—Idiota! – Emma praguejou baixinho para si mesma, enquanto seus passos vacilavam e a falta de ar começava a deixar seu corpo estranhamente mole. Cada vez que seus pés se moviam, ela sentia o ritmo do coração acelerar ainda mais e errar a batida, como se tentasse fugir de volta para a segurança da casa e deixar que sua dona continuasse com sua brilhante ideia sozinha. Na hora que surgira em sua mente, parecia uma ótima solução...
Certo, em instante algum pareceu uma ótima solução, mas infelizmente era tudo que Emma possuía no momento além de uma carta vaga escrita por sua mãe que prometia um lugar em que poderia ser livre. Não era o plano ideal, mas era um meio para o fim. Era como dizia o ditado, situações drásticas necessitavam de soluções drástica, ou algo do tipo.
Após seu pai deixar seu quarto e a ideia surgir em sua mente, Emma tratou de se colocar em movimento. Montou uma pequena trouxinha com sua escova de dentes, paninhos para as suas regras, algumas moedas escondidas em meias de uma lã grosseira. Enquanto juntava essas poucas coisas, ainda cogitava abandonar aquela ideia estúpida, queimar a carta e tentar viver sua vida como se nada tivesse acontecido. Porém ao ouvir a aldrava da porta da frente ser tocada e correr até o balcão para ver quem era, percebeu que não tinha muito mais tempo para se decidir, já que o homem que havia conhecido mais cedo, Landon, estava parado ali.
Ele não entrou. Poucas palavras foram trocadas e então o contramestre já estava se apressando pelo caminho de volta.
Com todo cuidado e silêncio desceu pela escada dos criados e foi até a lavanderia da casa. Por sorte, naquele horário os criados já estavam em suas camas. Fuçou os cestos com as roupas sujas que pertenciam aos lacaios e separou as peças que achava que poderiam servir. Voltou para o quarto, substituindo a camisola pelas roupas emprestadas. A calça estava larga em sua cintura. Poderia pegar uma das suas calças de montaria, mas o tecido fino a entregaria. Precisaria de um cinto. Assim como dar um jeito em seus seios. E seus cabelos.
O cinto encontrou no quarto do pai. Henry ia se deitar tarde, o que facilitou para que se embrenhasse até lá e o pegasse, assim como um casaco gasto que ele gostava de usar quando viajava. Quanto aos seios, - que apesar de não serem grandes ainda estavam ali – recordou-se de um livro que lera em que a personagem enrolava uma faixa de tecido para amassá-los. Olhou os cabelos que pendiam até a cintura em uma trança. A mão foi até a tesoura de costura e seu coração se apertou com aquilo e ela sentiu vontade de chorar. Por isso fechou os olhos com força, enquanto ouvia a tesoura mastigar os fios com dificuldade. O peso sumiu e Emma engoliu em seco ou ver o comprimento de seu amado cabelo caído no chão. Prendeu o que havia sobrado, - um pouco abaixo dos ombros – e enfiou uma touca na cabeça, dando uma última olhadela em si mesma no espelho antes de fugir.
Sendo assim, ali estava Emma Mills, no meio da noite, esgueirando-se pelas sombras, vestida de homem, com um par de botas roubado que encontrara do lado de fora da portas dos fundos de sua casa, torcendo para que os piratas ainda não tivessem zarpado ao mesmo tempo que parte sua rezava para que eles já estivessem levantando âncora e fosse tarde demais. A carta de sua mãe queimava de encontro a sua pele, escondida entre as faixas de tecido que apertavam seus seios.
Era incrível como ela estava ciente de si mesma agora que estava apavorada. Sentia o papel que a colocara naquela situação. Sentia as batidas de seu coração em lugares que não imaginava ser possível. Percebeu o caminho que o ar fazia para entrar e sair. Estava atenta aos sons em volta, talvez tão preocupada em estar atenta que seu cérebro poderia muito bem estar produzindo um dos muitos barulhos que a faziam sobressair.
Ainda havia tempo de mudar de ideia e voltar para a trás. Ninguém iria perceber que teria saído, explicaria o corte do cabelo como um momento de rebeldia. Poderia esquecer aquele pedaço de papel e focar em apenas aceitar sua sina.
O problema é que Emma sabia que não conseguiria fazer isso, apesar de desesperadamente desejar ser capaz disso. Aquele papel a assombraria a vida inteira mesmo se o queimasse. A promessa que ele carregava era tentadora demais. Ela começava a se sentir ansiosa e em pânico diante do que tinha nas mãos. A promessa de um lugar seguro e seu caminho escondido que parecia pesar toneladas em um pedaço de papel.
Emma parou ao chegar à praia e ver um último bote pronto para sair em direção ao navio. Outros já estavam a caminho, enquanto alguns marujos já estavam a bordo. Respirou fundo, sabendo que aquela era sua última chance. O capitão havia a convidado a se juntar a tripulação, mas ela não queria que ele soubesse que sua sugestão estava sendo aceita. Ela nem pretendia ficar muito tempo com eles. Só até o próximo porto. Então desceria e compraria uma passagem em um navio de passageiros e começaria sua busca. Tudo o que ela precisava fazer era sair de Atabilifen.
Duvidava que o capitão Jones prestasse atenção em seus marujos. Ele nem perceberia que ela estava a bordo. Ninguém iria desconfiar que era uma mulher. Tudo o que precisava fazer era ficar quieta e tentar se adequar ao ambiente por... No máximo um mês até que ancorassem.
—Eu consigo fazer isso. – murmurou, apavorada, tentando se incentivar. Então, sem deixar mais espaços para os pensamentos que iriam fazê-la desistir, correu até o bote, ajudando os homens o empurrarem até a água e pulou para dentro, tentando ao máximo não chamar atenção para si.
Conforme se afastava da costa, mais seu peito se apertava e o medo a dominava. Cerrou os dentes para não chorar.
Tudo ficaria bem.
Tinha que ficar.
☠☠☠☠
Killian estava no tombadilho superior, quando fechou a luneta, mal conseguindo lutar contra o sorriso vitorioso. Viu o momento que a garota saiu correndo das árvores, ridícula em roupas masculinas, e se juntou ao último bote. Por um momento ele temeu que tudo desse errado e que todos os seus esforços tivessem sido em vão.
No entanto lá estava Emma Mills, a caminho de seu navio. Ela poderia ter simplesmente aparecido, sem o disfarce, mas se a garota queria fazer daquele jeito, do mais difícil para ela, por ele tudo bem.
—Nós temos um novo marujo a bordo. – informou para Landon ao enfiar a luneta do peito do contramestre e indicar o último bote. — E você será responsável por ele.
☠☠☠☠
N/A: Olá, meus amores, como estão? Espero que bem.
E então... O que acharam do capítulo? É agora o famigerado momento que as coisas começam a ficar interessante 🤭🤭
Ah, e eu sinto informar que talvez eu volte a precisar liberar os capítulos apenas uma vez por semana, pois a vida meio que pediu que eu voltasse a ser adulta e é um trabalho de tempo integral isso ushaushashau.
Mais uma coisa: pensei em dar um help pra divulgação das fics CS das leitoras que tiverem, então deixem aqui o nome das suas histórias para todo mundo ter acesso (e eu colocar na minha listinha de leitura)
Acho que isso é tudo.
Muito obrigada por lerem.
Beijos e até mais! 😙
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Traiçoeiro (Em Revisão)
FanfictionHouve uma época, em que os homens não lutavam por poder e que apenas o divino regia sobre os planos. Todos viviam em harmonia. Nada além da paz era conhecido e cultivado. Até que o ouro roubado, por aquele que abriu mão do amor em troca de possuir t...