Emma apoiou as mãos nas paredes quando o balanço do navio ameaçou derrubá-la. Seu corpo inteiro doía. Assim como seu corpo inteiro parecia sujo. Parou, tentando recuperar o equilíbrio e a força nas pernas, enquanto o pânico e o horror dos minutos que havia vivido voltavam em sua mente nitidamente. Tentou engolir a saliva que se acumulava na boca, mas era como se aquelas mãos nojentas ainda apertassem seu pescoço, impedindo que qualquer coisa descesse pela garganta.
Um novo tranco no navio fez seu corpo se projetar para a frente, forçando-a a sair daquela terror. O mar não estava amigável aquela noite. Abriu os olhos que estavam cerrados com força e se encontrou no corredor escuro das cabines privativas a meio caminho da cabine do capitão. Havia acordado sozinha, na cama de Landon mais uma vez, com a estranha sensação de que alguém a observava dos cantos escuros. Suas roupas haviam sido trocadas, seus ferimentos limpos e o ar tinha cheiro de lavanda, sálvia e camomila, uma mistura que o contramestre deveria ter feito para ela.
Deu mais alguns passos em direção a porta da cabine do capitão. Estava desnorteada e angustiada. Não fazia ideia de quanto tempo estava desacordada. Não se lembrava de muita coisa depois que Landon a tirou da sala do tesouro. Seu emocional estava em frangalhos que ela só apagou. Não tinha noção se havia se passado dias ou apenas algumas horas.
Não sabia se o capitão Killian Jones estava bem.
Seu peito se apertou com a ideia de não ter suas provocações todos os dias e Emma arquejou surpresa com essa dor inesperada que surgiu após imaginar aquele navio sem a presença de seu capitão.
Conseguiu terminar a pouca distância que faltava e encontrou a porta entreaberta. O cômodo estava banhado em uma aconchegante e convidativa luz dourada, e um familiar cheiro dos remédios que Landon preparava com óleos. Emma sentiu parte da tensão deixar seus ombros. Aquilo só podia significar que o capitão estava bem. Lembrava-se de vê-lo bem ensanguentado e já sem força, mas talvez mais parecia pior do que de fato era.
Entrou silenciosamente e parou meio caminho da cama, com medo de se aproximar mais. Com medo do que encontraria. Landon estava sentado em uma cadeira ao lado do homem e virou a cabeça ao sentir sua presença. Ficou em pé em um pulo, os olhos grudados nela.
—Emma. – chamou baixinho, a voz rouca, como se não falasse há muito tempo. —Não esperava vê-la acordada.
A jovem umedeceu os lábios e abraçou os cotovelos.
—Quanto... – começou, mas percebeu que a voz não saía. Como se suas cordas vocais tivessem sido tão pressionadas que não funcionavam mais. — Tempo? – terminou com um fiapo de voz.
—Foi na noite anterior. Você dormiu o dia inteiro. – explicou. — E não se preocupe que logo sua voz vai estar saindo normalmente.
Ela assentiu. Não estava tão preocupada assim com sua voz. Queria saber como o capitão estava. Foi isso que a tirou da cama. Isso e os olhos na escuridão que sentia que a observava. Ainda ali, na companhia do contramestre, Emma podia jurar que algo a vigiava.
De qualquer forma, o rosto do capitão era tudo o que queria ver naquele momento.
Tentou respirar fundo e tomou coragem para se aproximar da cama. O capitão estava deitado, como se estivesse dormindo. O rosto limpo estava cheio de hematomas e cortes. Seu peito sem camisa subia e descia em uma respiração chiada. Seus cabelos estavam empapados de suor e ao lado da mesa de cabeceira tinha uma tigela com água.
Chegou ainda mais perto até seus joelhos tocarem a madeira da cama e com dedos hesitantes tocou a testa do homem desacordado. A pele queimava.
—Killian foi bem machucado. Ele levou uma facada na coxa e uma no abdome que poderia ter sido fatal. Levou um tiro no ombro direito e a mão esquerda foi... –ele hesitou, antes de encher os pulmões de ar. — A mão esquerda foi tão machucada que não conseguimos salvar. – contou, parando ao lado de Emma. os olhos dela desceram para onde deveria estar a mão do capitão. Seu estômago se apertou ao pensar na dor que o homem sentiu. E como deve ter sido difícil para Landon fazer aquilo. — Cauterizamos e tentei limpar o melhor que pude, mas os ferimentos começou a infeccionar. Por isso a febre.
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Traiçoeiro (Em Revisão)
FanfictionHouve uma época, em que os homens não lutavam por poder e que apenas o divino regia sobre os planos. Todos viviam em harmonia. Nada além da paz era conhecido e cultivado. Até que o ouro roubado, por aquele que abriu mão do amor em troca de possuir t...