Capítulo XLIX

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Emma soltou um gemido de dor conforme Killian a apertava mais e mais contra si e a mão afobada a apalpava, como se para garantir que ela era de carne e osso. A reação dele, tão genuinamente desesperada e aliviada, fez o coração da jovem se encolher no peito e algo parecido com culpa pesar em seu âmago.

—Você parece até feliz em me ver, capitão. – brincou contra a pele do pescoço do homem, o calor do peito dele a abraçando por inteiro. Ela conseguia ouvir o coração de Killian disparado Sentia a respiração dele superficial tocar seu rosto, como se não conseguisse levar ar suficiente para os pulmões.

O corpo de Jones se sacudiu em uma risada curta e o homem se afastou para poder olhá-la.

—Um pouco. – atalhou brevemente, em um sussurro divertido, antes de ficar sério novamente. O azul das íris carregavam um misto de confusão que Emma entendia muito bem. O capitão não havia aberto a boca, mas as indagações estavam claras o suficiente. — Eu tenho muitas perguntas.

Emma suspirou e desviou os olhos para baixo. Seria mais fácil de lidar com tudo se ela não sustentasse aquele olhar tão amoroso que Killian lhe dava.

—Eu sei. – concordou. — Imagino que esteja confuso.

—Mas você não quer falar sobre isso agora. – afirmou, os dedos tateando as costelas da mulher em seus braços, em busca de algo quebrado. Killian conseguia ver que estava bem machucada, e que sentia dor com seu aperto, apesar de não dizer nada. Ele queria desesperadamente levá-la para cama onde poderia avaliá-la por completo, mas o capitão não tinha certeza se a força havia retornado para suas pernas.

—Estou cansada. – foi tudo o que respondeu. — E gostaria de um banho de verdade, se possível.

Ele não queria deixar Emma sozinha por um minuto, mas não podia negar um banho a ela. Não quando era um pedido tão simples e fácil de ser conseguido. Poderia instá-la em alguma das estalagens.

Maldição! Ele iria fazer exatamente isso, pensou, enquanto a erguia nos braços com certa dificuldade. A capa longa branca e cheia de penas tornava o ato de carregá-la um pouco mais complicado do que normalmente seria.

—Eu poderia dizer que consigo andar, mas não seria totalmente verdade. – falou baixinho, os braços se enlaçando ao pescoço do capitão. Não sabia se a calça que vestia funcionaria fora do Outro Mundo. Não sabia como seus machucados se comportariam. —Onde estamos indo?

—Achar uma estalagem. – explicou, o maxilar trincado, tentando não pensar naquele momento nas palavras de Emma. Se fosse preciso ele a carregaria nos braços pelo resto da vida, mas como ela se sentiria uma vez que descobrisse que não poderia andar nunca mais por culpa dele? Por culpa do medo egoísta dele de perdê-la?

Não. Não pensaria naquilo naquele momento. Talvez não fosse uma condição reversível. Ele a ajudaria a ficar melhor e mais forte a cada dia. E o que importava era que estava viva.

Lembrou-se como Emma ficou ao seu lado, ajudando-o a se adaptar com sua nova condição quando perdeu a mão. Não o tratou diferente em nenhum momento. Jones faria o mesmo por ela.

—Mas eu quero ficar na Jolly. – pediu, o tronco se enrijecendo.

O pedido o fez sorrir de leve. Saber que ela gostava de seu navio e de estar ali com ele, o fez pensar que Emma também considerava a Jolly Roger como sua casa.

—Eu não tenho água aqui para te proporcionar um banho, meu amor. – respondeu, os lábios tocando a testa dela ternamente. — Nós podemos voltar para cá amanhã, porque vou ter tempo de preparar o navio para a gente.

Emma fez que não com a cabeça e virou o rosto, estudando com atenção a rua vazia e silenciosa. Aquilo era estranho. Um porto nunca costumava ser silencioso. Havia sempre marujos cantarolando ou prostitutas procurando clientes em potencial.

Traiçoeiro (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora