ao mesmo tempo que parte sua parecia suspeitar que pudesse ser o Caos para que perdesse tempo.
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Traiçoeiro (Em Revisão)
FanfictionHouve uma época, em que os homens não lutavam por poder e que apenas o divino regia sobre os planos. Todos viviam em harmonia. Nada além da paz era conhecido e cultivado. Até que o ouro roubado, por aquele que abriu mão do amor em troca de possuir t...