Capítulo LI

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—Levem esses caixotes para baixo! – o capitão ordenou para dois marujos que acabavam de subir a bordo carregando caixas com mantimentos.

A Jolly Roger estava mais uma vez parecendo viva. Ele observou seus novos homens, e alguns que voltaram atrás quando ficaram sabendo que seu capitão havia abandonado a ideia maluca de ir até o Outro Mundo, prendendo as imensas e novas velas nos mastros, assim como preparando os cordames. No interior, mantimentos e armas eram guardadas.

Até alguns meses antes aquela movimentação era a única coisa que o fazia se sentir vivo. Ouvir seu contramestre gritar ordens e a emoção de não saber o que ou qual seria a próxima aventura, era o que fazia o coração de Killian vibrar.

Agora o homem assistia a tudo com desânimo. Parecia sem sentido a ideia de zarpar sem ter um lugar para se ir como fizera por toda a sua vida. Em tantos anos, pela primeira vez, o mar não era um lugar em que queria estar.

Suspirou. Quando pensava onde queria estar, ou melhor, onde desejava estar, era em qualquer lugar que Emma estivesse. A mulher estava gravada em sua mente como uma maldita tatuagem. Não precisava fechar os olhos para ver o sorriso dela, ou as sardas que pintavam seu rosto. E não tinha um instante do dia em que seu corpo não parecia estar buscando por ela.

Se adaptar sem Emma estava sendo mais difícil do que se adaptar sem sua mão. E ele começava a achar que nunca se acostumaria com aquela perda.

Desceu para a cabine, uma vez que sabia que Landon tinha tudo sob controle no convés. Precisava definir pequenos detalhes antes que zarpassem no dia seguinte.

E Killian ainda precisava fazer uma última visita à casa de Belle. Nunca conseguia ver muita coisa, mas acalmava seu coração que parecia saber que Emma estava apenas a alguns metros de distância, um trajeto curto para percorrer, caso ele pudesse fazer aquilo.

Landon dizia que ela estava bem. Ganhando peso. Contou que Zelena a estava ajudando com as pernas, a mulher determinada a fazer a amiga andar por conta própria. No entanto, Emma parecia extremamente triste. Ela conversava e ria, mas segundo seu contramestre, a jovem passava tempo demais perdida em seus próprios pensamentos e olhos fixos no nada, enquanto brincava com o colar em seu pescoço, como se ruminasse coisas que não queria compartilhar com mais ninguém.

E o deixava louco saber que ela estava sofrendo com a separação tanto quanto ele. Emma devia achar que tinha sido trocada. Que ele a mandou embora sem nem querer olhar para ela uma última vez porque não era mais necessária uma vez que teria Milah de volta.

Como estava errada.

—Então é isso? – Killian fechou os olhos ao reconhecer a voz de Zelena. Ela não deveria estar ali, apenas tornaria o momento e a partida mil vezes pior. — Vai zarpar sem nem ao menos se despedir de Emma?

O capitão respirou fundo, mas não se virou. Ele conseguia ouvir o julgamento na voz da mulher. O desprezo tão evidente que sentia dele. Não era um sentimento novo, Zelena nunca fingira que gostava dele. Nos últimos dois meses parecia ter amaciado, preocupando-se com ele quando todos acharam que Emma estava morta, mas pelo visto a empatia havia durado até o momento em que achou que ele tinha chutado sua amiga para ir atrás de sua irmã postiça.

—Para alguém que dizia sofrer tanto você a esqueceu bem rápido ao descobrir que Milah está viva. – continuou secamente. — Não hesitou duas vezes antes de mandá-lo embora.

—Você não sabe de nada, Zelena. - atalhou, a voz abafada.

Ela não sabia como a decisão de ficar longe de Emma o estava matando lentamente. Como ele precisava se segurar para não sair de seu esconderijo de onde ficava cuidando sua Swan e bater na porta de Belle para tê-la nos braços de novo. Não sabia como a ideia de partir e deixá-la para trás era como se seu próprio coração tivesse abandonado o corpo, recusando-se a vida de solidão.

Traiçoeiro (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora