Capítulo LIII

159 11 65
                                    

Killian bateu de leve na porta aberta da sala de leitura e aguardou até que Belle erguesse o rosto do livro que lia. Ela sustentou impassível o olhar do irmão, que recebeu o gesto como um convite e entrou. Belle o acompanhou atentamente com os olhos, encolheu as pernas que estavam esticadas no sofá, o livro fechado no colo e aguardou. Jones se sentou sem jeito ao lado dela e limpou a garganta.

—Eu devo um pedido de desculpas. – começou, a ponta do gancho batia de leve no joelho. — Sei que deveria esperar seu tempo, mas não precisa se esconder para mim. De qualquer forma, eu sinto muito se machuquei você.

Ela ficou em silêncio, apenas o analisando até que o capitão se remexeu com desconforto e engoliu em seco.

—Emma o fez vir aqui? 

—Por que todo mundo acha que eu só peço desculpas se alguém me mandar fazer isso? – perguntou indignado. Belle arqueou uma única sobrancelha e o homem bufou. — Ela me deu um puxão de orelha, mas estou aqui porque sei que errei.

—Sim, você errou. – concordou. — Mas não estava errado. – acrescentou rapidamente.

Jones entortou a cabeça de leve, olhando fixamente para o rosto da irmã que aos poucos adquiria vários tons de vermelho, enquanto ela fitava as mãos, como que para evitar ele.

—Zelena e eu não temos travas nas línguas. – falou, um espectro de sorriso pairava nos cantos dos lábios da morena. Então suspirou. — Para mim é difícil ter tantas pessoas sabendo de uma única vez, eu fico esperando os olhares de julgamento ou nojo. Se as pessoas ficarem sabendo... – deu de ombros e voltou a encarar o irmão. Seu peito doeu ao se deparar com os olhos azuis que a acolhiam e aceitavam do jeito que era.

O pensamento de como era sortuda por tê-lo como irmão cruzou a sua mente. Quis abraçá-lo e chorar, mas permaneceu no lugar. Apesar do companheirismo claro que existia entre eles e que se fortalecia com os dias, Belle ainda não sabia em que pé estavam com os afetos. Enquanto ela gostava de contato, toques e demonstrações, Killian era mais reservado, talvez como uma forma que a vida o ensinou para se proteger. Ele entregava tudo para Emma: os olhares apaixonados, os sorrisos secretos que só eles entendiam, os toques discretos quando em público que demonstravam amor e carinho. Mas com outras pessoas, seu irmão sempre parecia desconfiado e desconfortável.

—As pessoas em questão podem ir para o inferno. – concluiu e estendeu a mão para pegar a dela. — Você gosta dela?

Belle riu, constrangida.

—Se eu não gostasse, não estaria tendo relações com ela.

—Você pode fazer sexo com uma pessoa que não gosta. – atalhou de pronto. — Desejo e atração sexual nem sempre andam de mãos dadas com sentimentos. Às vezes você só quer uma boa foda, alguém que te faça gemer e gozar.

—Killian! 

O homem a olhou de forma cética.

—Não precisa fingir puritanismo comigo. – tranquilizou-a. — Eu sei que compreende o que digo. Eu estava em Atabilifen também. – levantou as duas sobrancelhas e riu ao ver a expressão da irmã. — Emma diz que vocês duas são destinadas. As responsáveis por quebrar a maldição caso ela não consiga.

—Caso vocês não consigam. – corrigiu-o distraidamente. Killian não disse nada sobre a ênfase que Belle usou naquela resposta, como se ela tivesse certeza do que estava falando de que eram os dois quem quebraria a maldição, mesmo que Emma não aceitasse que ele era o guerreiro dela. — E eu não sei. Gosto de estar com a Zelena. Ela me acalma. E gosto de ser aquela que consegue trazer o lado doce dela à tona. Nós nos divertimos juntas. Mas amá-la? – balançou a cabeça. — Acho que não. Não quero. Eu não posso.

Traiçoeiro (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora