Capítulo LIV

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O silêncio caiu como um pesado manto na cabine, enquanto a confissão encontrava maneiras de se assentar no espaço, tornando-se real.

Ele havia dito. A verdade havia saído dele. E enquanto estudava o rosto de Emma, não se sentia melhor. Muito pelo contrário: estava apreensivo.

A jovem o encarou. Ela começou a rir. Riu como se esperasse que fosse mentira e que a qualquer momento Killian fosse dizer que estava brincando.

Mas quando ele permaneceu sério, as feições presas em ângulos de consternação, ela se calou.

—Você está falando sério?

O capitão sentiu as bochechas esquentarem e assentiu uma única vez, lutando para permanecer com os olhos fixos nos dela, com medo de que no menor desvio que fizesse tudo saísse de seu controle.

A torrada caiu da mão de Emma e ela sentiu seu mundo ruir conforme as palavras, as confissão torturada, a atingia de verdade. Um zunido forte em seus ouvidos a ensurdeceu momentaneamente enquanto encarava o homem sentado à sua frente.

O homem que achava que conhecia. Que tinha dado sua confiança, seu coração e sua alma. O homem com quem estava planejando um futuro...

Seu coração se encolheu em seu peito e em um reflexo ela se encolheu para longe dele, como se dessa forma pudesse se proteger. Sua cabeça parecia ter parado de funcionar e ela piscou uma, duas, três vezes para tentar clarear a visão embaçada.

Céus, ela precisava de ar. Precisava sair dali.

Um lampejo de dor cruzou os olhos azuis atormentados quando o capitão percebeu o movimento esquivo dela, a forma como o estava afastando, fechando-se para ele da forma que deveria ter permanecido.

O pior é que ela tinha sido avisada que ele não era confiável. Branca havia dito, não?

Ela arquejou.

Cora. Ela achou que havia visto Cora na noite passada.

Agora começava a achar que não tinha sido um engano seu ou sua mente medrosa criando coisas.

—Swan. — Killian chamou com cautela. 

—Você me traiu antes mesmo de me conhecer. — conseguiu dizer em um fio de voz. —A visão do futuro... — recordou ao perceber que a resposta estava nela o tempo inteiro. Em momento algum da visão ela viu a versão atual deles juntos. Tinha visto sua morte e o futuro dele. Ao lado de Milah. —Por isso tem tanto medo que eu me afaste. Você precisa de mim para concluir seu negócio.

Jones fez que não e se aproximou dela. Deveria ter contado enquanto a segurava nos braços.

—Está certa, eu tenho medo que se afaste. E de fato preciso de você. Mas não para o que está pensando. Eu te amo, Emma Swan-Jones. Somos uma família. — afirmou, convicção e desespero se misturavam em sua fala, enquanto ele tentava tocá-la.

A risada seca de descrença que ela deu fez com que ele se encolhesse dessa vez.

—Família. — ecoou as palavras dele com incredulidade. Então enrolou o lençol em seu peito com força, sentindo-se humilhada por estar tão vulnerável, tão exposta aos olhos do capitão como se ele fosse um estranho. — Desde a primeira vez que me viu você já sabia do meu destino. Já sabia que eu estava condenada e me deixou ter esperanças de que tudo poderia mudar. Me ofereceu sua ajuda sendo que é você o meu carrasco. Como você pôde? — a traição que sentia estava entremeada na pergunta, brilhando em seus olhos. — Por quê? 

Killian estava assistindo todo o amor, carinho e confiança sendo encobertos das íris verdes, como se nuvens pesadas e negras que anunciavam as tempestades que causavam destruição estivessem se alojando ali, onde sempre era um dia ensolarado de primavera.

Traiçoeiro (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora