Capítulo XXI

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—Foco, Emma! – Landon bradou quando, pela quarta – ou seria sexta? – vez, ele conseguira jogar a espada da jovem longe.

Emma grunhiu de irritação e se agachou para pegar a arma. O problema era que ela estava cansada, sua arma era pesada demais para si e não ajudava que o capitão estava ali, sentado, divertindo-se horrores ao distraí-la com comentários irritantes que tiravam risadas do resto da tripulação.

—Eu estou focada. – resmungou, respirando com dificuldade. Antes ela achava que tinha uma boa forma física por sempre caminhar, dançar ou das vezes que treinava alguns golpes com o pai. Mas esse achismo havia mudado há duas semanas, quando o contramestre começara a treiná-la.

Aquela era sua quarta semana no navio. Um mês completo em que ela estava vivendo longe de casa, no lugar mais improvável de todos, com aqueles homens. E cada novo dia se mostrava um desafio que dava graças aos céus quando chegava ao fim. E era uma vitória ainda maior quando ela conseguia passar com apenas algumas palavras afiadas trocadas com o dito capitão.

Após aquele dia, quando decidira ficar, uma cabine havia sido dada para ela. A cabine da antiga senhora do capitão, Landon dissera. Aparentemente havia dias em que a mulher sentia necessidade de dormir longe do companheiro e Emma não a julgava por querer um pouco de distância. Ter que aguentar Killian Jones era um verdadeiro teste, não só de paciência, como de amor próprio. Naquelas quatro semanas ela tinha ouvido de tudo, de ofensas a assédios disfarçados de brincadeira. Ao que tudo indicava, o capitão gostava da troca de farpas e quanto mais irritada Emma ficava, mais ele se divertia as suas custas.

Sua rotina havia se estabelecido de uma maneira esquisita e que ela não havia esperado. Quando o capitão anunciou para o resto da tripulação sobre sua presença, Emma havia imaginado que os homens fizessem um certo barulho exigindo que ela fosse abandonada no próximo porto, pois uma mulher a bordo trazia azar, foi sempre o que ela ouvia os marinheiros reclamarem aos sussurros quando viaja com os pais. Mas em vez disso, eles apenas torceram o nariz e assentiram, olhando-a de esguelha e com certa desconfiança. Porém agora eles já estavam mais receptivos em relação a sua presença. Emma se sentava com eles no fim do dia de trabalho, fosse para jogar ou observá-los cantar suas canções obscenas e geralmente nesses momentos ela desenhava aqueles homens que apesar de terem a vida miserável, sempre estavam achando motivos para se divertirem no fim do dia. Surpreendentemente o capitão havia lhe dado um de seus cadernos em branco para que ela registrasse tudo o que quisesse registrar naquele tempo em que passasse com eles.

—Faz bem anotar seus dias. Alguns podem se tornar monótonos. – disse certa noite ao estender o caderno em sua direção antes que ela se recolhesse.

E isso ela fazia. Mas ao seu modo. Emma estava decidida a registrar em imagem seus dias. No meio das páginas era possível encontrar uma ou outra carta destinada a Belle em que contava tudo o que estava vivendo. Contou sobre Landon e tudo o que estava aprendendo com o contramestre, sobre a rotina do navio, os marujos e principalmente sobre o capitão.

Apesar de detestá-lo, Emma não conseguia deixar de pensar nele e em alguns momentos do dia em admirá-lo. Ele era um homem terrivelmente bonito e tentador demais, algo que nunca estivera tão próximo dela. O capitão a deixava nervosa, ao mesmo tempo que fazia algo dentro de si se contorcer querendo desesperadamente algo que Emma não sabia o que era. Ela tentava entendê-lo e, apesar do homem a irritá-la mais que tudo, a jovem realmente tentava estabelecer uma convivência pacífica com ele, talvez até mesmo desenvolver uma amizade. Havia momentos em que ela percebia que a guarda dele era baixada, porque seus olhos se tornavam mais receptivos e ele apenas ficava em silêncio em sua companhia. Então nesses momentos de silêncio, ela o observava. Cada ângulo e detalhe, enquanto desejava poder tocar com as pontas dos dedos. Seu momento preferido para fazer isso era no café da manhã, em que ele ainda estava tão à vontade, descalço, camisa aberta. Killian Jones havia exigido que ela tomasse o desjejum em sua companhia quando no dia seguinte Emma bateu a sua porta para deixar sua comida.

Traiçoeiro (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora