Na manhã seguinte, Emma bateu na porta da cabine do capitão com a ponta do pé, enquanto equilibrava a bandeja com o café. Sentia-se nervosa para vê-lo, mas não tinha certeza do porquê. Ainda tinha dificuldades para acreditar que aquela conversa civilizada da madrugada havia acontecido.
Eles nunca eram civilizados quando se falavam.
Ela estava intrigada ainda mais com o capitão. A informação de que ele havia evitado que se machucasse, ou pior que se matasse, enquanto dormia não a deixou pregar os olhos. Tanto pela descoberta chocante de que provavelmente a informação fora escondida dela todo aquele tempo, tanto por ele ajudá-la sem se gabar disso. Se ela desaparecesse no meio da noite seria uma dor de cabeça a menos para ele. Ainda assim, ele tinha evitado.
Landon podia estar certo. Talvez Killian Jones fosse mesmo um homem bom.
A porta se abriu e os olhos azuis se prenderam aos dela com o costumeiro ar de zombaria, mas dessa vez com algo mais que ela não sabia denominar ainda. A respiração quis falhar, mas Emma conseguiu fingir não estar abalada, enquanto seu coração tentava reencontrar o ritmo certo. Um dia ela deixaria de se sentir afetada por ele. Killian estava como sempre ficava quando estava à vontade em sua cabine: camisa para fora da calça e os pés descalços. Os olhos ainda não tinham aquela camada de kajal por toda a pálpebra. O capitão a estudou com uma certa intensidade e Emma sentiu os dedos dos pés se contraírem dentro dos sapatos.
—O Cirurgião pediu para avisá-lo que estamos ficando sem provisões. – falou, erguendo a bandeja apenas com ovos mexidos, uma pasta que deveria ser mingau e biscoitos velhos. Sentiu a necessidade de falar para quebrar aquela tensão que sentia crescer e que fazia sua pele formigar.
O que aquele homem estava fazendo com ela?
—Em duas semanas iremos atracar em Króstal. – informou enquanto dava um passo para o lado para que ela pudesse entrar.
Emma escutou a porta fechar as suas costas e respirou fundo. Era ridículo como estava se sentindo mais nervosa do que a primeira vez que pisara ali, para decidir a sua vida.
Caminhou até a mesa que dividiam normalmente em silêncio e parou de supetão ao ver bem no centro dela seu colar roubado. Tentou não sorrir, mas sabia que os cantos de seus lábios a entregavam. Killian se apoiou na mesa, os braços cruzados e abaixou a cabeça para tentar procurar seu olhar. Emma o fitou com uma alegria que ela viu refletida nos olhos do homem.
—Essa é a sua forma de pedir por uma trégua? – indagou com sarcasmo, pousando a bandeja na mesa e cruzando os braços para imitá-lo.
Killian olhou para cima com cinismo e deu de ombros.
—Não sei.... Se fosse você aceitaria?
—Eu só aceitaria se nessa trégua uma massagem nas costas estivesse incluída. – brincou.
—Aí você já está exigindo demais. – retrucou, soltando os braços ao lado do corpo.
Emma também relaxou o corpo e sua expressão se suavizou.
—Muito obrigada, capitão. – disse, inclinando-se para pegar o colar. Assim como da primeira vez que o tocou sentiu-se estranha, uma vibração percorreu seu corpo e seu estômago se apertou como um prenúncio que algo ruim estava prestes a acontecer. — Eu tinha o encontrado no dia anterior que me roubou, sabe? Me senti péssima por tê-lo perdido.
—Achei que já era uma daquelas peças que nunca tirámos. – Killian comentou, enquanto puxava a cadeira para que Emma se sentasse. O gesto cavalheiresco não lhe passou despercebido, mas ela preferiu não fazer comentários a respeito. Sentou-se e o observou tomar a cadeira à sua frente.
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Traiçoeiro (Em Revisão)
FanfictionHouve uma época, em que os homens não lutavam por poder e que apenas o divino regia sobre os planos. Todos viviam em harmonia. Nada além da paz era conhecido e cultivado. Até que o ouro roubado, por aquele que abriu mão do amor em troca de possuir t...