Traiçoeiro (Em Revisão)

Capítulo L

Killian ouviu os passos leves que reconheceu como sendo os de Landon. Anos de convivência geravam isso. Não se virou. Não queria companhia, mas também não queria ficar sozinho.

Não conseguia respirar. Em seu peito, uma pressão que reconhecia como medo e culpa o deixava sem ar. As palavras que acabara de ouvir de Emma ecoavam como canção maldita em sua mente.

Milah está viva. Eu vi.

Exceto que não podia ser verdade. Ele passara anos procurando pela mulher. Em vários portos. Em vários lugares.... Até achar alguém que sabia como trazê-la de volta.

Entende por que não posso aceitá-lo? Você conseguiu o que queria, o que passou tanto tempo procurando.

Exceto que era mentira. Ele não fizera nada. E o que ele queria era ela. Para sempre.

O capitão fechou os olhos com força e apertou a caixinha do anel na mão. Aquele era seu pior pesadelo. Esperava acordar a qualquer momento, na cama com Emma, como fora pela manhã. Esperava acordar e poder fazer amor com a mulher que amava, como se dessa forma fosse tornar menos real o futuro que ela tinha visto.

Por que as coisas não podiam ser simples para ele?

Por que a felicidade não podia durar muito tempo ao seu lado?

—Filho. – Landon o chamou suavemente. A voz baixa e preocupada tornou tudo pior naquele momento. — O que está acontecendo?

Jones meneou a cabeça e se voltou para seu contramestre. Os olhos cinzas o estudavam com demasiada atenção, provavelmente tentando enxergar a verdade que ele escondia.

E de repente, a verdade que guardara para si por tanto tempo, pareceu pesar demais para que continuasse a carregar sozinho.

—Você estava certo. – falou sem forças, cansado. — Quando disse que o trabalho não devia ser apenas o dinheiro. Não era.

A postura de Landon se modificou. Tornou-se tesa. Sua testa se franziu, enquanto aguardava.

—Eu realmente achei, por muito tempo, que a minha felicidade estava ao lado de Milah. Quando eu a perdi... – a voz do capitão se perdeu na lembrança de uma dor que agora parecia tão distante, mas que doeu por tanto tempo. — Eu fiquei destruído.

—Eu me lembro. – murmurou.

Killian abriu a caixinha do anel e o admirou. Admirou o seu maior sonho no momento e que não poderia se tornar real.

Por culpa dele.

—A pessoa que me contratou... – continuou, um bolo se formando em sua garganta, como se suas cordas vocais estivessem com pequenos nós. — A coisa que me contratou.... Disse que podia trazê-la de volta. Tudo o que eu precisava fazer era dar uma vida pela outra. – Jones ergueu os olhos para seu contramestre que tinha a expressão impassível. — A vida de Emma em troca de Milah. E eu aceitei. – a confissão saiu acompanhada de uma risada dolorida. — Eu aceitei no calor do meu desespero e luto. Aceitei achando que seria fácil.

—Então você se apaixonou por Emma.

Jones assentiu.

—Então eu me apaixonei por Emma. – sussurrou e se levantou. — Então eu descobri que ela é parte da minha alma. Que somos destinados. Que eu fui feito para ela e ela para mim. E é um encaixe tão certo. Eu a amo. – constatou com tristeza. — Tenho vivido todo esse tempo acreditando que consigo contornar isso. Para mim não existe mais trabalho...

—Mas você fez um acordo com as forças destrutivas. – completou.

O capitão balançou a cabeça e olhou para o horizonte, o reflexo do sol nas águas do mar quase o cegando e então riu, sentindo o gosto amargo que a perda da esperança deixava em sua boca em forma das palavras que iria pronunciar.