—Você está bem? — Granny, sua boa e velha governanta questionou. Emma assentiu com um breve aceno. Queria ir para casa, mas seu pai decidira que deveria conversar com todos que o paravam com as mesmas condolências já repetidas. — Não está muito falante hoje, não é mesmo?
—Não estou no humor, Granny. — retrucou, procurando Belle pelo aglomerado de pessoas que saiam da pequena igreja que ficava no topo de um penhasco. A amiga havia ficado com ela durante a cerimônia, mas na saída as duas se separaram com o fluxo.
Emma conseguia ouvir as ondas quebrando furiosas lá embaixo, apesar do falatório que a envolvia. A brisa salgada jogava alguns fios rebeldes, que teimaram em soltar do penteado, em seu rosto.
—Sei como é estressante para você ter que passar por isso. — murmurou compreensiva.
Sim, Granny entendia. Foi ela quem enxugou muitas das lágrimas silenciosas de raiva que Emma derrubou por conta da mãe. Mas parte do mau humor de Emma era a privação de sono já que dormira pouquíssimo na noite anterior. Ela não costumava funcionar quando estava cansada. Sua cabeça pesava, e só a ideia de ter que prestar atenção em outro ser humano falando a deixava exausta.
Belle entrou no campo de visão de Emma, sorridente e serena mesmo usando cores deprimentes. Ela era o tipo de pessoa que poderia usar um lençol enrolado no corpo e ainda assim continuaria linda. A pele branca como porcelana, os cabelos negros e olhos expressivos de um tom de azul claro, a mulher possuía um ar malicioso na forma de olhar em um rosto angelical. Era a melhor amiga de Emma e não poderiam ser mais diferentes. Moradora de Sore — a terra conhecida como a do amor erótico — Belle não tinha tanto controle da língua e por vezes soltava coisas impróprias mesmo sendo solteira. Flertava de modo descarado. Quando estava em Atabilifen, — como agora — constantemente desaparecia para alguma aventura que envolvesse sua provável ruína, mas simplesmente não se importava. Fruto de um casamento infeliz, cresceu acompanhando os casos extraconjugais dos pais, até que os dois entraram em comum acordo de se separarem. Para ela, estar com alguém, era natural.
Necessidades do corpo, ela dizia sempre que Emma tentava colocar algum juízo em sua cabeça.
Já Emma era mais retraída. Travada. Conseguia conversar com facilidade com todos, mas não possuía a desenvoltura de Belle para atrair. Sentia-se ridícula ao tentar flertar e na maior parte do tempo parecia trabalhoso demais.
Emma se contentava mais em observar do que ser o centro das atenções. Desse modo, ela podia facilmente escapar dos falatórios se não fosse vista. Levando em consideração que gostava de passar seu tempo ao ar livre, caminhando entre os "comuns" e dançando com os artistas da vila, não fazia a mínima questão que os olhos daqueles que estavam acima dela a notasse para que a criticassem. Ainda mais se levasse em consideração o fato de que não era da nobreza, apesar de ter passe livre para transitar entre eles por conta da riqueza do pai, um comerciante muito bem-sucedido. Muitas pessoas não gostavam desse arranjo e procuravam com afinco algum deslize vindo da família Mills que os baniria de seus grupos. Sendo assim, Emma fazia o seu melhor para se comportar e não causar dor de cabeça para o pai.
Seu corpo também tinha "necessidades", mas ela era sonhadora o suficiente para controlá-las para o momento certo. Imaginava como seria, os toques, o contato tão próximo com outro ser humano, a intimidade.... E pacientemente esperava. As necessidades do corpo, como Belle chamava, possuíam extrema importância para Emma.
Talvez isso indicava que havia lido romances demais, mas não se importava. Acreditava que se alguém havia escrito sobre aqueles tipos de amores, em algum lugar ele iria existir. Até mesmo para ela.
E por outro lado, ela nem estava tão desesperada assim para casar. Emma se sentiria melhor se pudesse cuidar de seu pai por mais uns dois anos agora que ele estava sozinho.
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Traiçoeiro (Em Revisão)
FanfictionHouve uma época, em que os homens não lutavam por poder e que apenas o divino regia sobre os planos. Todos viviam em harmonia. Nada além da paz era conhecido e cultivado. Até que o ouro roubado, por aquele que abriu mão do amor em troca de possuir t...