Prólogo

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—Como você pôde fazer isso? Abandoná-la assim? — acusou incrédula quando o Pai de Todos lhe deu as costas, indo sentar-se em seu trono, ignorando cada palavra que saía de sua boca. Sua indiferença e frieza fazia o sangue etéreo em suas veias borbulharem de ódio. Os olhos da jovem ardiam com as lágrimas que se acumulavam e que bravamente lutava para não derrubar.

Ela era uma guerreira e não deveria chorar. Uma guerreira que constantemente estava em meio aos mortos. Uma guerreira que escolhia aqueles que deveriam morrer no campo de batalha para levá-los até Ele.

Ele que tratava todos com tanto desprezo, como se fossem coisas descartáveis.

—Mist. — uma de suas irmãs chamou em um tom de alerta, como se pedisse para ficar quieta e não piorar a situação.

—Não, Gerhilde. — retrucou, sem encará-la, os olhos fixos em seu pai e em seu olho cinza, sua feição feroz e cruel. — Brunhilde está morta por culpa dele! — gritou. — Nossa irmã está morta, pois ele virou as costas para ela.

—Brunhilde está morta porque me desobedeceu.

Ela soltou uma gargalhada forçada.

—Ela se recusou a deixar um inocente morrer. Inocente esse que era seu filho e que sua amável esposa ordenou que matasse, porque não aceitava o recém descoberto par de chifres dado pelo perfeito Pai de Todos....

—CALADA! — berrou, sua voz reverberando por todo canto do salão. Ficou em pé, usando de todo o seu tamanho para preencher o ambiente. — Você não desrespeitará Frigga dessa forma. — declarou em um tom ameaçador, empunhando sua lança. O som uníssono de respirações sendo bruscamente interrompidas foi breve conforme ele se aproximava da jovem que o enfrentava. A guerreira que estava prestes a receber a contida fúria do Pai fez o melhor que pôde para se manter de cabeça erguida e enfrentá-lo, para não fraquejar e acatar ordens como todos faziam. — Brunhilde era minha preferida, até que desobedeceu minhas ordens. Eu não podia deixá-la achando que não teria consequências.

—Mandá-la para a Terra dos Homens foi um castigo extremo, não acha?

O Pai de Todos abaixou a cabeça e soltou um suspiro, como se estivesse cansado.

—Fiz o melhor que pude para deixá-la protegida. O anel de fogo....

—Não foi suficiente. — rebateu sem emoção. — Siegfried a acordou, mas a abandonou. Foi ludibriado para esquecê-la, por Mime, que queria recuperar o maldito círculo de ouro.

O olho cinza, sem vida, estudou-a de cima a baixo.

—E sua irmã, contou para o anão traiçoeiro o ponto fraco do homem que jurava amar.

A Valquíria balançou a cabeça, uma lágrima solitária descendo por seu rosto sem sua permissão.

Lágrima esta que não passou despercebida por Ele.

—Siegfried estava casado com uma mortal. Brunhilde não sabia, achou que ele a havia traído.... A questão....

A questão é que Siegfried também está morto. — interrompeu-a — E você está tendo sentimentos humanos demais. — indicou seus olhos. — A questão é que os dois falharam em quebrar a maldição do círculo dourado e agora o ouro ainda está lá, causando a discórdia entre todos os reinos e dimensões. Colocando em risco nossa existência. Estamos vulneráveis.

—Você não se importa que ela tenha sofrido antes de morrer? — sussurrou perplexa com as palavras. Nenhum arrependimento por ter deixado aquilo acontecer.

—Você estava lá para confortá-la no seu último suspiro. — falou estoico. — Assim como quando fez isso você também me desobedeceu. — recordou e ergueu Gungnir, sua lança, entre ambos. Seus movimentos eram decididos, sem em momento algum demonstrar vacilo ou arrependimento da decisão que estava prestes a tomar. — Você fala como se nós, deuses, ficássemos aqui sem fazer nada, como se nós não cuidássemos de manter a ordem no universo. Despreza minhas decisões e me questiona. Haverá consequências para você.

—Sempre há, não é mesmo? O Pai de Todos não passa de uma criança mimada que pune todos aqueles que não fazem suas vontades. — a Valquíria atalhou entredentes ao colocar a mão no cabo da Gungnir, esperando as próximas palavras que decretariam seu futuro e uma vez proferido sobre aquela lança, não poderia ser revertido.

—Você está banida para a Terra dos Homens, tornando-se uma deles, por sua desobediência, Mist. E por sua devoção a sua irmã, o dever dela agora se torna o seu. — decretou. — E o será de sua filha, da filha dela e assim por diante, até que a maldição seja quebrada.


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N/A: Olá, meus amores, como estão? E cá começamos com as repostagens dos novos capítulos. Estou levemente nervosa? Com toda certeza, rs. Eu só posso esperar que gostem do quem vem por aí (dedos cruzados aqui). 

Ah, e como nos velhos tempos, capítulo novo toda sexta-feira, okay?

Beijos e até mais!

Traiçoeiro (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora